domingo, 19 de novembro de 2017

MIRUNA GENOÍNO: UMA FAMÍLIA DEPOIS DO MENSALÃO


Reunidas no livro Felicidade Fechada, as cartas trocadas entre o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) José Genoino e a filha Miruna revelam como a família atravessou o período em que Genoino esteve cumprindo pena no presídio da Papuda, em Brasília. O livro busca narrar a história desde novembro de 2014, quando Genoino se entregou à Polícia Federal após ser condenado por formação de quadrilha e corrupção ativa no processo do mensalão. Defendendo a inocência do pai, Miruna Genoino conta ao O POVO sobre os problemas cardíacos que fizeram o pai receber o direito de cumprir a pena em domicílio, o assédio da imprensa e admite que Genoino cometeu erros políticos e, não, crimes. 
A filha se acompanhou do pai no lançamento do livro que reuniu amigos e apoiadores do partido no Centro Cultural Belchior, na Praia de Iracema, na última sexta-feira, 17. 
O POVO - Foi difícil publicar o livro? 
Miruna - Muito difícil. Eu mandei para as editoras e elas simplesmente ignoravam. A gente sabe que é uma história que nem todo mundo quer que seja ouvida. 
O POVO - É complicado encontrar quem queira se associar à imagem de José Genoino? Miruna - Está cada vez melhor, mas claro que a gente sente (dificuldade). A gente teve momentos muito duros, de muita solidão. Agora, a gente percebe que existe maior solidariedade. Acho que foi ficando mais claro que a história dele não é de enriquecimento ilícito. A nossa batalha é recontar a história dele e defender. Foi o que ele pediu. É isso que estamos fazendo. 
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Ele (José Genoino) não cometeu nenhum crime. Podem ter acontecido alguns erros políticos, mas não houve crime. Ele não negociou valores, ideais e nada politicamente em troca de dinheiro" 
O POVO - Você diz que o livro é a tentativa de contar a verdadeira história do seu pai. Qual é essa história? 
Miruna - Ele não cometeu nenhum crime. Podem ter acontecido alguns erros políticos, mas não houve crime. Ele não negociou valores, ideais e nada politicamente em troca de dinheiro. O que ele fez foi parte de um projeto muito importante que algumas pessoas podem concordar ou discordar, mas ele participou politicamente. Ele não formou quadrilha, não se associou a ninguém para fazer processos de corrupção. Ele era um político e ainda é. 
O POVO - Depois do caso do mensalão, o Brasil vivenciou uma série de outros processos. Houve um impeachment, um vice-presidente que assumiu a Presidência da República. Como vocês veem isso? 
Miruna - Isso mostra porque tinha tanto interesse em criminalizar a política. Essa judicialização da política leva a essa situação em que os políticos vão sendo colocados todos no mesmo balaio de gato. Acho muito preocupante o que aconteceu com a presidente Dilma porque foi uma consequência de levar os políticos para julgamento com uma dificuldade muito grande de apurar os fatos. Não posso falar dos processos de cada um, mas é muito preocupante isso de jogar na grande imprensa sem ter uma averiguação porque depois que o seu nome é colocado ali é muito difícil você recuperar a sua imagem. 
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Eles (da grande mídia) levaram até as últimas consequências a necessidade de criminalizar a ação política do meu pai"
O POVO - Qual foi o papel da mídia na condenação do seu pai? 
Miruna - A grande mídia teve uma influência e um interesse grande e foram incentivadores dessa narrativa. Não abriram espaço para que outra história fosse contada. Uma das maiores mágoas que a gente tem é o fato de até tentarem relativizar a doença cardíaca que ele teve e quase morreu. Isso foi utilizado como possível artimanha para ele escapar da prisão. Eles levaram até as últimas consequências a necessidade de criminalizar a ação política do meu pai. 
O POVO - A imagem da prisão do seu pai mostra a família junto dele na hora da prisão. Olhando em perspectiva, o que você enxerga naquela fotografia? 
Miruna - A gente foi preparado para aquele momento. Olho a foto e vejo muito desespero. 
O POVO - Naquele momento, assim como hoje, você acreditava na inocência do seu pai? 
Miruna - Claro, sempre. Digo que a gente vai continuar batalhando. É uma batalha que os meus filhos também vão seguir. Talvez eles tenham que continuar. E os filhos deles e quantas gerações forem necessárias. A gente vai continuar defendendo a inocência do meu pai. 
O POVO - Genoino não dá mais entrevista para imprensa e está mais afastado da política. Como está o seu pai hoje? 
Miruna - Ele está bem de saúde. É uma pessoa preocupada com a situação política do País, com esse conservadorismo que vem se acirrando. Mas é uma pessoa que está vivendo a política do jeito que ele gosta. Sem ser institucional ou partidária. Com pequenos grupos, com amigos, e fazendo algo que ele sempre disse que ia fazer que é cuidar mais da família. Ele está sendo um maravilhoso avó. 
O POVO - Estamos perto das eleições de 2018. Lula desponta como um candidato a 2018. A família Genoino apoia essa candidatura? 
Miruna - Com certeza. A gente apoia, tem muito orgulho da história do Lula e a gente defende a história dele. Pra gente, foi muito difícil quando a Marisa Letícia faleceu. A gente sabe o que ela sofreu, acho que ela sentiu tudo isso na pele. 
(Rômulo Costa/O Povo)