A primeira notícia que li dizia
que seriam 10 milhões; menos de uma semana depois, na mesma fonte, li que
seriam 11... Se compararmos com outros investimentos estatais Brasil afora, em
que os orçamentos só aumentam e aumentam, quando o “serviço” for entregue aos
usuários deverá ter custado quase tanto quanto dizem que custou a implantação
do sistema VLT em Sobral: R$ 70.000.000,00.
Quando tudo estiver pronto,
funcionando plenamente – se novamente compararmos com a miríade de obras
faraônicas iniciadas e não concluídas, esse funcionar plenamente talvez demore
um pouco -, teremos aproximadamente uns 25 mil veículos de passeio, umas 35 mil
motos, umas 50 mil bicicletas e logo, logo, mais 20 micro-ônibus disputando
vorazmente, sob um calor de 40 graus à sombra, o direito de trafegar em nossas
ruas estreitas e avenidas nem tão largas assim. O que hoje já é caótico se
tornará mais ainda, se é que isso é possível...
Eu não conheço as dificuldades do
trânsito da cidade de Juazeiro do Norte nem sei quantos veículos e motos há ali;
também não conheço as dimensões geográficas da cidade. O que eu conheço e acho
que todos também conhecem, porque lemos e nos informamos, é que o projeto do
VLT de lá previa, como da fato aconteceu, a interligação entre os municípios do
Crato e a terra do Padre Cícero. Mesmo assim, passados mais de 2 anos de sua
primeira viagem, o índice de utilização/dia não tem alcançado a marca de 50% do
que fora previsto inicialmente.
Voltemos a Sobral. Aqui, até pelo
espírito de sobralidade, pelo orgulho de ser sobralense – quanta
bobagem meu Deus! - nós queremos saber tudo em detalhes sobre qualquer assunto;
sobre as pessoas, quando somos chamados de fofoqueiros (bem feito!); e sobre a
cidade mesmo, quando nos autodenominados cultos. Então todos sabemos muito bem
quanto habitantes somos, quantos eleitores temos, quantos carros, motos e
bicicletas circulam na cidade; até quantos semáforos existem, mesmo agora que
eles são cada vez mais, uns não distando nem 20 metros dos outros, nós sabemos.
Portanto não é difícil pra nós, cultos , inteligentes e orgulhosos, com uma
ajudinha do IBGE, conhecermos as dimensões geográficas de Sobral. É quando
descobrimos que somos uma cidade pequena, muito pequena mesmo, e não precisamos
“andar” mais que 6 km de norte a sul ou de leste a oeste para percorrer o solo
urbanizado da fazenda caiçara..
Aí meus amigos, num momento
qualquer de iluminação – para ele e sua entourage ao menos – do nosso
governador e conterrâneo, decidiu-se que Sobral ia ter um metrô de superfície.
Sobral TERIA , não que NECESSITASSE, um sistema de transporte urbano nos moldes
do que foi implantado no Cariri. E como a vontade do homem jamais foi – e
parece que jamais será - contestada por ninguém na sua terra natal, nem quando devesse
ser, pelo bem maior do que é público, sua idéia iluminada, depois de arrancar
pela raiz inúmeras árvores de copa frondosa, destruir alguns quilômetros dos
pouco que tínhamos de ciclovias, além de, num verdadeiro crime de
lesa-arquitetura tombada pelo IPHAN, erigir verdadeiros monstrengos apelidados
de estações de passageiros, está em fase de conclusão. Pelo bem da ( melhor )
mobilidade urbana de todos nós sobralenses.
Desculpem, ia esquecendo: em fase
de conclusão só a primeira etapa do projeto, o funcionamento dos VLTs. A outra
etapa, a circulação da frota de pelo menos 20 micro-ônibus climatizados para
transportar passageiros até as estações dos VLTs, essa ainda não saiu nem da
planilha. Pelo que li o executivo municipal ainda não sabe onde vai captar os
recursos ( 10, 11 ou sei lá quantos milhões ) para comprar os veículos.
Então ouso questionar, mas não sem antes pedir
encarecidamente que não me interpretem como sempre têm me interpretado; um
polêmico, um “do contra”, do quanto pior melhor, etc.: não seria muito mais
barato, mais simples e certamente definitivamente resolutivo, sem o risco quase
certo de desorganizar mais ainda o já desorganizado trânsito da cidade,
contratar engenheiro de tráfego e projetar linhas urbanas de (micro)ônibus que
recolhessem o cidadão passageiro no seu bairro e o deixasse no seu destino
final? O sistema integrado ônibus-VLT , em vez de agilizar, não vai é retardar
mais ainda a vida de cada um de nós que tem pressa de chegar em qualquer lugar
que queira? E com a agravante de ser (mais) um veículo para congestionar os já
congestionados cruzamentos das ruas da cidade.
(Por Dr. Azevedo)