Bolsonaro não era capitão quando começou o processo que acabaria por afastá-lo do Exército por conduta antiética. Para o general Ernesto Geisel, o terceiro presidente da ditadura, ele foi um mau militar. Concederam-lhe a patente de capitão em troca de não criar mais confusão e despir a farda sem maior barulho.
No encontro promovido pelo PL, em Brasília, para filiá-lo e a outros ministros, Bolsonaro, que planejou atentados a bomba a quartéis, apresentou-se como “o capitão do povo”. Reescrever a história é um mero detalhe, recurso comumente usado pelo marketing político para promover os candidatos. Ninguém liga.
Liga para o que o candidato fez, promete e diz. E o que disse Bolsonaro, em mais um ato escancarado de campanha, pode ter agradado aos seus seguidores, mas não lhe assegurou um voto fora da bolha. Quem vota nele continuará votando. Por ora, ele cresce com a volta dos que procuravam um candidato nem, nem.
Os ministros da ala política do governo, que sonham com a reencarnação do Jarzinho Paz e Amor, fantasia vestida por Bolsonaro depois do fracasso do golpe militar de 7 de setembro último, não gostaram quando ele disse que, por vezes, dá um embrulho no seu estômago ter que respeitar a Constituição.
Ao tomar posse, um presidente jura cumprir a Constituição. Bolsonaro jurou, assim como prometeu governar para todos os brasileiros, não só para aqueles que o elegeram. A Constituição pode ser mudada pelo Congresso, mas ela tem dispositivos que não podem ser mudados. São conhecidos como “cláusulas pétreas”.
Direitos individuais são aqueles que oferecem o básico aos cidadãos, como a liberdade de ir e vir, liberdade de expressão, livre trabalho, saúde e educação. Dá vontade de vomitar ouvir um presidente dizer que a Constituição, às vezes, embrulha o seu estômago. Se a Constituição falasse, talvez dissesse o mesmo dele.
Bolsonaro embrulhou o estômago alheio mais uma vez ao não deixou passar a oportunidade de exaltar a memória do seu amigo, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra, o único militar condenado pela justiça por tortura de presos políticos à época da ditadura de 64. A presidente Dilma foi torturada por Ulstra.
(NOBLAT)