terça-feira, 25 de maio de 2021

GRENDENE MANTÉM OTIMISMO NA CONDUÇÃO DOS NEGÓCIOS

Neste dia 25 de Maio, em que é comemorado o Dia da Indústria, o Jornal do Comércio destaca entrevista com Rudimar Dall´Onder - CEO da Grendene. 

"Jornal do Comércio - Quais foram os principais desafios que a Grendene enfrentou neste período de pandemia?

Rudimar Dall’Onder - A pandemia do novo coronavírus é um momento desafiador para toda a sociedade brasileira e foi responsável por grandes transformações nos meios de consumo. Nesse contexto, a Grendene focou em garantir a saúde e a segurança dos seus colaboradores e em implantar ações para minimizar, tanto quanto possível, os impactos nas operações da companhia, dentre as quais: concessão de férias coletivas; prorrogação por 30 dias dos recebíveis do mercado interno; análise dos investimentos financeiros, não identificando-se desvalorizações subsequentes; produção de mais de 1,7 milhão de itens de proteção para profissionais da saúde e segurança em mais de 270 municípios, reforçando nosso papel de empresa cidadã. A pandemia ensejou uma paralisação generalizada nos diversos setores da economia, em especial no varejo de vestuário, os efeitos foram sentidos principalmente no primeiro semestre de 2020, devido ao fechamento do comércio físico (canal que concentra cerca de 85% das vendas do setor de calçados). Do ponto de vista socioeconômico, houve redução do poder de compra dos consumidores e da confiança do consumidor, principalmente para itens considerados não essenciais, em função do elevado nível de desemprego ou das iniciativas de redução de jornada de trabalho e consequente redução salarial, conforme previsto pela MP 936. O fechamento do comércio físico trouxe uma grande dificuldade aos lojistas e aos fornecedores de manterem seus negócios abertos. Ratificando a relação de parceria e de longo prazo, a Grendene apoiou seus clientes prorrogando recebíveis e embarques, assim como aceitando cancelamento de pedidos. 

Jornal do Comércio – Foi preciso parar em algum momento?

Dall’Onder - Um dos principais desafios foi a interrupção da nossa produção durante quase todo o segundo trimestre do ano passado, em função de 100% de nossa produção estar localizada no estado do Ceará e o referido estado ter sido um dos epicentros do coronavírus no País no período. Desta forma, tanto o Governo do Ceará como os municípios onde estamos presentes emitiram sucessivos decretos proibindo as atividades não essenciais no estado. Com isso, mesmo tendo pedidos para atender, não conseguimos em função da interrupção da produção. A escassez das matérias primas e a consequente pressão de custos advindas dos insumos também foi um dos grandes desafios que tivemos de gerenciar durante a pandemia. A parceria de longo prazo com nossos fornecedores e excelente gestão entre nossa área de suprimentos e fábrica nos permitiu bater recordes de produção diária no segundo semestre de 2020, mesmo diante deste cenário de escassez de matéria prima. Mas a Grendene se manteve bastante resiliente e conseguiu acelerar, a partir de agosto de 2020, seu processo de transformação digital - ações que estavam previstas para serem implementadas em um período de até dois anos, foram concluídas em dez meses.

JC - Quanto a Grendene investiu em 2020 e pretende investir em 2021?
Dall’Onder - Nos últimos anos, a companhia investiu em iniciativas com foco em melhorias na linha de produção, novas tecnologias, em energia renovável e no desenvolvimento de produtos de menor impacto. Entre 2017 e 2020 foi um total de R$ 304 milhões em investimentos. Desse montante, apenas em 2020 foram R$ 73 milhões. Para 2021, nossa previsão é fazer aportes de R$ 119 milhões.

JC - Como vê a situação do mercado externo para a empresa?
Dall’Onder - O mercado externo é um dos drivers de crescimento da Grendene. Mesmo sendo um dos maiores produtores de calçados do mundo, representamos cerca de 1% da produção mundial. Temos bastante espaço para crescer nossa participação no mercado internacional. A Grendene está trabalhando para avançar no mercado internacional, com projeto de expansão de suas lojas físicas em países como os Estados Unidos (que é o seu principal mercado internacional hoje) e China, por exemplo. Hoje a Grendene já conta com 20 mil pontos de venda no exterior e 65 mil no Brasil, e comercializa seus produtos por meio de representantes comerciais, distribuidores, exportações diretas. Por exemplo, inauguramos, em dezembro, a primeira unidade própria do Clube Melissa em Los Angeles, nos Estados Unidos, um dos principais mercados para a Grendene. Esse passo tem como objetivo principal o fortalecimento da marca no território internacional. As lojas do exterior também integrarão as estratégias de omnichannel já iniciadas no Brasil, que visam a construção de uma série de iniciativas para aprimorar o relacionamento da marca com o público, em todos os pontos de contato. A Grendene também pretende abrir outras nove unidades próprias nos Estados Unidos. O projeto de expansão também inclui três lojas físicas da marca na China.

JC - Como vê o ambiente de investimentos para o setor industrial?
Dall’Onder - O excesso de burocracia é um dos principais entraves para o desenvolvimento de negócios no Estado e no País. Precisamos gerar condições para criação de empregos, atrair investimentos e tornar a economia mais atrativa. Há um certo nível de desconfiança por parte dos investidores, principalmente, dos estrangeiros. Por conta da situação fiscal do País, das recentes intervenções do governo federal na Petrobras e no Banco do Brasil, da forma como o governo federal vem fazendo a gestão dessa crise sanitária, provocado pelo coronavírus, entre outros aspectos. A equação é clara: com um cenário ruim para os negócios, a economia também encontra dificuldades para deslanchar. O Brasil e o Rio Grande do Sul têm evoluído. A aprovação da MP da liberdade econômica, em 2019, é um exemplo. Porém ainda precisamos de: políticas para atrair investimentos, um ambiente de negócios atrativos, e regras fiscais que sejam simples e com um arcabouço jurídico que dê confiança ao investidor. Sem dúvidas, estamos em um período desafiador, mas a Grendene vem envidando todos os seus esforços para se manter na posição de liderança no mercado nacional, gerando valor para a sociedade e para os acionistas. Apesar do cenário de crise sanitária, muitas companhias, assim como a Grendene, estão buscando transformar desafios e oportunidades. Recentemente, foi publicada uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apontando que 82% das grandes empresas pretendem investir este ano. No Brasil, acreditamos que o segundo trimestre será o mais fraco do ano - em função do comércio fechado em abril e da alta da inflação -, mas seguimos otimistas nos resultados de 2021 que serão puxados pelo segundo semestre.

JC - Quais os caminhos para a retomada econômica neste ano?
Dall’Onder - Sem dúvidas, o avanço da vacinação é decisivo para a retomada do crescimento. Além de, compromisso do governo federal com o ajuste fiscal - respeito ao teto de gastos para evitar desvalorização cambial e inflação. Caso contrário, Banco Central terá de subir taxa de juros para combater a inflação; a aprovação de novas reformas estruturais, como a tributária; a desburocratização para facilitar, agilizar e favorecer ambiente de negócios; a adoção de medidas para conter o desemprego; e o apoio ao empreendedorismo. A Grendene vem vivenciando e acompanhando os movimentos gerados pela pandemia e o fluxo de vacinação no Brasil e no mundo. A ampliação do programa de vacinação nacional é um fator determinante para ajudar a conter a pandemia e, consequentemente, a retomada econômica. Além disso, geração de empregos, retomada da confiança do consumidor, e redução do custo Brasil são essenciais.

JC - Como foram os resultados de vendas ao longo da pandemia?
Dall’Onder - Encerramos 2020 em ritmo de recuperação. O resultado de julho a dezembro do ano passado amenizou a performance negativa do primeiro semestre, quando a operação da Grendene no Ceará foi paralisada por decretos que proibiram a retomada das atividades não essenciais por conta da Covid-19. Para se ter uma ideia, de outubro a dezembro de 2020, a companhia registrou receita bruta superior a R$ 1 bilhão, o melhor trimestre da história. Já neste ano, no primeiro trimestre de 2021, o nosso lucro líquido cresceu mais de 330% em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a R$ 129,2 milhões. Também registramos um aumento no volume de pares negociados de mais de 36%, atingindo 35,4 milhões nos três primeiros meses deste ano.

JC - Quais são as expectativas para uma recuperação de perdas? É possível ainda em 2021, ou deve ficar para 2022?
Dall’Onder - O desempenho do primeiro trimestre de 2021 foi bastante positivo. Foi o segundo melhor primeiro trimestre da nossa história, perdendo apenas para o primeiro trimestre de 2018. Acreditamos que o segundo trimestre seja o mais fraco do ano porque o comércio esteve fechado em grande parte do país durante abril. Mas, com a ampliação do ritmo da vacinação previsto para os próximos meses, assim como aconteceu no ano passado, o segundo semestre deverá puxar os resultados de 2021. Acreditamos que já em 2021 seja possível recuperar as perdas da pandemia." (Fonte: Jornal do Comércio)