Por Herbert Lobo do IGC
A saúde pública brasileira enfrenta desafios históricos: desigualdade no acesso, demora em atendimentos especializados, escassez de recursos e ineficiências operacionais. Em meio a esse cenário, a gestão inteligente de dados surge como uma ferramenta estratégica capaz de transformar o Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo equidade, agilidade e sustentabilidade. Essa, pelo menos, é nossa luta diária: acreditar e trabalhar para isso.
Aqui no Instituto de Gestão e Cidadania, instituição que fundamos há 10 anos, temos um norte: apoiar o máximo possível de decisões e soluções em números, em dados, o que muitas vezes precisa enfrentar outras culturas comportamentais. Mas essa resistência também se ancora em dados. Veja, segundo o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), cerca de 72,6 milhões de brasileiros — 34% da população — não têm acesso à atenção básica 1.
Esse dado alarmante, além de revelar a urgência de soluções que ampliem a cobertura e melhorem a gestão dos serviços, mostra que a educação para compreender os problemas também é um impeditivo forte.
De qualquer forma, a criação da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), instituída pelo Ministério da Saúde em 2020, representa um marco na integração de informações entre unidades públicas e privadas. A RNDS permite o compartilhamento seguro de dados clínicos, históricos de atendimento e prontuários eletrônicos, promovendo diagnósticos mais precisos, continuidade do cuidado e redução de redundâncias.
Essa integração já mostra resultados concretos. Durante a pandemia de COVID-19, a RNDS foi essencial para o controle sanitário, permitindo o rastreamento de casos e a gestão de vacinas em tempo real. Além disso, a plataforma fortalece a tomada de decisões baseada em evidências, otimizando o uso de recursos públicos e reduzindo desperdícios.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 revelou que apenas 66,6% dos homens realizaram consultas médicas, e 17,6% sequer buscaram atendimento. Mais uma vez a educação, em compreensão ampla, se fazendo ausente. A desigualdade é ainda mais acentuada nas regiões Norte e Nordeste, onde o acesso é limitado por fatores socioeconômicos e geográficos. A análise de dados permite identificar essas lacunas e direcionar políticas públicas mais eficazes e regionalizadas.
Esses modelos demonstram que a boa gestão de dados não é apenas uma questão tecnológica, mas uma política de saúde pública. Pelo lado econômico, além de melhorar o acesso e a qualidade do atendimento, a gestão eficiente de dados tem impacto direto na redução de custos operacionais. Estima-se que a digitalização pode gerar economias de até 20% nos gastos com saúde, ao evitar exames duplicados, internações desnecessárias e erros médicos.
Em síntese, investir em dados é investir em vidas. A transformação digital da saúde pública brasileira exige vontade política, capacitação profissional e infraestrutura tecnológica. Mas os benefícios — em acesso, eficiência e sustentabilidade — são inegáveis. O futuro da saúde no Brasil passa, inevitavelmente, pela inteligência dos dados.
(OPOVO)