O
ministro da Saúde, Henrique Mandetta, fez questão de deixar claro ao presidente
Jair Bolsonaro, na reunião
desta segunda-feira (6), que contou com ministros de Estado,
saber que sua saída do governo não é uma questão de "se", mas de
"quando". Perguntou ao chefe do Executivo se o presidente não queria
tirá-lo já do cargo e disse que ele, Mandetta, poderia ajudar a encontrar um
substituto.
Mas reforçou que a única opção que não daria ao
presidente seria pedir demissão. Contou ao presidente que aprendeu com o pai,
de 89 anos, a frase de que médico
não abandona paciente. E foi enfático: a discussão ali não era
sobre se Mandetta ficaria ou não no governo, mas quando sairia.
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O ministro disse aos presentes que não
quer ficar até o final do governo, tampouco o presidente o quer até o fim:
então, que chegassem a um entendimento. Mas, enquanto estivesse no governo,
faria oposição às ideias que não têm lastro científico: por exemplo, o uso
de cloroquina para tratamento do coronavírus, tema que dominou boa parte da agenda
do ministro nesta segunda (6).
Em meio à indefinição
sobre sua permanência no governo, Mandetta foi puxado para uma
reunião paralela nesta segunda (6) no Planalto, com a presença de ministros e
de uma médica que defende o uso do medicamento para casos de coronavírus.
Quando chegou lá, Mandetta observou um papel e um decreto redigido, com termos
em que a pessoa que assinasse poderia usar a cloroquina contra o coronavírus.
Mandetta
entendeu — mesmo sem o timbre oficial da Presidência — que aquela conversa,
dentro do Palácio do Planalto, com ministros de Estado, era uma reunião para
que o uso de cloroquina fosse chancelado pelo governo federal, nos moldes de
uma receita. Ou seja: uma decisão política para uma questão científica. Diante
da insistência da médica, Mandetta repetiu duas vezes aos presentes que não
assinaria decreto algum como autoridade de Saúde do governo.
Para o ministério da Saúde,
o presidente quer agradar ao chamado “gabinete de ódio”, a ala ideológica do
governo que quer a sua demissão.
Na reunião com o presidente, Mandetta disse que não
conhecia quem o assessorava na área de Saúde.
Política
Além das diretrizes técnicas, o
ministro irritou o governo pois se reuniu com a cúpula do Congresso nos últimos
dias. O Planalto não gostou porque acha que Rodrigo Maia e Davi
Alcolumbre estão fazendo críticas ao presidente na condução
das medidas contra o vírus, o que o desgasta politicamente. Mandetta disse ao
presidente que se reunirá com os presidentes
da Câmara e do Senado que estiverem sentado no cargo, seja
quem forem, uma vez que faz parte do trabalho institucional — e que, no caso
específico de Alcolumbre, estava acompanhando a recuperação do amigo que foi
diagnosticado positivo com coronavírus, já de alta.
Também
incomodou o Planalto a participação do ministro numa live no sábado da dupla
sertaneja Jorge e Mateus.
O ministro repetiu a
aliados que todos assessores que o presidente acha que tem pretensões
eleitorais é um problema, uma espécie de paranoia presidencial. E que tem
relação com vários músicos.(Andréia Sadia - G1)