Cid e André Figueiredo. Foto: Divulgação
Por Gabriel Amora
São tempos sombrios para os pedetistas. Depois o rompimento da aliança que durou 16 anos no Ceará com o Partido dos Trabalhadores, o PDT entrou em guerra interna, com uns defendendo o retorno ao projeto de união e outros seguindo as doutrinas aplicadas por Ciro Gomes, a quem acusou frequentemente o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), de traidor.
O senador Cid Gomes entrou em cena para tentar consertar o racha profundo do PDT e apaziguar seus correligionários. Ficaria até 31 de dezembro de 2023 após licença do deputado federal André Figueiredo. Afirmou que também lutaria pela reeleição de Sarto. Nesse meio tempo, André foi eleito presidente nacional do PDT.
Para a surpresa de todos, no dia 2 de outubro, após reunião interna, o deputado federal volta ao comando da legenda no Ceará. “Em decorrência dos últimos acontecimentos, depois de três meses, tive de retomar ao comando do partido”, disse o pedetista. “Não tinha vontade de fazer isso, mas os acordos não estavam sendo cumpridos”, disparou sobre Cid.
O pedetista citou a pacificação interna da sigla e a questão de apoio ao governador Elmano, que tinha de ser discutida e fechada, como exemplos que não foram respeitados. “Sobre apoio, era preciso uma conversa com Carlos Lupi e Elmano. Lamentavelmente isso não ocorreu”, contou.
Cid logo se manifestou. Para o senador, não tem outro sentimento a não ser o de “surpresa”. Insatisfeito, o pedetista confirmou que irá “conversar com as lideranças do partido para decidir os próximos passos”. “Eu assumi um único compromisso, que era que ele permaneceria, na eleição do diretório e numa nova executiva, presidente com o meu apoio”, disparou em resposta ao que foi dito por Figueiredo mais cedo. “Esse foi o único compromisso que eu assumi”, disse o senador.
“Portanto, ele não pode alegar nenhum descumprimento de compromisso meu. A rigor, quem descumpriu o compromisso foi ele”, atacou. Ao lado de parlamentares, incluindo Osmar Baquit, Lia Gomes, Samito Filho, Júlio Ventura, Evandro Leitão, entre outros, o senador destacou que irá convocar reunião do diretório estadual da legenda para eleger uma nova direção do partido no Ceará.
“Suspendeu uma licença que me colocava como presidente do PDT. A presidência, para mim, é só uma responsabilidade”, destacou Cid. Continuando, para piorar a intriga, o senador pontuou que não foi avisado por André do retorno. “Nenhuma comunicação que retornava à presidência e alegava que compromissos de minha parte não haviam sido cumpridos. Não procede essa informação. Eu assumi um único compromisso, de que ele permaneceria na direção do diretório e uma nova executiva. Ele não pode alegar nenhum descompromisso meu”, explicou.
Cid falou que no período que assumiu o cargo, teve como missão “estancar a sangria” que acontecia na sigla, especialmente após o avanço do PT sobre as prefeituras. “Minha luta é para segurar o maior número de candidatos nos 184 municípios”, completou.
RC entrou em defesa de André e aproveitou a situação para garantir os seus dois centavos: “O PDT tem prefeito eleito, é pré-candidato à reeleição com muitas realizações na cidade”, defendeu. “Não era compreensível existir um diretório estadual que colocava em dúvida e questionamento a natural reeleição de um filiado que está sentado na cadeira e com uma grande obra em execução”, provocou RC sobre a ausência de Sarto nos acordos de Cid.
Nova eleição e dissolução do diretório do partido no Ceará
Incrédulo, o grupo de Cid confirmou reunião do diretório do partido no Ceará, com objetivo de eleger uma nova executiva estadual. A ideia é substituir a atual direção, administrada pelo deputado federal André, além da estadual, comanda a nacional também. A data do encontro foi para 16 de outubro.
Assinam também quatro deputados federais dos cinco da bancada. Mauro Filho, um dos pedetistas mais próximos a Ciro, que apoia Figueiredo contra o irmão, Cid, é um deles. O grupo garantiu 49 assinaturas entre os 84 membros do diretório estadual.
Os planos foram frustrados com a dissolução do diretório estadual do partido por André Figueiredo, que também é presidente do PDT nacional na noite de quinta-feira, 5. O presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, declarou que é uma “tendência natural” que outros deputados busquem outro partido após a situação ficar insustentável na legenda, lamentando a decisão.
A irmã de Cid, Lia Gomes, chamou de “fraude” e atitude “antidemocrática” a decisão tomada pelo PDT nacional. Mesmo assim, falou ser necessário “esgotar todas as possibilidades” antes de migrar para outro partido.
Por último, no começo da noite desta sexta, Cid apresentou, notificação extrajudicial a Manoel Dias, secretário da Executiva Nacional da legenda, para entender as razões que levaram à modificação nos sistemas do TSE, que atribui o status de inativo ao Diretório do Partido no Estado. No texto, o senador aponta estar surpreso com a notícia de que o Diretório foi considerado “inativo por decisão do partido” na quinta-feira, 5. Com isso, o senador solicita com urgência a prestação de esclarecimentos sobre a decisão.
As exigências do pedetista também solicitam uma apresentação de cópia integral de qualquer documento que tenha fundamentado a ação pede a correção urgente das informações junto a Justiça Eleitoral. Justamente, “a fim de permitir o livre e regular exercício da atividade partidária, direito constitucionalmente assegurado ao ora notificante e aos demais membros partidários”, declara em nota.
Cid ressalta que o Diretório Estadual do PDT tem vigência até o dia 31 de dezembro e está em plena atividade partidária.