BRASÍLIA - Polêmico e verborrágico. Amigos e inimigos do ministro da
Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, concordam que o baiano tem
essas características. Quem o conhece garante que ele não mede o tom, o
volume, nem tampouco poupa o interlocutor de palavrões.
—Ele
sempre erra na forma de falar. É impressionante. Ele chuta a canela,
levanta a voz. Mas ele é muito trabalhador. Fora do ambiente de trabalho
é bem humorado — conta um aliado político da Bahia.
Filho de
deputado, Geddel veio para Brasília ainda criança. Estudou em um dos
colégios mais tradicionais de Brasília, o Marista, onde foi colega de
Renato Russo, vocalista da Legião Urbana. Segundo a biografia do
vocalista da Legião Urbana escrita por Carlos Marcelo, "O filho da
revolução", Renato Russo dizia que Geddel era “insuportável”.
Na
vida política, Geddel nunca trocou de partido, permanecendo sempre no
PMDB. Amigo do presidente há décadas, Geddel é remanescente da bancada
liderada por Michel Temer no PMDB da Câmara desde os anos 1990.
— Não cai porque é da turma — resumiu ontem um peemedebista sobre a situação do ministro.
Da
turma, leia-se, do grupo mais restrito do presidente. Em 2010, em
perfil de Michel Temer publicado na revista Piauí, Geddel contou sobre o
início de sua aliança com o hoje presidente da República. Disse que fez
a primeira campanha de Temer para a liderança do PMDB, em 1995, e
mostrou que, desde aquela época, sua intimidade com o atual chefe já era
grande.
“Nós começamos a fazer a campanha do Michel, mas ele
estava de férias com a namorada, em Trancoso. Eu liguei e ele me disse
para fazer a campanha porque ele estava namorando. O Michel só é ousado
nas conquistas amorosas. Na política ele é muito ponderado”, contou o
então deputado federal Geddel Vieira Lima.
Outro próximo aliado do
ministro é o deputado cassado Eduardo Cunha (RJ). Eles compartilharam
por anos indicações nas diretorias da Caixa Econômica Federal.
Mas,
a relação entre Cunha e Geddel nem sempre foi harmoniosa. Em 2009,
protagonizaram um embate com dura troca de acusações, durante os
trabalhos da CPI dos Fundos de Pensão, comandada por Cunha, a quem
Geddel acusou de chantagem. Entre os adjetivos usados para classificar
seu colega de partido, Geddel usou o termo “lombrosiano”, usado para se
referir àquele que têm traços físicos de criminoso. Cunha respondeu,
afirmando que lombrosiano era o que Geddel via todos os dias quando se
olhava no espelho.
As ofensas ficaram no passado e, durante o
calvário de Cunha na Câmara, que culminou com a cassação de seu mandato e
depois com sua prisão, o então presidente da Casa recorreu diversas
vezes a Geddel. Em várias ocasiões, o ministro da Secretaria de Governo
falou de sua amizade com Cunha. Foi justamente para Geddel que o
deputado cassado telefonou para pedir socorro antes de ser preso, em
outubro deste ano.
Descrito pelo empresário Lúcio Funaro, preso na
Operação Lava-Jato, como “jacaré” e “carneirinho”, Geddel coleciona
apelidos da fauna: já foi chamado de “percevejo de gabinete” por Itamar
Franco – em referência a peemedebistas que se aliavam a governos em
troca de cargos – e de “suíno” por colegas de escola. Apontado como
operador financeiro de Eduardo Cunha, Funaro teve seu telefone grampeado
pela PF:
“Ele é boca de jacaré para receber e carneirinho para
trabalhar e ainda reclamão”, escreveu Funaro numa mensagem de texto a
Fábio Cleto, que foi diretor da CEF indicado por Cunha.
Já no
cargo de ministro, este ano, e enquanto muitos peemedebistas fugiam da
ligação com Cunha, Geddel esteve próximo do amigo até sua cassação,
mantendo as visitas e telefonemas. Um dia antes de Cunha ser afastado
pelos deputados, Geddel esteve na residência oficial da Câmara:
“Achei
que era meu dever encontrar um ser humano e prestar minha solidariedade
no momento dificuldade que ele está”, disse, na ocasião.
Em
janeiro passado, causou polêmica ao se defender de grampos que o ligam à
OAS, citando “putas e viados”. Ao ser questionado pelo GLOBO por troca
de mensagens com Léo Pinheiro, então presidente da empresa, e nas quais
aparece atuando a favor da empreiteira, Geddel afirmou:
“É claro
que hoje tem o fato de ele (Pinheiro) ter sido preso. Antes ele era
empresário, e eu tinha de tratar com todo mundo, com empresário, com
jornalista, com puta, com viado... Era coisa absolutamente natural”,
disse.
Hoje aliado político do prefeito de Salvador, ACM Neto,
Geddel tinha uma relação ruim com o avô, senador ACM, de quem ganhou o
apelido de percevejo. ACM também o chamava de “proxeneta”. Um amigo
conta que os dois nunca se bicaram. E que as rusgas chegaram ao limite
no início de 2001, quando ACM era presidente do Senado e Jader Barbalho
queria sucedê-lo, numa disputa que tomou contornos dantescos. Geddel
apoiava Jader. E ACM um dia passou a distribuir um vídeo intitulado
"Geddel vai às compras", no qual acusava Geddel e seus familiares de
comprado várias propriedades rurais e urbanas na Bahia e em Brasília,
insinuando que os negócios tinham sido feitos com dinheiro público.
_
ACM conseguiu imprimir na Bahia a pecha de que Geddel é ladrão. Tanto
que ele tem um teto e não consegue ampliar muito o número de votos que
tradicionalmente já tem _ conta um político baiano.
Geddel foi
deputado federal por cinco mandatos, mas depois viu sua aprovação nas
urnas cair consideravelmente. Em 2010 tentou ser governador da Bahia,
mas perdeu para Jaques Wagner (PT). Em 2014 se candidatou ao Senado e
também perdeu a disputa para Otto Alencar.
Em 1993, quando uma CPI
investigou a máfia do Orçamento, Geddel chegou a aparecer numa lista de
uma empreiteira ao lado de um percentual (4%). Seu nome nunca chegou a
figurar entre os envolvidos, no entanto, segundo parlamentares que
acompanharam o caso graças a um conchavo executado pelo então presidente
da Câmara, Luis Eduardo Magalhães (filho de ACM) para livrar aliados.
Geddel e Luís Eduardo eram amigos.
Convidado a ser ministro da
Integração Nacional no segundo governo de Luíz Inácio Lula da Silva, em
2007, após os anos de aliança com Fernando Henrique Cardoso, Geddel foi
um dos primeiros peemedebistas a aderir ao governo petista. Foi também
um dos responsáveis pela aproximação de Lula com Temer. Durante sua
passagem pelo Ministério da Integração Nacional, auditoria do Tribunal
de Contas da União apontou favorecimento ao estado da Bahia na liberação
de verbas para prevenção de catástrofes.
Quando foi escolhido por
Temer para assumir a articulação política, as reações no Congresso
foram negativas. Mesmo após anos afastado dos primeiros escalões do
poder, sua personalidade “truculenta”, como classificou o ministro
demissionário Marcelo Calero, ainda estava presente na memória dos
parlamentares. O frequente uso de palavrões e o pavio curto também são
citados por deputados e senadores como características que despertam
incômodo na relação.
Durante o governo Dilma Rousseff, antes de se
tornar um dos generais do impeachment, Geddel foi vice-presidente de
Pessoa Jurídica da Caixa, entre 2011 e 2013.
(O Globo)