Com a pandemia da Covid-19, a empresa teve de se adaptar ao cenário vivido por boa parte dos setores produtivos, com lojas fechadas e produções paradas em, pelo menos, metade do ano passado. Os impactos da crise sanitária levaram a companhia a adotar medidas rápidas – da sustentabilidade à transformação digital.
Uma das principais iniciativas foi a internalização da operação do e-commerce nacional e internacional de todas as marcas do grupo para impulsionar as vendas online. A ação começou em agosto do ano passado e já está sob a gestão das marcas Melissa, Zaxy, Ipanema, Grendene Kids e Rider Brasil, além do e-commerce B2B. A expectativa é concluir a migração de todas as marcas ainda no primeiro semestre de 2021.
O processo, no entanto, já impactou os resultados do quarto trimestre, quando a companhia registrou crescimento de 400% nas vendas das marcas que migraram para a gestão própria em comparação ao mesmo período do ano anterior. Somente na Black Friday e no mês de dezembro, os canais online de Zaxy e Melissa USA, as primeiras marcas internalizadas, avançaram 117% e 380%, respectivamente.
O investimento em transformação digital ganhou força ao longo dos últimos meses de 2020 à medida que uma parcela cada vez maior dos consumidores passou a comprar online – hábito que deve ser mantido após a pandemia, na avaliação da Grendene.
Outra ação implementada em 2020 foi a criação do laboratório de inovação Bergamotta Works, pensado para desenvolver e testar soluções que aproximem pessoas e negócios sustentáveis. A iniciativa foi fundamental para estruturar uma das mais recentes apostas da Grendene, o projeto de vending machine, as máquinas automáticas instaladas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e nos Estados Unidos em dezembro, para comercialização de produtos da marca Ipanema.
Atualmente, o foco está na jornada pela sustentabilidade e na busca, mais uma vez, por uma revolução na indústria calçadista brasileira, com metas ambiciosas para o futuro, como expandir os seus negócios no mercado internacional, avançar no uso de energia de fonte renovável nas suas fábricas, ampliar a utilização de matéria-prima de origem renovável nos produtos e alcançar a neutralidade de carbono.
Um problema na cadeia produtiva também acabou beneficiando a operação da Grendene ao longo de 2020: a escassez de matéria-prima. Com medo de desabastecimento nas principais datas do varejo no quarto trimestre – Dia das Crianças, Black Friday e Natal -, os lojistas acabaram concentrando seus pedidos em grandes fabricantes de calçados. Houve, ainda, uma mudança no perfil de compra dos consumidores, que optaram por produtos como chinelos de dedos, gáspeas e papetes, mais confortáveis, em detrimento de outras categorias.
Em comunicado enviado à Forbes, Rudimar Dall’Onder, presidente da companhia, diz que as conquistas alcançadas até aqui já colocam a empresa em outro patamar. “Hoje estamos muito mais próximos dos consumidores e na vanguarda do setor calçadista. Conseguimos ir além da fabricação de calçados: fomentamos debates sobre consumo consciente e influenciamos processos industriais da nossa cadeia de valor. São ações colaborativas que permitem à Grendene transformar essas questões em produtos que não estão só nos pés dos consumidores, mas que fazem parte de todo um contexto sustentável, de mudanças de hábitos”, diz.
IMPACTO NOS RESULTADOS
Os resultados financeiros da companhia indicam que as iniciativas adotadas às pressas surtiram efeito. A empresa encerrou 2020 em forte ritmo de recuperação, amenizando os efeitos provocados pela pandemia nos resultados financeiros do primeiro semestre de 2020. De outubro a dezembro, registrou receita bruta superior a R$ 1 bilhão, o melhor trimestre da história da companhia.
O volume de pares de calçados vendidos alcançou expressivos 62,1 milhões devido ao sólido desempenho das marcas nos diversos canais de vendas. O mercado doméstico foi o principal responsável pelo incremento na performance, segundo Alceu Albuquerque, diretor de relações com investidores da Grendene.
“O desempenho positivo é reflexo também de fatores como receptividade das coleções primavera/verão pelos nossos clientes, flexibilização das medidas restritivas ao comércio nos mais variados formatos de pontos e canais de vendas do país e prorrogação do pagamento do auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal”, diz o executivo.
Segundo Albuquerque, a receita bruta e o volume de pares vendidos recuaram 7,1% e 3,6% respectivamente, em 2020 na comparação com 2019, enquanto o lucro bruto totalizou R$ 874,5 milhões, equivalente a uma margem bruta de 46,1% superior à de 2019. Já a receita líquida encolheu 8,4%.
“O resultado de julho a dezembro amenizou a performance negativa do segundo trimestre, quando a operação da Grendene foi impactada pelos decretos do Ceará que proibiram a retomada das atividades não essenciais para combater a disseminação da Covid-19”, explica o executivo.
A empresa fechou 2020 com 20,2% de market share, um crescimento de 3,6%, e registrou uma redução de 3,6% no volume de pares – índice muito inferior à queda da produção do setor, de 25%.
Nos últimos 12 meses, o lucro líquido contábil recuou 50,5%, para R$ 405,2 milhões, uma margem líquida de 21,4%. Ao desconsiderar os itens não recorrentes, o lucro líquido recorrente totalizou R$ 468,6 milhões, queda de 2,1% em relação a 2019. A companhia encerrou o ano com caixa de R$ 2 bilhões, mantendo sólida situação financeira.
“Apesar das dificuldades enfrentadas ao longo de 2020, a Grendene, mais uma vez, demonstrou ser resiliente em períodos turbulentos e conseguiu emergir ainda mais forte, ganhando, inclusive, participação de mercado. Encerramos o ano com perspectivas positivas para 2021 e confiantes em nossos resultados”, diz Albuquerque.
Para efeito de comparação, vale lembrar que o ano passado foi de dificuldades para todos os players do setor nacional calçadista. Dependente do mercado interno, responsável por 85% das vendas, a indústria viu sua produção cair 27%, até outubro, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro Geografia e Estatística).
No final do ano, a queda diminuiu um pouco e ficou em torno de 25%, levando o setor ao patamar produtivo de 16 anos atrás – cerca de 650 milhões de pares. Esse decréscimo, segundo a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), foi influenciado também pelas exportações, que até novembro caíram 19,4% (para 84,48 milhões de pares).
Um depoimento do presidente-executivo, Haroldo Ferreira, no site da entidade, credita à crise sanitária a queda no setor, que encerrou 2020 com 250 milhões de pares e 20 mil postos de trabalho a menos. Mas ele tem boas perspectivas para este ano, mesmo com o cenário de incertezas.
“Ao observar os últimos meses de 2020, a tendência é de recuperação se levarmos em consideração a vacinação e a normalização do comércio físico, do qual ainda somos dependentes”, explica Ferreira, ressaltando que a previsão é de um crescimento de 19% ao longo de 2021.
FUTURO
Na avaliação da companhia, as rápidas iniciativas de adaptação ao cenário vivido no país ajudaram na redução dos impactos da pandemia ao longo de 2020. E as perspectivas são melhores para 2021.
As ações com foco em transformação digital, por exemplo, são essenciais para os planos que a empresa tem no exterior. No último ano, a Grendene deu um passo importante ao lançar a primeira unidade própria da Melissa na Califórnia (Los Angeles), nos EUA, atualmente um dos principais mercados para a empresa.
Hoje, todos os calçados produzidos pela empresa em suas cinco unidades industriais distribuídas pelo Ceará, Bahia e Rio Grande do Sul já são veganos, 100% recicláveis e com até 38% de material reciclado pré-consumo na composição. Os 250 milhões de pares produzidos todos os anos para homens, mulheres e crianças alcançam 65 mil pontos de venda no Brasil e 60 mil no exterior.
(Forbes)