(JOÃO PEDRO PITOMBO ) - A criação de federações
partidárias, que passarão a valer a partir das eleições deste ano, uniu
adversários locais no mesmo campo político, começa a enfrentar dissidências e
pode resultar em uma espécie de "casamento de fachada" em parte dos
estados.
O prazo para o registro de federações
partidárias se encerrou na última segunda-feira (30) com a criação de três
federações. No campo da esquerda PT, PC do B e PV estarão amarrados pelos
próximos quatro anos, assim como o PSOL e a Rede. Na centro-direita, se uniram
o PSDB e Cidadania.
Nas federações partidárias, as
legendas que se associam são obrigadas a atuar de forma unitária ao menos nos
quatro anos seguintes às eleições, nos níveis federal, estadual e municipal,
sob pena de sofrerem punições. É um modelo diferente das coligações, que foram
vetadas em eleições proporcionais.
O novo mecanismo deve ajudar os
partidos a superar a cláusula de barreira, que estabelece percentual mínimo de
votos e de deputados eleitos para manter o acesso à propaganda partidária e ao
fundo eleitoral.
Batizada com o nome "Brasil da
Esperança", a federação entre PT, PC do B e PV enfrenta imbróglios na
montagem de palanques estaduais em Pernambuco, Tocantins, Mato Grosso, Maranhão
e Distrito Federal.
Os principais focos de atrito se dão
entre PT e PV, partido que na última legislatura se alinhou a partidos de
centro-direita em estados como a Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo.
A adesão à federação e o apoio à
pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 fez com
que parte dos filiados deixasse o partido. Mas ainda há uma parcela que
permaneceu no PV e ainda assim flerta com candidatos de outros partidos nos
estados.
"Há um esforço muito grande para
que não haja ruído na nossa caminhada até a eleição. A gente torce para que os
presidentes dos partidos nos estados tentem negociar, a gente só vai intervir
onde tiver problema", afirma o presidente nacional do PV, José Luiz Penna.
Em São Paulo, por exemplo, ao menos
12 prefeitos do PV anunciaram apoio à reeleição do governador Rodrigo Garcia
(PSDB) em detrimento da pré-candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
O comando do partido alega que são
prefeitos ligados a deputados que deixaram a legenda na janela partidária e que
tendem a não permanecer nas próximas eleições municipais.
O Tocantins é outro estado com
potencial de conflito. O PV local, liderado pela família Lélis, é próximo ao
governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e deve apoiar, mesmo que
informalmente, a sua reeleição. O PT, por sua vez, lançou ao governo o
ex-deputado Paulo Mourão.
O cenário é parecido em Mato Grosso,
onde o vice-prefeito de Cuiabá José Roberto Stopa (PV) desistiu de concorrer ao
governo após o PT decidir ter candidato próprio ao cargo. Stopa saiu de cena
atirando.
"Eu já estava de saco cheio. Nós
fizemos um acordo com a federação, que poderia aparecer dez nomes, vinte nomes
e o melhor nome seria escolhido candidato. O que não pode é companheiro
criticar companheiro, ficar com essa mesquinharia", disse em entrevista à
imprensa.
O imbróglio agora se voltou para a
vaga para o Senado: o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), trabalha para
emplacar sua mulher Márcia Pinheiro (PV), mas esbarra no PT, que lançou a
professora Enelinda Scalla.
No Distrito Federal, PT, PV e PC do B
têm candidatos próprios ao governo e terão que chegar a um denominador comum. O
Palácio do Buriti é uma das prioridades do PV, que lançou o deputado distrital
Leandro Grass para o cargo.
Já no Maranhão, a federação uniu sob
o mesmo guarda-chuva adversários históricos no estado: o PC do B, que já
abrigou o ex-governador Flávio Dino (PSB), estará unido ao PV, partido ligado à
família Sarney que fez oposição ferrenha ao então governador.
"Não tenho restrição a Flávio
Dino, mas é preciso diálogo. Estamos vivendo um novo momento no Maranhão sem
aquela dicotomia entre Sarneys e anti-Sarneys. É um projeto uma nova
geração", diz o deputado estadual Adriano Sarney (PV).
A união, contudo, enfrenta conflitos.
O PV critica a influência do PSB nos rumos da federação com a pressão pela
escolha do nome do ex-secretário Felipe Camarão (PT) como candidato a vice do
governador Carlos Brandão (PSB).
Em Pernambuco, a disputa é entre PT e
PC do B e se dá em torno do Senado. A vice-governadora Luciana Santos (PC do B)
pleiteia concorrer na chapa de Danilo Cabral (PSB), mas o PT indicou a deputada
estadual Teresa Leitão. Procurada, Luciana Santos disse que a situação está em
debate interno.
A federação entre PSDB e Cidadania
também enfrenta divergências no campo nacional. Enquanto os tucanos ainda não
definiram se terão candidatura própria ao Planalto, o Cidadania já definiu o
seu apoio à pré-candidatura de Simone Tebet (MDB).
Nos estados, a decisão de unir os
partidos também gerou baixas. A principal delas foi a desfiliação do governador
da Paraíba João Azevêdo, que trocou o Cidadania pelo PSB e vai disputar contra
o PSDB, que concorre com o deputado Pedro Cunha Lima.
Com a aprovação da federação pelo
Tribunal Superior Eleitoral, os estados do Amazonas e do Distrito Federal
passaram a ser centro da discórdia entre os partidos. O Cidadania apoiará
candidatos tucanos em dez estados, mas esperam reciprocidade.
No Amazonas, o Cidadania passou a
abrigar o ex-governador Amazonino Mendes, que lidera as pesquisas de intenção
de voto para o governo. Entre os tucanos, contudo, o senador Plínio Valério
também se movimenta para concorrer ao governo.
O caso do Distrito Federal é
semelhante: o senador Izalci Lucas (PSDB) é pré-candidato a governador. Mas a
deputada federal Paula Belmonte (Cidadania) negocia disputar o Senado em outra
chapa, que seria liderada pelo senador Reguffe (União Brasil).
Nos dois casos, a disputa entre os
pré-candidatos tem sido marcada por rusgas e com poucas chances de um
denominador comum sem intervenção dos diretórios nacionais dos partidos.
O PSDB indicou que deve ceder no
Amazonas: o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, enviou uma carta a
Plínio Valério afirmando que o partido não terá candidato próprio no estado. O
senador disse que não acompanhará o partido nas eleições local e nacional.
"Vejo o Amazonino como
retrocesso. E, nacionalmente, o PSDB ser coadjuvante do MDB, é coisa de quem
não compreende o verdadeiro tamanho do PSDB", afirmou o senador.
Os tucanos, contudo, não abrem mão da
candidatura no Distrito Federal. Mas a deputada Paula Belmonte indica outro
caminho e afirma que pode concorrer ao governo caso Reguffe decida disputar o
Senado.
Também há rusgas na federação firmada
entre o PSOL e a Rede Sustentabilidade, começando pela eleição nacional.
Enquanto o PSOL vai unificado no apoio a Lula, a Rede liberou seus filiados a
apoiar o petista ou Ciro Gomes (PDT).
Em Minas Gerais e Espírito Santo, a
parceria entre os dois partidos ficará apenas no papel, em uma espécie de
"casamento de fechada".
O PSOL de Minas lançou ao governo a
professora Lorene Figueiredo, mas a Rede deve dar apoio informal à candidatura
de Alexandre Kalil (PSD), ex-prefeito de Belo Horizonte.
No Espírito Santo, o cenário é o
contrário: a Rede vai lançar para o governo o ex-prefeito de Serra, Audifax
Barcelos. O PSOL, contudo, não vê a parceria com bons olhos, já que o
pré-candidato da Rede negocia o apoio de legendas da centro-direita.
Porta-voz da Rede, a ex-senadora
Heloísa Helena diz que os dois casos estão devidamente respaldados pelo
Estatuto da Federação e pela Resolução Política pactuada na estruturação da
parceria.