Brasil 247 - Nas últimas sessões
do julgamento da Ação Penal 470, um comportamento foi marcante. O ministro
Gilmar Mendes parecia apático. Olhava para baixo. Sua voz, muitas vezes, nem
era ouvida por seus pares. Sem maiores argumentações, Gilmar apenas repetia: "Acompanho
o relator". De todos os dez ali presentes, era o que mais se assemelhava
com um figurante.
Gilmar parecia triste. E bem diferente do
personagem que, até recentemente, era o ministro mais emblemático da Suprema
Corte, cultuado na advocacia por não se curvar aos gritos da turba. Suas
decisões – polêmicas para uns e corajosas para outros – provocaram aquele que,
até o início do julgamento, era considerado o maior barraco da história do STF,
quando Joaquim Barbosa, aos berros, lhe acusou de destruir a credibilidade da
suprema corte (assista). E a ira de
Barbosa, antes isolada, a cada dia que passa, se torna a regra – e não a
exceção no STF.
Gilmar simbolizava o direito achado nas leis e na
Constituição brasileira, fazendo um contraponto ao direito das ruas,
representado por Joaquim Barbosa. Por isso mesmo, seu voto era uma incógnita,
pois Gilmar sempre foi visto, mesmo por seus adversários políticos, como um
ministro aferrado aos direitos e garantias individuais.
No entanto, antes mesmo do julgamento, seu comportamento
parecia alterado. À revista Veja, Gilmar denunciou que o ex-presidente Lula
havia tentado intimidá-lo, no que foi desmentido pelo ex-ministro Nelson Jobim,
com quem rompeu uma amizade de décadas. O ódio ao PT era também alimentado pela
percepção de que figuras do partido tentavam vinculá-lo, injustamente, ao
bicheiro Carlos Cachoeira.
Dos dez ministros do STF, Gilmar foi quem menos apareceu
ao longo do espetáculo, talvez porque votasse de forma totalmente contrária a
seu passado recente. Além disso, o relator, a quem ele acompanhou passivamente
na maioria dos votos, será, em breve, a imagem do Poder Judiciário no Brasil.
Ou seja: Gilmar verá refletida na imagem da Justiça – seja ela justa ou não – a
do seu antípoda na suprema corte.