segunda-feira, 25 de março de 2013

POR FÁBIO CAMPOS: “NO RASTRO DO SANGUE, O VEXAME OFICIAL”


Em Fortaleza, o que já era ruim está piorando muito. Definitivamente, a violência assume patamares escandalosos. Desde o início do ano da graça de 2013, 444 pessoas foram assassinadas na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. A cada santo dia, uma média superior a cinco homicídios. Nesse ritmo, chegaremos ao final do ano com mais de dois mil assassinatos. Uma guerra fratricida. No ano passado, foram mortas 1.628 pessoas na antes pacata capital cearense. Uma média superior a quatro homicídios por dia. Já eram números assustadores e indecentes. No rastro de sangue dos números de 2013, aflorou o vexame oficial. Ao ser confrontado com as estatísticas, o secretário da Segurança, Francisco Bezerra, reagiu da pior maneira possível. Ou seja, não assumiu nenhuma responsabilidade pela situação e ainda responsabilizou terceiros. O secretário Bezerra culpa pelas mortes a ex-prefeita Luizianne Lins, que, segundo ele, não adotou políticas para contemplar os jovens, a sociedade, que não baixa a maioridade penal, e, claro, a imprensa, que comete o supremo abuso de “requentar (o assunto) todos os dias”. Na reportagem do O POVO que expôs a tragédia, o diretor-adjunto da Divisão de Homicídios (DHPP), delegado Franco Pinheiro, não se esquivou das perguntas e foi ao ponto. Para começo de conversa, disse que cada um dos oito delegados dessa delegacia especializada cuida, em média, de 36,2 casos de homicídios. É óbvio que um delegado não pode investigar 36 casos de assassinatos ao mesmo tempo. Dessa forma, perdura a impunidade. Na impunidade, o crime passa a ser um bom negócio. A ciranda da morte se fortalece. Vejam mais essa declaração do delegado Franco: “Nossas investigações andam a passos curtos, apesar do volume dos investimentos feitos pelo Estado. Acredito que a forma de investir não foi a mais adequada... Muitas vezes temos que deixar um local de crime rapidamente e partir para outro”. A avaliação do delegado, homem de dentro do aparelho de segurança, é surpreendente dentro de um Governo que engavetou o discurso da segurança pública desde o fatídico 3 de janeiro de 2012, dia em que Fortaleza parou e o Governo ficou rendido a uma greve ilegal de policiais. Responsabilizar terceiros pelos acontecimentos é um sintoma clássico de uma política de segurança que está perdida, sem rumo. Não há respostas efetivas do Governo para combater o aumento dos índices de criminalidade. O Ronda envelheceu e foi engolido pela velha polícia. O sonho de uma polícia comunitária ficou retido dentro das caríssimas Hilux, com seu ar-condicionado, seus bancos de couro e sua tração 4x4 que jamais será acionada. Um camburão de luxo. (Da Coluna de Fábio Campos – Opovo)