“O Art. 1º da nossa Constituição enumera os fundamentos do Estado democrático de Direito, e o primeiro fundamento é justamente a soberania. No entanto, a nossa soberania e a nossa democracia vem sendo constantemente atacadas pela política irresponsável e criminosa do atual governo”, declarou ao tocar no assunto. Lula procurou apontar para os programas de seu governo que sofreram cortes ou desmontes durante a gestão Bolsonaro, bem como para a política de privatização de estatais.

Durante sua fala, Lula conectou a questão da soberania às principais diferenças entre a sua gestão e a gestão de Bolsonaro. Puxou como exemplos a gestão da Eletrobrás, estatal que se expandiu no governo petista e que se encontra na lista de prioridades de Bolsonaro para a privatização, a gestão da Petrobrás, que antes da gestão de Michel Temer calculava o preço dos combustíveis com base no Real, e não do custo internacional do barril de petróleo, bem como a gestão ambiental de Bolsonaro, que, na visão de Lula, prioriza interesses comerciais estrangeiros no lugar da conservação da Amazônia.

Sobre a união entre democratas, Lula falou de sua antiga rivalidade com Geraldo Alckmin, contra quem concorreu nas eleições presidenciais de 2006, e hoje é vice de sua chapa pelo PSB. “O grave momento que o país atravessa, um dos mais graves da nossa história, nos obriga a superar eventuais divergências para construirmos juntos uma via alternativa à incompetência e ao autoritarismo que nos governam”, disse. Alckmin, que discursou minutos antes de Lula, prometeu lealdade ao novo companheiro. Ambos disseram que as divergências que tiveram ficaram no passado e que o mais importante, no momento, é reconstruir o país e salvar a democracia. O ex-governador participou por meio de um telão, já que foi diagnosticado ontem com covid-19.

A aliança com Alckmin, segundo Lula, é um gesto para simbolizar o desejo de união entre diversas correntes em resistência a Jair Bolsonaro. “Queremos unir os democratas de todas as origens e matizes, das mais variadas trajetórias políticas, de todas as classes sociais e de todos os credos religiosos. Para enfrentar e vencer a ameaça totalitária, o ódio, a violência, a discriminação, a exclusão que pesam sobre o nosso país”, reafirmou.

Outro tema abordado no discurso foi o reconhecimento por parte do Supremo Tribunal Federal e da Organização das Nações Unidas da parcialidade do juiz Sergio Moro em seus processos decorrentes da Operação Lava-Jato. “Fui vítima de uma das maiores perseguições políticas e jurídicas da história deste país”, declarou. O julgamento de Moro foi um dos fatores de peso que tornaram o petista inelegível nas eleições de 2018.

Ainda sobre a Lava-Jato, afirmou que não pretende retaliar os envolvidos no processo. “Não esperem de mim ressentimentos, mágoas ou desejos de vingança. Primeiro, porque não nasci para ter ódio, nem mesmo daqueles que me odeiam. Mas também porque a tarefa de restaurar a democracia e reconstruir o Brasil exigirá de cada um de nós um compromisso de tempo integral. Não temos tempo a perder odiando quem quer que seja”, disse à multidão.