Contexto: O Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) e a Advocacia Geral da União (AGU) criaram uma comissão composta por especialistas, incluindo juristas, servidores públicos, pesquisadores e acadêmicos. Este grupo tem até abril de 2025 para apresentar uma proposta de revisão do decreto, o qual possui 57 anos de vigência. Além disso, o MGI publicou a Portaria nº 5.127 em agosto de 2024, estabelecendo diretrizes para a reestruturação de cargos e carreiras no serviço público, representando o primeiro instrumento normativo significativo desde a Lei 8.112/1990, o Estatuto do Servidor.
Segundo José Celso Cardoso Jr., secretário de Gestão de Pessoas do MGI, o governo federal já está conduzindo uma reforma administrativa por meio de medidas infraconstitucionais e incrementais, como o concurso público nacional unificado e o dimensionamento da força de trabalho.
PEC 32 e visões sobre a reforma: A reforma em curso tem sido comparada à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 32, apresentada em 2020, que previa mudanças no regime dos servidores públicos, mas que não avançou no Congresso Nacional. Segundo especialistas, a PEC focava em aspectos fiscais e redução de gastos, enquanto a reforma atual busca um aprimoramento mais abrangente da administração pública, com foco em eficiência e qualidade no serviço oferecido à população.
Michelle Fernandez, professora da UnB, critica a PEC 32 por considerar que ela não abordava o papel do servidor público na implementação de políticas públicas. Sheila Tolentino, pesquisadora do Ipea e integrante da comissão, defende que a reforma administrativa deve se concentrar no impacto dos serviços públicos na sociedade, não apenas em cortes de gastos.
Desafios: O debate sobre o tamanho do Estado e a eficiência da máquina pública segue dividido. Por um lado, há quem argumente que o Estado está inchado, mas por outro, a sociedade demanda cada vez mais serviços públicos de qualidade. Estudos mostram que o Brasil possui uma proporção de servidores públicos inferior à de países da OCDE, com 11 milhões de servidores, representando menos de 13% da força de trabalho.
Félix Garcia Lopes Jr., sociólogo e pesquisador do Ipea, aponta para um paradoxo nas percepções sobre a burocracia estatal, destacando que, em momentos de crise como a pandemia, a administração pública se mostra crucial para a resolução de problemas coletivos.