sábado, 15 de dezembro de 2012

CASO IZABELA GANHA REPERCUSSÃO NACIONAL

(Do Portal EBC – Empresa Brasileira de Comunicação)
As redes sociais tem sido utilizadas com frequência como ferramenta de mobilização para diferentes causas, geralmente articuladas por organizações ligadas ao tema em questão. Entre as mais recentes se destacam a mobilização em favor dos Guarani-Kaiowá e os protestos contra a crise na Europa.
Mas as redes também começam a ser apropriadas pelos cidadãos para defender causas mais pontuais. Um caso emblemático aconteceu no Ceará, após a morte de uma criança que necessitava de atendimento em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A morte de Izabela levou a família a colocar uma petição pública na Avaaz. Criada em 2007, a organização internacional de campanhas na internet possui hoje 17 milhões de membros, já conseguiu doações ao redor de US$ 12 milhões em campanhas on line, e organizaram mais de 10 mil manifestações e protestos em quase todos os países do mundo, tendo como único meio de financiamento as doações de seus membros. Em menos de uma semana, o pleito por UTIs pediátricas no Ceará já está próximo de alcançar 3 mil assinaturas.
Falta de equipamento
No dia 26 de novembro o corretor de imóveis Daniel Gomes levou a filha caçula, Izabela Moreira Gomes, então com dois anos e oito meses, para realizar uma cirurgia de adenóide no hospital da Unimed em Sobral. A cirurgia foi realizada às 08h30 e Isabela retornou ao quarto hospitalar às 12h.
Ela apresentou complicações decorrentes da cirurgia e, por volta das 14h, o médico recomendou que fosse encaminhada para uma UTI. A garota foi então levada para a Santa Casa de Sobral. Na falta de uma UTI, Izabela ficou no centro cirúrgico acompanhada de uma equipe médica, até as 22h30, quando a família conseguiu uma UTI pediátrica em Fortaleza, além de uma UTI móvel para transportá-la. Porém, quando chegou ao aeroporto de Sobral, por volta das 23h, Izabela teve uma parada cardíaca e morreu.
“Eu acho uma palhaçada o que aconteceu em Sobral. Tenho mais duas filhas e fico preocupado em passar novamente por esse sufoco. Se acontecer alguma coisa com elas, eu estou desprotegido”, lamenta o pai de Isabela. Daniel Gomes tem mais duas filhas, uma de 9 e outra de 11 anos e está fazendo tratamento psicológico em Fortaleza junto com sua esposa. “Suspendi a cirurgia da minha outra filha, porque não tenho segurança”, desabafa.
Mobilização
A mobilização começou pelo Facebook após o velório de Izabela. Um médico, amigo da família, comentou que deveriam estar funcionando 10 leitos de UTI pediátrica nas proximidades da Santa Casa de Sobral e que poderiam ter impedido a morte da menina. Inaugurados em abril de 2011 com a presença do ministro da Saúde Alexandre Padilha, os leitos continuam lacrados até hoje. “O que mais revolta a gente é que o estado briga para que a UTI não funcione”, reclama Daniel.
Quem deu início à mobilização foi o advogado Fabrício Gomes, irmão de Daniel. Segundo Fabrício, a prefeitura alega que desde outubro de 2011 repassa RS 344 mil para a Santa Casa, que alega que o recurso é insuficiente.“É falta de prioridade e interesse político, não é falta de dinheiro”, questiona Fabricio.
Processo
As UTIs que chegaram a Sobral em 2011 foram fruto de uma ação civil pública movida conjuntamente pelo Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal em 2007. O procurador da República, Ricardo Magalhães, explica que a ação foi movida porque Sobral representa uma macroregião do SUS para cirurgias de alta complexidade, que atende mais de 60 municípios. Na época da ação o município possuía apenas 10 leitos de UTI adulto.
Ainda em 2007, uma decisão liminar da 18ª Vara Federal de Sobral, com base na ação civil pública, obrigava a Santa Casa de Sobradinho, o município de Sobral, o Estado do Ceará e a União a garantir a instalação, manutenção e funcionamento de 30 leitos de UTI no município.
Apesar da decisão, os primeiros leitos só chegaram em 2011 e continuam lacrados. Em 10 de janeiro de 2012 saiu a decisão final da 18ª Vara Federal, que confirmou a obrigação dos entes de instalar e manter em funcionamento os leitos. Menos de um mês após a decisão, o estado do Ceará e a União entraram com apelação contra o cumprimento da decisão, com a alegação de que o Ministério Público não pode intervir na ação do poder Executivo.
Magalhães ressalta que o recurso não desobriga os entes a cumprirem a decisão e informa que as medidas cabíveis nesse caso são a aplicação de multas aos gestores e a responsabilização das autoridades por omissão. “O que a gente pretende é que os recursos sejam aplicados. O recurso não suspende o cumprimento da decisão”, afirma.