quarta-feira, 19 de novembro de 2025

A FARRA MILIONÁRIA DE DANIEL VORCARO NA SAPUCAÍ



Semanas antes do Carnaval de 2025, um assunto dominava as rodas de conversa dos ricos e famosos: a estreia do camarote Café de La Musique Alma Rio na Marquês de Sapucaí. À frente do negócio estava Álvaro Garnero, empresário carioca que fez carreira na noite, administrando boates em São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro. O motivo de tanta expectativa era que, diferentemente de outros camarotes carnavalescos, o Alma Rio nascia com a premissa de não vender ingressos. O espaço de 2,5 mil m² era destinado exclusivamente a amigos do dono e a amigos desses amigos – gente conhecida e bem conectada.

Só de fora do Brasil, eram esperadas pelo menos trezentas pessoas. O investimento no camarote foi de 40 milhões de reais – mesmo valor que o governo do estado desembolsou para bancar o desfile como um todo, com dinheiro para as escolas e a manutenção da Sapucaí. Garnero se cercou de gente influente para viabilizar o projeto. Entre os seus sócios estava Alessandra Pirotelli, dona da empresa Camarote Brasil, que negocia justamente as concessões de espaço na Sapucaí. Pirotelli, além disso, é tia de Gabriel David, que vem a ser o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), entidade que organiza o desfile e dá as cartas no Carnaval carioca.

Uma parte expressiva do lucro da Liesa vem do aluguel de camarotes, somado a uma porcentagem do ingresso de cada um dos pagantes. Não é pouco dinheiro. Por mais que Garnero seja um próspero homem de negócios, especulava-se que provavelmente havia um patrocinador por trás de sua festa luxuosa. E havia mesmo, como se revelou mais tarde: era Daniel Vorcaro.

A participação do então dono do Banco Master ficou clara quando ele apareceu na Sapucaí para desfrutar do investimento. Vorcaro foi patrocinador master do camarote e recebeu regalias à altura. No terceiro e último andar do Café de La Musique Alma Rio só entrava quem tinha uma pulseira especial, distribuída pelo próprio Vorcaro, que andava com várias delas no bolso para entregar a quem lhe desse na telha. O banqueiro comandava um camarote dentro do camarote.

Garnero organizou um festival à parte das escolas de samba. Montou um lineup estrelado. Estavam lá o DJ britânico Fatboy Slim (com cachê de 150 mil dólares), o DJ alemão Adam Port (200 mil dólares), o DJ italiano Marco Carola (80 mil dólares) e mais um DJ britânico, Damian Lazarus (50 mil dólares). Os artistas brasileiros eram Alok (500 mil reais), Seu Jorge (300 mil reais) e Marcelo D2 (100 mil reais), entre outros. Ao menos para os DJs, a missão era dupla: se apresentar para o público que não tinha a pulseira especial de Vorcaro e, depois, apenas para o público que tinha. Primeiro os VIPs, depois os super VIPs.

O camarote pagou cachê não só para os músicos, mas também para convidados estrelados – uma estratégia para atrair marketing espontâneo e interesse da imprensa. Esses participantes deluxe voaram para o Rio vindo de cidades como Londres, Paris, Nova York e Miami, com passagens de primeira-classe ou executiva. A eles, foram disponibilizados carros blindados, segurança e serviços de maquiador e cabeleireiro. A modelo russa Irina Shayek, que desfilou pela Beija-Flor (a escola de Gabriel David), recebeu 200 mil dólares para aparecer no camarote. Candice Swanepoel, modelo da Victoria’s Secret, foi outra ilustre convidada, assim como a atriz Marina Ruy Barbosa, contratada para o posto de “musa”. Na pista, viam-se figuras das artes, da tevê e do mercado financeiro, como Luciana Gimenez, João Silva, Alexandre Accioly, Rodrigo Santoro, Márcio Garcia, Rico Mansur e Cesca Civita. O bufê era comandado pela chef Morena Leite, com open bar de champanhe Perrier-Jouët. 

O banqueiro caiu na festa. Curtia o som ao lado dos DJs, enquanto a festa e o desfile rolavam paralelamente. Sua namorada, a influenciadora Martha Graeff, circulava pela frisa e por todos os andares do camarote acompanhada de uma equipe com fotógrafo, cinegrafista e maquiador.


O Café de la Musique Alma Rio foi apenas uma parte da bolada que Vorcaro investiu no Carnaval deste ano. Ele também alugou uma casa no bairro de Santa Teresa com vista deslumbrante, onde promovia festas diurnas. Alok se apresentou por lá, onde também passaram influenciadores como Camila Coelho. No domingo de Carnaval, Vorcaro fechou o Parque Lage para promover um sunset party com a participação do DJ sueco Axwell, que recebeu cachê de 300 mil dólares.

O banqueiro se esforçou para atrair um público internacional para a folia por meio de suas conexões com o casal David e Isabela Grutman. Ele é um empresário americano, ela, uma modelo brasileira. David é conhecido como o Rei da Noite de Miami, dono de casas noturnas e restaurantes na cidade onde vive com a mulher. Entre seus sócios estão figuras como David Beckham e Lionel Messi. “Ao investir no Carnaval, Vorcaro quis agradar clientes e potenciais investidores estrangeiros”, disse uma pessoa ligada ao banqueiro, que pediu para não ser identificada.

Vorcaro, naquele março que agora parece longínquo, desfrutava de status e poder. Comemorava a compra de uma propriedade luxuosa em Trancoso, na Bahia. O imóvel pertencia até então ao casal Sandra e Sergio Habib, presidente da JAC Motors, e custou ao banqueiro 280 milhões de reais. O Master, embora já estivesse cercado de suspeitas, voava alto. No final daquele mês, foi anunciada a sua compra pelo BRB (Banco de Brasília), numa transação de 2 bilhões de reais. O negócio se arrastou por meses e foi reprovado pelo Banco Central em setembro.

Na noite de segunda-feira (17), Vorcaro foi preso pela Polícia Federal enquanto tentava deixar o país pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos. Horas antes, havia sido anunciada a compra do Master pela holding financeira Fictor, em conjunto com um consórcio de investidores árabes. O banqueiro foi alvo de uma operação que investiga a venda de títulos de crédito falsos. O diretor da PF, Andrei Rodrigues, estimou que as fraudes do Master podem ter movimentado até 12 bilhões de reais.

Sem poder contar com o patrocinador de peso, que, neste momento, encarcerado e às voltas com a lei, tem problemas mais urgentes do que a contratação de DJs, Álvaro Garnero mudou os planos de seu Carnaval. O Café de La Musique Alma Rio estará na Sapucaí em 2026, mas com um novo conceito: passou a vender ingressos, para que haja algum faturamento. O caráter exclusivo, de certo modo, ao menos no marketing foi preservado. Só poderá comprar os ingressos quem receber um link exclusivo, segundo informa o site do camarote. O lineup e outros detalhes ainda não foram anunciados. Procurado pela piauí, Garnero não respondeu aos pedidos de entrevista.

(Revista Piauí)