quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O CARRO ADIANTE DOS BOIS

A primeira notícia que li dizia que seriam 10 milhões; menos de uma semana depois, na mesma fonte, li que seriam 11... Se compararmos com outros investimentos estatais Brasil afora, em que os orçamentos só aumentam e aumentam, quando o “serviço” for entregue aos usuários deverá ter custado quase tanto quanto dizem que custou a implantação do sistema VLT em Sobral: R$ 70.000.000,00.
Quando tudo estiver pronto, funcionando plenamente – se novamente compararmos com a miríade de obras faraônicas iniciadas e não concluídas, esse funcionar plenamente talvez demore um pouco -, teremos aproximadamente uns 25 mil veículos de passeio, umas 35 mil motos, umas 50 mil bicicletas e logo, logo, mais 20 micro-ônibus disputando vorazmente, sob um calor de 40 graus à sombra, o direito de trafegar em nossas ruas estreitas e avenidas nem tão largas assim. O que hoje já é caótico se tornará mais ainda, se é que isso é possível...
Eu não conheço as dificuldades do trânsito da cidade de Juazeiro do Norte nem sei quantos veículos e motos há ali; também não conheço as dimensões geográficas da cidade. O que eu conheço e acho que todos também conhecem, porque lemos e nos informamos, é que o projeto do VLT de lá previa, como da fato aconteceu, a interligação entre os municípios do Crato e a terra do Padre Cícero. Mesmo assim, passados mais de 2 anos de sua primeira viagem, o índice de utilização/dia não tem alcançado a marca de 50% do que fora previsto inicialmente.
Voltemos a Sobral. Aqui, até pelo espírito de sobralidade, pelo orgulho de ser sobralense – quanta bobagem meu Deus! - nós queremos saber tudo em detalhes sobre qualquer assunto; sobre as pessoas, quando somos chamados de fofoqueiros (bem feito!); e sobre a cidade mesmo, quando nos autodenominados cultos. Então todos sabemos muito bem quanto habitantes somos, quantos eleitores temos, quantos carros, motos e bicicletas circulam na cidade; até quantos semáforos existem, mesmo agora que eles são cada vez mais, uns não distando nem 20 metros dos outros, nós sabemos. Portanto não é difícil pra nós, cultos , inteligentes e orgulhosos, com uma ajudinha do IBGE, conhecermos as dimensões geográficas de Sobral. É quando descobrimos que somos uma cidade pequena, muito pequena mesmo, e não precisamos “andar” mais que 6 km de norte a sul ou de leste a oeste para percorrer o solo urbanizado da fazenda caiçara..
Aí meus amigos, num momento qualquer de iluminação – para ele e sua entourage ao menos – do nosso governador e conterrâneo, decidiu-se que Sobral ia ter um metrô de superfície. Sobral TERIA , não que NECESSITASSE, um sistema de transporte urbano nos moldes do que foi implantado no Cariri. E como a vontade do homem jamais foi – e parece que jamais será - contestada por ninguém na sua terra natal, nem quando devesse ser, pelo bem maior do que é público, sua idéia iluminada, depois de arrancar pela raiz inúmeras árvores de copa frondosa, destruir alguns quilômetros dos pouco que tínhamos de ciclovias, além de, num verdadeiro crime de lesa-arquitetura tombada pelo IPHAN, erigir verdadeiros monstrengos apelidados de estações de passageiros, está em fase de conclusão. Pelo bem da ( melhor ) mobilidade urbana de todos nós sobralenses.
Desculpem, ia esquecendo: em fase de conclusão só a primeira etapa do projeto, o funcionamento dos VLTs. A outra etapa, a circulação da frota de pelo menos 20 micro-ônibus climatizados para transportar passageiros até as estações dos VLTs, essa ainda não saiu nem da planilha. Pelo que li o executivo municipal ainda não sabe onde vai captar os recursos ( 10, 11 ou sei lá quantos milhões ) para comprar os veículos.
Então ouso questionar, mas não sem antes pedir encarecidamente que não me interpretem como sempre têm me interpretado; um polêmico, um “do contra”, do quanto pior melhor, etc.: não seria muito mais barato, mais simples e certamente definitivamente resolutivo, sem o risco quase certo de desorganizar mais ainda o já desorganizado trânsito da cidade, contratar engenheiro de tráfego e projetar linhas urbanas de (micro)ônibus que recolhessem o cidadão passageiro no seu bairro e o deixasse no seu destino final? O sistema integrado ônibus-VLT , em vez de agilizar, não vai é retardar mais ainda a vida de cada um de nós que tem pressa de chegar em qualquer lugar que queira? E com a agravante de ser (mais) um veículo para congestionar os já congestionados cruzamentos das ruas da cidade.
Ficarei muito agradecido se receber uma explicação que me convença do contrário.
(Por Dr. Azevedo)