quarta-feira, 19 de novembro de 2014

PROPINA: CORRUPTO DE US$ 100 MI JÁ NÃO TEM MAIS NADA A PERDER

Rio 247 - O maior corrupto já descoberto no Brasil gostava de frequentar um oásis, no Rio de Janeiro. Pedro Barusco, gerente-executivo da Petrobras, era frequentador assíduo do Gávea Golf & Country Club, fundado por ingleses, na Cidade Maravilhosa, em 1920.
Entre uma tacada e outra, era lá que Barusco gostava de degustar vinhos caros e charutos raros. E quem o visse por ali jamais imaginaria que aquele personagem, com pinta de grã-fino, era apenas um executivo de terceiro escalão da Petrobras.
Barusco ganhou notoriedade depois de ter sido delatado por Julio Camargo, da Toyo Setal. No curso da Operação Lava Jato, descobriu-se que ele amealhou propinas estimadas em US$ 97 milhões, o equivalente a R$ 252 milhões, que serão devolvidos à sociedade.
Ex-braço direito de Renato Duque, na diretoria de Serviços da Petrobras, Barusco aceitou a delação por duas razões. A primeira, porque as provas eram incontestáveis e algumas de suas contas na Suíça já estavam bloqueadas por autoridades internacionais. A segunda, porque enfrenta um drama pessoal: a luta contra um câncer.
Sua delação premiada, que já começou a ser conduzida pela advogada Beatriz Catta Preta, a mesma que atuou no processo de Paulo Roberto Costa, hoje assusta mais o mundo empresarial do que político. No PT, ele é relativamente pouco conhecido e há a percepção de que agia por motivações privadas – e não partidárias.
No campo empresarial, no entanto, Barusco é um personagem de primeira grandeza, próximo a grandes nomes do PIB nacional. Enquanto esteve na Petrobras, ele foi o responsável pelos contratos de afretamento de sondas e plataformas. Nessas operações, quem mais se beneficiou foi o grupo Schahin, que fechou contratos de mais de R$ 15 bilhões com a estatal.
No início de 2011, no entanto, ele deixou a Petrobras para trabalhar no setor privado, mas numa empresa de atuação quase paraestatal. Liderada pelo BTG Pactual, do banqueiro André Esteves, e capitalizada por fundos de pensão estatais, nasceu naquele ano a Sete Brasil. Uma empresa que tinha como missão explorar as potencialidades do pré-sal, produzindo, no Brasil, sondas e plataformas de petróleo.
Esta empresa foi fruto de uma complexa amarração, que unia os investidores aos fornecedores de infraestrutura no Brasil, como a Odebrecht Óleo e Gás e a Queiroz Galvão – duas empreiteiras também atingidas pelas denúncias da Lava Jato. Barusco, por sua vez, era o elo de ligação entre a Sete Brasil e a Petrobras.
Antes de migrar do setor público para o privado, ou paraestatal, ele amarrou contratos de aquisição de sondas e plataformas junto à Sete Brasil. Assim, a empresa nasceu com encomendas de mais de R$ 80 bilhões junto à Petrobras. O objetivo era criar uma grande indústria naval brasileira, tendo como fiador dessa relação entre o público e o privado o homem que amealhou quase US$ 100 milhões em paraísos fiscais.
Em 2013, já diagnosticado com problemas de saúde, Barusco deixou a Sete Brasil. A presidência e a diretoria de operações, que era o cargo de Barusco, foram ocupadas por dois executivos egressos do grupo Schahin: Luiz Eduardo Carneiro e Renato Sanches.
Barusco iniciou seu tratamento, mas continuou jogando golfe, apreciando vinhos e fazendo viagens ao exterior. Agora, quando se viu sem saída, e sem mais nada a perder, contratou a advogada Beatriz Catta Preta.
Sua delação, repita-se, assusta mais o mundo empresarial do que político.