Por Magno Martins – exclusivo para a Folha de Pernambuco
Além da perda do sono pela desastrosa relação do seu Governo com o Congresso, o presidente Lula terá que dar um chega pra lá entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o senador Renan Calheiros (MDB), desafetos em Alagoas, que têm transformado as redes sociais num ringue.
Em reação às tentativas de Lira em rifar Renan Filho, seu filho, no Ministério dos Transportes, o senador foi ao seu Twitter e subiu o tom: “Triste exemplo: Lira é caloteiro, costuma não pagar o que deve. Pior, desvia dinheiro público e bate em mulher – deu uma surra de 2h em Julyenne, a ex-esposa e mãe de seus filhos. Confesso que aprovei a Lei Maria da Penha pensando em punir meliantes como ele”.
Não se dando por satisfeito, voltou às redes e acrescentou: “Os podres de Lira vão se acumulando. Desvios, chantagens, achaques, golpismo, agressão contra a mãe dos filhos. Não é a inteligência artificial do ChaGPT que diz. É a própria vítima da covardia, Julyene Lins, que amplias as denúncias contra o caloteiro. Faltam 580 dias para ele sair”.
Arthur Lira, como bom alagoano, ficou furioso com os tuítes, inclusive porque o STF decidiu que ele não batia na ex-mulher, ao rejeitar a acusação de violência doméstica contra o deputado. Segundo o site Metrópoles e outros jornais, o presidente da Câmara mandou dizer a Lula, por meio de interpostos aliados, que, se o ministro dos Transportes, Renan Filho, filho de Renan Calheiros, continuasse no governo, a vida do presidente petista na Câmara ficaria mais difícil do que já está.
No Twitter, Arthur Lira disse que não pediu a cabeça do ministro coisa nenhuma, mas que exige respeito! (bem exclamativo). A gente sabe que ninguém pede a cabeça de ninguém em Brasília”, disse. Só para constar, Renan Calheiros nunca foi acusado de bater em mulher. Na seara doméstica, ou nas adjacências dela, o senador foi acusado apenas de receber dinheiro de notório lobista de empreiteira, para pagar a pensão a uma filha que teve fora do casamento. Em troca, o senador fazia emendas que beneficiavam a empresa que repassava recursos ao lobista, dizia a acusação.
A rivalidade entre o deputado e o senador tem raízes na política alagoana; ambas as famílias estão entre as mais poderosas do Estado, sendo que o round local mais recente deu vantagem aos Calheiros: o governador reeleito Paulo Dantas (MDB) é aliado do ministro dos Transportes e de Renan “pai”, e chegou ao poder derrotando o candidato dos Lira, Rodrigo Cunha (União Brasil).
No contexto nacional, uma conjuntura importante que reforça a rivalidade entre os dois alagoanos é que Renan é mais próximo de Lula, enquanto Lira possui vínculos mais estreitos com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), embora tenha calibrado o discurso para garantir o apoio de aliados de Lula na corrida para se reeleger presidente da Câmara.
Apesar da gestão passada também ter enfrentado desafios para conseguir se articular no Congresso, a gestão petista já acumula recorde de CPIs em início de mandato e duras derrotas no Parlamento, em especial entre os deputados.