quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

BOLSONARO: COMO AGE UM POLÍTICO RESSENTIDO QUANDO CHEGA AO PODER

Sugiro que se revisite constantemente os 90 minutos de gravação de parte do que foi dito por Bolsonaro e seus meliantes na reunião ministerial de 5 de julho de 2022, a três meses da eleição presidencial.

Há muitas lições a extrair-se dali. A principal, talvez: à cabeceira da mesa gigante de uma sala do Palácio do Planalto, estava uma pessoa que nunca se sentiu valorizada por seus semelhantes, civis e militares.


Naquela ocasião, uma das primeiras falas de Bolsonaro foi justamente sobre isso, por mais que ele tenha tentado disfarçar o ato confessional com o acréscimo da expressão “cagada do bem”. O que ele disse:

"Essa cadeira aqui é uma cagada estar comigo, uma cagada. Não vai ter outra cagada dessa no Brasil, cagada do bem, para deixar bem claro. Como é que alguém vai eleger um deputado fodido como eu? Um deputado de baixo clero, escrotizado dentro da Câmara, sacaneado, gozado, uma porra de um deputado”.

Quem se trata assim revela toda a carga de ressentimento que carregou por muitos anos, e ainda carrega. A declaração não trai o orgulho de quem superou as dificuldades; ele ainda se sente rejeitado até hoje.

Bolsonaro candidatou-se a presidente porque concluiu que nada mais tinha a fazer na Câmara depois de cinco mandatos como deputado federal do baixo clero, e que por sua insignificância quase nada fizera.

Estava de saco cheio. Não era ouvido. Não o levavam a sério. Era obrigado a apelar para a estridência como meio de chamar a atenção da imprensa – mas ela só lhe dava bola à falta de assuntos. Que assuntos? Qualquer outra coisa.

De resto, Bolsonaro candidatar-se a presidente beneficiaria a carreira dos seus filhos, que sem ele não iriam a lugar algum – um vereador do “partido do papai”; o outro, deputado estadual; o terceiro, deputado federal.

(Blog do Noblat)