Como em um jantar de articulação política, o futuro chefe barganha funções de confiança bem-remuneradas – com dinheiro público, claro. Ali, à meia-luz de ambientes sofisticados, é selada a transação entre as beldades e os figurões. Há alguns anos, a cena, comum nas altas rodas do poder, costumava ter como destaque belas prostitutas de luxo, das quais os parlamentares não abriam mão de ter ao lado, principalmente durante viagens.
Os tempos mudaram, mas influência e sacanagem seguem de mãos dadas. O posto das garotas de programas foi tomado por jovens que “bombam” nas redes sociais com milhares de seguidores. Mais do que trocar uma transa por dinheiro, elas querem posição de destaque, seja no Executivo ou Legislativo. Ambiciosas e ostentadoras, as “influenciadoras do sexo” abocanham desde viagens internacionais e carros de luxo a roupas de algumas das grifes mais sofisticadas do mundo.
As chamadas “patroas” escolhem um ponto de encontro sofisticado, o dia da semana e a hora em que algumas influenciadoras estarão presentes. As informações correm como rastro de pólvora por canais exclusivos de comunicação no WhatsApp, Telegram ou Instagram, por meio do direct. “Há um padrão entre essas garotas. Os políticos costumam brincar que elas precisam cumprir três pré-requisitos básicos: cintura fina, pele bonita e cabelo bem tratado. O resto é negociável”, disse a fonte.
O perfil das influenciadoras que aquecem o mercado do sexo na capital costuma servir como uma espécie de vitrine. As fotos e os vídeos são floreados com paisagens em praias paradisíacas no litoral brasileiro ou fora do país, passeios por pontos turísticos nos destinos europeus mais exclusivos ou momentos de curtição em resorts caríssimos. Um detalhe chama a atenção: quase sempre as belas mulheres tiram fotos sozinhas. No máximo, duas taças de vinho aparecem lado a lado remetendo a uma companhia misteriosa.
A oferta é infindável, e a demanda proporcionada pelos políticos acompanha a avidez pelo desejo em possuir uma influenciadora do sexo à disposição. Durante a “pescaria” — quando as jovens batem ponto nos restaurantes e bares atrás de clientes —, é possível ver os grupos de garotas que ocupam as mesas estrategicamente bem-localizadas. O objetivo é sempre ter uma visão panorâmica de quem chega ao estabelecimento.
Durante algumas noites, no decorrer da semana parlamentar, a coluna acompanhou as movimentações nos pontos de encontro. A impressão é de uma caçada ao melhor partido, sem trocadilhos. Sim, as garotas são arrojadas e abordam os figurões que estão sentados à mesa. Outras chegam aos restaurantes em grupos de três a cinco garotas. Os vestidos colados chamam a atenção e chegam a arrancar sorrisos dos garçons, quase sempre discretos.
Também há encontros que fogem do acaso e rolam mediante contato prévio. Um verdadeiro book digital é disparado via aplicativos de conversa pelas patroas. No material, há uma seleção minuciosa de fotos sensuais das influenciadoras que integram o esquema. Posando de biquíni ou trajando roupas provocantes, as mulheres exploram seus melhores ângulos para impressionar os clientes. Políticos, banqueiros e empresários de sucesso tanto no DF quanto ao redor do país recebem o book das influenciadoras do sexo.
A coluna confirmou, por meio do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), que algumas influenciadoras ocupam cargos comissionados na estrutura do Governo do DF, além de postos de confiança na Câmara Legislativa (CLDF) e no Congresso Nacional. Mas nem todas conseguem o tão sonhado emprego público e apostam nas transas rotativas para faturar. O cardápio é vasto, e os preços são salgados: entre R$ 2,5 e R$ 3 mil pela noitada.
Durante a apuração, uma mulher jovem, com seus 20 e poucos anos, que recebeu propostas sexuais em troca de cargos, revelou detalhes de como funciona a relação — bem mais íntima — entre as influenciadoras e os parlamentares na Câmara e no Senado. “As garotas se escondem sob esse falso véu do empreendedorismo digital e se dizem influenciadoras. Elas ajudaram a transformar as duas Casas nos maiores centros de prostituição que existem em Brasília”, disse.
Com medo de sofrer represálias por ainda realizar trabalhos no Congresso, a jovem preferiu não se identificar, mas repassou prints de WhatsApp com mensagens trocadas entre ela e um parlamentar. “É tudo muito rápido e sem rodeios. Ele pegou meu telefone com um assessor e mandou mensagem afirmando que conseguiria uma vaga para mim em uma comissão. Como pagamento, eu deveria ser dele”, contou.
O volume de dinheiro e os “mimos” são tão grandes que algumas influenciadoras apostam no empreendedorismo para mascarar os lucros. “Já fui contratado para fazer sites e logomarcas de lojas que nunca realizaram uma venda”, revelou um publicitário de Brasília. Em geral, o e-commerce mais utilizado pelas blogueiras é ligado a peças de vestuário. Algumas se autodefinem nos perfis como “figuras públicas”, “modelos” ou até mesmo universitárias.
A coluna apurou que o alto rendimento já levou brasilienses a morar fora do país. Ao menos seis jovens apostaram na oportunidade internacional e, atualmente, moram em Dubai. Elas atuam como acompanhantes de luxo de empresários milionários e sheiks árabes. “É tudo pelo hype. Essas meninas acabam ficando famosas por terem fotos bonitas no Instagram, mexendo no corpo sempre. Algumas faturam até R$ 20 mil para acompanhar esses homens em viagens, fora os custos extras”, acrescentou outra fonte.
Um dos agentes aceitou detalhar o esquema sob a condição de anonimato. “Damos alguns benefícios para elas irem até o bar e postarem nas redes sociais. Elas ganham consumação da casa de até R$ 500. Por serem bonitas, acabam conhecendo pessoas com poder aquisitivo alto e que frequentam locais mais seletos. Todo mundo ganha”, relatou.
O vaivém de acompanhantes fez com que o empresário traçasse o perfil dos homens que topam bancar as jovens: pessoas que ganham dinheiro fácil, que não têm “dó de gastar”. Nesse contexto de sexo e poder, finaliza ele, políticos, herdeiros, playboys, empresários, traficantes e estelionatários têm o mesmo peso. O que conta, claro, é quem pode pagar mais.
(Site Metropoles)