sexta-feira, 4 de abril de 2014

O PODER EM POLVOROSA E A LIÇÃO DE MAQUIAVEL QUE CID IGNOROU

O clima político no Ceará é de tensão, desconfiança e incerteza, enquanto todos esperam a definição sobre a renúncia do governador Cid Gomes, em atendimento as exigências da legislação eleitoral, caso deseje disputar um cargo ou abrir caminho para que seu irmão Ciro possa se candidatar ao Senado.
Para se ter uma ideia sobre a intensidade da pressão exercida por aliados, correligionários e apadrinhados (a patota instalada nos órgãos da administração estadual anda aflita sem saber  o dia de amanhã e angustiada com a possibilidade de ser substituída por uma nova turma), Cid Gomes chegou a passar mal durante discurso na inauguração de uma policlínica em Limoeiro do Norte, na noite de quinta-feira (3). Felizmente não foi nada grave e o governador, socorrido de helicóptero para o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), recebeu alta ainda na madrugada.
Peço licença para dois breves comentários: 1) não tinha médico na policlínica? 2) ainda bem que não chovia na capital. Já imaginou o teto do HGF desabando com o governador internado? Pronto, volto ao tema central do post: eleições.
Na última hora
É público que Cid desejava terminar o mandato e depois ir para os EUA. Imagina poder fazer um sucessor de sua confiança. Bem ao seu estilo, não preparou nomes e deixou sua indicação para a última hora. Acabou engolido pelas circunstâncias.
Agora, em meio a um festival de especulações de toda ordem, o futuro político do grupo que hoje comanda o Ceará é um tremendo ponto de interrogação, que nem mesmo uma renúncia é capaz de clarear (afinal, os partidos só irão se posicionar oficialmente em junho, nas convenções). 
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come
Enquanto outros governadores, como Eduardo Campos, em Pernambuco, ou Antonio Anastasia, em Minas, já renunciaram com relativa tranquilidade, mostrando que possuem inequívoco comando na condução desses processos, no Ceará tudo é incógnita e confusão, sinal de que a liderança age reativamente ao sabor de eventos recentes, na base do improviso e do susto.
Por aqui, os donos do poder estão atônitos, emparedados por aliados. Obcecados em sufocar ameaças externas de uma frágil oposição, não deram a devida importância ao perigo interno representado pelo senador Eunício Oliveira (favorito nas pesquisas) e pelo vice-governador Domingos Filhos (um não cidista que assume o governo caso Cid renuncie).
Maquiavel
No clássico O Príncipe, Nicolau Maquiavel ensinava (citode memória – faz tempo que li…) que o rei deve avaliar até mesmo o mais querido amigo com a seguinte indagação íntima: “Ele gostaria de estar no meu lugar”?  Se o rei, pensando com os próprios botões, entendesse que sim (o amigo sempre negaria e juraria lealdade, claro), seria então bom tomar cuidado com ele, pois a ambição não conhece limites e não respeita ninguém. Ora, se isso vale para quem é próximo, imagine então para aliados unidos pelos laços do fisiologismo. Deu no que deu.
Não deixa de ser surpreendente esse, digamos, descuido. Se não leram Maquiavel, a Cid e Ciro não falta experiência no assunto, adquirida na atuação em diversos partidos, com inúmeros ex-aliados.
Cid Gomes agora luta desesperadamente para não perder o controle do processo eleitoral. Quem diria.
(Tribuna do Ceará)