Brasil 247
– Relator
da Ação Penal 470, Joaquim Barbosa já vinha sendo aplaudido em restaurantes
desde que aceitou a primeira denúncia sobre o mensalão, oferecida pelo
ex-procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. Na sexta-feira, na
posse do novo presidente do Superior Tribunal de Justiça, Félix Fischer, foi
chamado de herói pelo público ali presente. Humilde ao menos na aparência, ele
disse ser apenas um “barnabé”, um servidor público cumpridor das suas
obrigações.
Mineiro
de Paracatu, Joaquim Barbosa fez carreira no Ministério Público, estudou em
Paris e chegou ao Supremo Tribunal Federal por indicação do ex-presidente Lula.
É, sem sombra de dúvida, o símbolo maior da transformação que está em curso no
Poder Judiciário no Brasil. Uma mudança que tem, no julgamento da Ação Penal
470, um divisor de águas. Com as decisões até agora tomadas, o STF se torna
certamente mais popular e menos “garantista” – um termo usado por advogados e
juristas para definir a corte como o último refúgio dos direitos individuais
previstos na Constituição Federal.
Se o
filme vier a terminar com prisões de políticos graúdos, como José Dirceu, e
empresários, como Kátia Rabello, do Banco Rural, e Marcos Valério de Souza, da
agência DNA, Joaquim Barbosa será, certamente, uma das figuras mais populares
do País – e, durante certo período de tempo, mais louvadas pelos meios de
comunicação.
Terá,
portanto, uma plataforma pronta para se lançar a um eventual projeto político.
Rumores sobre suas ambições proliferam aos montes, em Brasília. O que Joaquim
Barbosa prontamente negará. Mas um de seus colegas, Carlos Ayres Britto, que
compete com ele pelo protagonismo no julgamento, já prepara, em segredo, uma
candidatura ao Senado Federal por Sergipe, seu estado natal.
Joaquim
Barbosa cumpriria ainda outro papel na política brasileira: o de quebrar,
definitivamente, os preconceitos no Brasil. Lula foi o primeiro presidente de
origem popular. Depois de sua posse, o filho de qualquer família humilde passou
a ter o direito de sonhar com a presidência da República. Dilma Rousseff, como
primeira mulher presidente, também quebrou um tabu. Será Joaquim Barbosa o
primeiro negro a chegar lá?
Curiosamente,
quem primeiro flertou com a possibilidade foi o delator do mensalão, Roberto
Jefferson. Segundo o presidente do PTB, Joaquim Barbosa “joga para a plateia”
e, por isso mesmo, seria um péssimo juiz e um ótimo candidato à presidência. A
ele, ofereceu até a legenda.