segunda-feira, 30 de junho de 2025

TRAGÉDIA ANUNCIADA NO SÃO JOÃO DE SOBRAL: ATÉ QUANDO A NEGLIGÊNCIA SERÁ NORMALIZADA


morte da jovem Jussilene Mendes de Souza, no último sábado (28/6), durante os festejos juninos em Sobral, é mais do que uma fatalidade: é uma tragédia anunciada, resultado direto da negligência, da má gestão e do desrespeito à vida humana. A cidade, que se preparava para celebrar o São João com música e tradição, foi abruptamente confrontada com uma realidade dolorosa e revoltante.

Jussilene foi vítima de uma descarga elétrica ao tentar se proteger da chuva intensa que caía sobre a arena montada no Aeroporto de Sobral. A estrutura precária das barracas, disponibilizadas pela organização do evento para os ambulantes, não resistiu às intempéries. O mais grave é que, uma vendedora ambulante havia denunciado, horas antes da tragédia, o risco iminente de acidentes por conta da água em contato com a rede elétrica. E o que foi feito pelas autoridades? Nada.

O episódio escancara uma sucessão de erros. A falta de fiscalização técnica, a ausência de protocolos efetivos de segurança e o desprezo pelas condições de trabalho dos ambulantes criaram o cenário perfeito para o desastre. O que deveria ser festa virou luto.

Diante da comoção, a prefeitura de Sobral divulgou uma nota pública assinada pelo prefeito Oscar Rodrigues. Mas o conteúdo, longe de acolher ou demonstrar empatia, soou burocrático, genérico e vazio. Um texto frio, provavelmente elaborado pela assessoria, que se limitou ao “protocolo do desastre”: pesar, promessas vagas de apuração e, pasmem, a suspensão das atividades entre domingo e terça-feira “em respeito ao luto”. Ora, nesse intervalo, nem sequer havia programação oficial prevista no local. A suspensão, portanto, nada teve de ato simbólico; foi só uma jogada retórica para tentar limpar a imagem da gestão.

A morte de Jussilene não pode ser esquecida nem tratada como mais um acidente em meio ao calendário festivo. A jovem era mãe, filha, irmã, cidadã. Sua vida tinha valor. E sua morte precisa gerar consequências.

Sobral exige:

  • Responsabilização dos organizadores e gestores do evento;

  • Indenização justa à família da vítima;

  • Revisão completa das condições estruturais e elétricas dos eventos públicos da cidade;

  • Respeito aos ambulantes, que são parte essencial das festas, mas tratados como invisíveis pela administração.

A cultura popular nordestina merece ser celebrada, sim. Mas com dignidade, segurança e responsabilidade. Que a morte de Jussilene Mendes não entre para a estatística das tragédias ignoradas. Que ela nos acorde — como sociedade e como eleitores — para o que realmente importa: o valor da vida humana.


(Blog Sobral em Revista)