Quase
metade das viagens internacionais feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva após deixar o governo foi bancada por grandes empreiteiras com interesses
nos países que ele visitou. Todos eles ficam na América Latina e na África, de
acordo com documentos oficiais obtidos pela Folha. As duas regiões
foram prioridades da política externa do petista em seus dois mandatos. A
assessoria do ex-presidente diz que ele trabalha para promover 'interesses da
nação' e não das empresas que bancam suas atividades.
Dois procuradores da República, um delegado federal, um juiz e dois
advogados disseram àFolha que não há, a princípio, irregularidades
nas viagens por não haver lei sobre a atuação de ex-presidentes.
Mas políticos e empresários familiarizados com as andanças de Lula
disseram à Folha que ele ajudou a alavancar interesses de
gigantes como Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht nesses lugares.
Um telegrama diplomático de novembro do ano passado, enviado ao Itamaraty
pela embaixada do Brasil em Moçambique após uma visita de Lula, diz que ele
ajudou empresas brasileiras a vencer resistências locais ao 'associar seu
prestígio' a elas.
Desde 2011, Lula visitou 30 países, dos quais 20 ficam na África e
América Latina. As empreiteiras pagaram 13 dessas viagens. Na última
terça-feira, Lula iniciou novo giro africano, começando pela Nigéria, e
patrocinado por Odebrecht, OAS e Camargo.
O Instituto Lula não informa os valores que recebe das empresas.
Estimativas do mercado sugerem que uma palestra no exterior pode render a Lula
R$ 300 mil, sem contar gastos com hospedagem, comida e transporte.
Os nomes dos financiadores das viagens de Lula aparecem nos telegramas
diplomáticos obtidos pela Folha.
As empresas negam ter pago as viagens de Lula para que ele defendesse
seus interesses.