O Ceará volta a ser mergulhado na velha e abusada cantilena da perua: de mal a pior. Isto porque o governador Cid Gomes se rende às pressões políticas locais, enquanto é esvaziado no plano nacional, onde os governos subnacionais se projetam e se consolidam na medida da eficiência de seus administradores.
O dirigente político quando se deixa levar pela política paroquial, baixando o nível de seu governo, termina por nivelar-se à atmosfera de seus áulicos. Deixa, portanto, o proscênio para descer aos assistentes de fundo de palco. A administração do Estado está enfrentando essa situação. As consequências se desenham nos fracassos de várias políticas públicas consideradas prioritárias.
Estado carente de recursos, o Ceará, nos últimos tempos, vislumbrava duas saídas para garantir o financiamento dos projetos governamentais imprescindíveis à retomada do processo de desenvolvimento: a dependência do governo federal ou o endividamento externo. As duas opções foram albergadas, diante da falta de inventiva para mudar a matriz indutora do crescimento. Mas nem assim essas alternativas vêm realizando o saldo esperado. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) exibe, de forma adequada, essa incapacidade política de vencer barreiras numa conjuntura em que a expressividade política do gestor é fundamental. A partir de 2011, quando surgiu o carro-chefe dos investimentos nacionais, o Ceará foi contemplado com 1.989 empreendimentos absorvido pelo PAC 2.
Essa inclusão não significa passe livre para sua viabilidade, nem a esboçada manifestação de apoio aos escalões superiores da República corresponde à certeza de sua concretização. No Brasil político, nem sempre o apoio confessado publicamente traduz a solidariedade garantida, principalmente quando os que proclamam fidelidade não costumam honrar os compromissos assumidos.
Pois bem. Como papel comporta tudo, dos supostos 1.989 projetos governamentais de interesse do Ceará, apenas 267 foram finalizados. Isto representa apenas 13,3% de todas as promessas feitas. Outro detalhe intrigante: do total das ações prometidas, 749, ou seja, 37,6%, sequer tiveram suas obras iniciadas. Dentre elas, a mais expressiva, a Refinaria Premium II, vem se transformando numa comédia de tipo pastelão, de tantas atrapalhadas. Os remanescentes da tribo dos índios Anacés têm força política para inviabilizar o empreendimento. A gestão do governo estadual acumula elenco de fracassos, a começar pela segurança pública.
O Ronda do Quarteirão, carro-chefe de sua eleição, é reconhecido pelo epíteto atribuído pela massa popular de Belo Antônio, em razão da beleza da frota motorizada, de primeira linha, mas ineficaz, sem resolução.
A violência no Estado começa a afetar a atividade empresarial. A recente concorrência para a exploração do Estoril, na Praia de Iracema, não despertou interesse em nenhum concorrente pela gravidade gerada por falta de policiamento inteligente no bairro. O trânsito, engarrafado e sem controle, provoca 29 pessoas acidentadas em moto por dia, além de causar a morte de um jovem por dia.
Fortaleza se destaca, também, como a sexta cidade mais violenta do País, com a maior ocorrência de crimes atingindo jovens entre 15 e 24 anos. Os escândalos dos empréstimos consignados e dos banheiros públicos foram enfim abafados.
Por um momento, até parecia que o Ceará teria um futuro auspicioso. Mas as pressões políticas funcionam e o governador não sabe se opor a elas.