A queda de braço entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o
ministro da Secretaria dos Portos (SEP), Leônidas Cristino - ambos do PSB - vai
além do impasse relativo ao futuro do Porto de Suape, no litoral sul
pernambucano, depois da aprovação de nova legislação para o setor. É parte de
uma celeuma partidária que envolve a possível candidatura de Campos à
Presidência da República em 2014 e cuja definição será decisiva na sucessão do
governador Cid Gomes (PSB) no Ceará.
O grupo político dos irmãos Ciro e Cid Gomes,
avalistas da indicação de Cristino para a SEP, está indignado com a
movimentação de Campos contra a Medida Provisória 595, que trata das novas
regras de concessão portuária no país. Pelas novas regras estabelecidas na MP,
Estados e municípios hoje gestores de terminais portuários perderão parte de
sua autonomia.
Em que pese compreenderem que o governador
pernambucano briga pelos interesses de seu Estado ao pedir que Suape fique fora
do novo marco regulatório, os cearenses avaliam que Campos "esticou a
corda" publicamente para contemplar suas aspirações políticas.
A discussão deu a Campos, argumentam, uma
vitrine nacional para se contrapor à presidente Dilma Rousseff, sem no entanto
precisar romper com o governo agora. Desde que o Executivo enviou ao Congresso
a MP dos Portos, em dezembro, o governador de Pernambuco é presença constante
no noticiário e tem buscado aproximação com políticos ligados à pauta
trabalhista, como o deputado Paulinho da Força (PDT-SP), contrários a vários
pontos da medida.
O problema é que Cristino, correligionário de
Campos, é um dos principais formuladores da MP, cuja aprovação é vista como
fundamental para que ele se coloque como candidato viável à sucessão de Cid no
Ceará.
Além disso, uma candidatura de Campos ao
Planalto por si só embola o xadrez da sucessão cearense. Como o PSB local teria
de apoiá-lo, o PT buscaria outro palanque para a presidente Dilma, que deve se
lançar à reeleição. Nesse cenário, o senador Eunício Oliveira (PMDB), hoje
aliado do PSB do Ceará, poderia romper para ser candidato ao governo e angariar
o apoio petista, em uma chapa forte o bastante para atrapalhar os planos do bem
avaliado Cid de fazer seu sucessor.
"Leônidas Cristino precisa decidir: ele é
Eduardo ou Dilma?", indaga sem rodeios o deputado federal Gonzaga Patriota
(PSB-PE), defensor de primeira hora da candidatura de Eduardo Campos. Ele nega
que o governador de Pernambuco alimente a discussão com vistas a lucrar
politicamente, mas garante que ele e a bancada pernambucana irão às últimas
consequências tirar Suape da MP. "A questão do porto está acima de qualquer
candidatura, inclusive de Cristino. Querem privatizar os portos de maneira
criminosa e vamos lutar no Congresso até o fim", diz o deputado.
A mudança nas regras de concessão não afetam o
Ceará de Cristino e Cid, já que o terminal portuário do Pecém está fora do
alcance da MP. Em dezembro de 1995, por meio de decreto da Assembleia
Legislativa do Ceará sancionada pelo então governador Tasso Jereissati (PSDB),
foi criada uma empresa de economia mista que recebeu a concessão para a
exploração portuária, funcionando como um porto privativo.
(Valor Econômico/Vandson Lima | De São Paulo)