“Cid é previsível e não muda a palavra dada”. A frase, de um aliado que conhece a fundo o comportamento do senador, hoje no PSB, tenta diferenciá-lo dos irmãos políticos Ciro, Ivo e Lia, numa perspectiva de assegurar a presença dele no palanque governista do Ceará. Ou seja, mesmo que o mais velho da prole decida disputar o Palácio da Abolição pela oposição e arraste consigo os dois mais novos, a tendência é que não o tenha ao seu lado. Trata-se, hoje, do movimento pré-eleitoral que mais gera expectativa na montagem de cenários para 2026.
Há muita especulação, no momento, em torno do nome do ex-deputado estadual e ex-prefeito de Sobral, Ivo Gomes. Enigmático como marca comportamental, ele está colocado no centro de especulação, à qual tem respondido com um silêncio perturbador, de uma provável troca do PSB pelo PSDB. Ou seja, acompanharia o irmão na mudança para o lado oposicionista, certamente um golpe no governismo.
A coluna apurou que, de fato, há conversas entre forças tucanas e o caçula dos irmãos Ferreira Gomes, entre os homens. Ivo seria fortemente influenciado na política por Ciro, conforme gente que conhece bem a dinâmica familiar, não parecendo um absurdo que apareça em seu palanque, caso confirmada a candidatura dele ao governo. Da mesma forma que a irmã, e deputada estadual, Lia, esta com o constrangimento extra de compor hoje a equipe de secretários de Elmano de Freitas, à frente da pasta das Mulheres. Seria, neste caso, uma mudança de lado até mais radical.
Ivo Gomes acumula algumas queixas relacionadas ao comportamento do PT como aliado em Sobral ao longo de suas duas gestões. E, vale lembrar, não é daquele tipo de político capaz de esquecer as coisas com facilidade. Enfrentou problemas com a vice petista Cristiane Coelho e, na campanha de Isolda Cela para sucedê-lo, ano passado, esperava mais apoio e presença de lideranças como Camilo Santana e Elmano de Freitas. O ministro apareceu por lá apenas na reta final e com menos envolvimento do que se esperava; já o governador, não deu as caras.
Claro que alguns sinais precisam ser captados de maneira conveniente. Por exemplo, a reação de Ivo ontem à prisão de Jair Bolsonaro, definindo-o como um dos “maiores calhordas do país”, indica o nível de esforço que ele teria de fazer para, em nome da admiração que tem pelo irmão, fazer campanha ao lado de gente que idolatra quem merece sua rejeição no nível expresso através destas palavras.
O certo é que prevalece uma certa segurança de que Cid manterá a palavra empenhada com o Palácio da Abolição e as lideranças governistas, independente do que façam os irmãos. É, inclusive, o que ele próprio tem dito de maneira reiterada, sempre que provocado por políticos ou por jornalistas, sob alegação básica de que não consegue se ver na companhia de gente como André Fernandes e Capitão Wagner, os novos aliados de Ciro nos seus movimentos mais recentes.
O presidente estadual do PSB, Eudoro Santana, frequentemente atacado por Ciro como estratégia para reduzir constrangimentos familiares e poupar o irmão em críticas que lhe caberiam com mais clareza, tem redobrado elogios a Cid Gomes nas suas conversas políticas mais recentes. “Ele sempre foi leal e correto conosco”, diz, quando alguém coloca em dúvida a posição do senador na hipótese da candidatura Ciro Gomes se confirmar.
Lembra da fonte lá do início do texto, que destacou o peso definitivo da palavra de Cid Gomes? Foi questionada em relação a outra possibilidade muito considerada no debate, na hipótese de confirmação de uma candidatura Ciro Gomes, que seria uma opção do senador pela neutralidade, repetindo um pouco 2022 e isolando-se na Serra da Meruoca, em Sobral, onde tem uma bela e confortável casa. A resposta que veio, curta e grossa: “isola nada!”
Por Gualter George, n’O Povo deste domingo (23/11)