quarta-feira, 3 de setembro de 2025

COM BOLSONARO ENFRAQUECIDO, CENTRÃO ADERE À ANISTIA, MAS COBRARÁ CARO

Até a reunião de líderes da Câmara desta semana, a pauta da anistia era um assunto mais restrito à direita bolsonarista e não emplacava diante da resistência de líderes do Centrão que a considerava produto do motim de deputados que impediu a retomada do presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) do seu posto na Câmara.

Nesta terça-feira, 2, enquanto o STF (Supremo Tribunal Federal) iniciava o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) e do núcleo crucial da tentativa de golpe de Estado, o projeto ganhou adesões, animando o PL. O União Brasil e o PP, unidos na federação União Progressista, e o Republicanos, partido de Motta e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, declararam apoio à pauta. Foi um movimento das principais legendas do centrão.

Esse apoio pode custar caro ao ex-presidente, hoje combalido pelo julgamento que deverá resultar na sua condenação e prisão. Ao se mostrar disposto a entregar a anistia a Bolsonaro, o Centrão não fará isso de graça, da mesma forma que nunca entregou de graça a aprovação de projetos de interesse do governo, levando cargos e emendas a cada votação.

Em troca de dar a Bolsonaro a chance de salvar a pele ou minimizar a punição para seus seguidores que participaram do 8 de janeiro, o Centrão quer tomar da família Bolsonaro o protagonismo dentro do campo da direita e espera, para isso, o apoio do ex-presidente para Tarcísio, o nome já escolhido pelo grupo para encarnar a disputa que deve se dar contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro sabe que, no momento em que avalizar a candidatura de Tarcísio, entrará em crise familiar, contando com a revolta dos filhos, principalmente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se encontra nos Estados Unidos e, de lá, reivindica a candidatura para o sobrenome Bolsonaro. O ex-presidente sabe, também, que colocará em jogo seu domínio no campo da direita. Neste sentido, enfraquecido pela inelegibilidade e pela iminente condenação e prisão, o ex-presidente pode se tornar uma vítima do Centrão.

Passagem por Brasília
Tarcísio passou esta terça-feira, 2, em Brasília emitindo sinais de que emprega seu prestígio em favor da pauta bolsonarista. Na tarde de segunda-feira, 1, já na capital, postou foto com o presidente de seu partido, o deputado Marcos Pereira (SP), na qual informava que o café-da-manhã que os dois tomaram no Palácio dos Bandeirantes tinha como “cardápio” a anistia. O governador, porém, não esteve com Bolsonaro nesta terça.

O governador de São Paulo também buscou Motta, mas apesar de serem do mesmo partido, o presidente da Câmara disse a interlocutores que fazia questão de deixar bem separado o governo de São Paulo e o trabalho na Câmara dos Deputados, resistindo a tratar do assunto com Tarcísio. Foi uma forma de não associar uma decisão que cabe exclusivamente ao comando da Câmara à empreitada eleitoral do governador.

Nesse sentido, Motta preferiu não dar garantias de que pautará a proposta, mesmo após o término do julgamento. Levou em conta o temor de que a decisão de pautar a proposta possa significar uma afronta ao STF, justamente no momento em quem a corte inicia o julgamento do ex-presidente e de seu núcleo mais próximo.

(PlatoBR)