domingo, 6 de agosto de 2017

SERGIO MACHADO. POR QUE A DELAÇÃO FOI DESQUALIFICADA

Sergio Machado está numa encruzilhada. A tábua de salvação, para ele e os três filhos não perderem o benefício da Colaboração Premiada, será a Procuradoria Geral da República (PGR) sustentar que a delação e as provas oferecidas pelos quatro renderam o suficiente para Ministério Público e a Justiça colocarem as mãos em outros corruptos e condená-los por envolvimento na Operação Lava Jato/Petrobras.
As delações do ex-presidente da Transpetro e dos filhos abriram sete frentes de investigação no STF e dois inquéritos policiais em Curitiba. Uma das investigações, porém, a que se refere a três caciques do PMDB – o ex-presidente José Sarney e os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá – foi desqualificada pelo relatório da delegada federal Graziela Machado da Costa e Silva, de Brasília. Ao contrário do que Machado denunciou, a policial não enxergou crimes de obstrução e contra administração da justiça praticados pelos ex-padrinhos políticos do cearense. 
A estratégia de Sergio Machado de oferecer, como prova, diálogos gravados clandestinamente entre ele, Sarney, Calheiros e Romero Jucá, não convenceu a delegada. Nem mesmo o ministro Teori Zavascki, morto este ano (20/1) em um acidente aéreo, mas que deixou pareceres que enfraquecem a tentativa de incriminar atores experientes da República brasileira. 
O relatório da delegada Graziela Costa e Silva é detalhista e levantou até possíveis encontros de supostos emissários de Sarney-Renan-Romero com o ministro Teori. A intenção, segundo Sergio Machado, era tentar persuadir Teori a não enviar o processo do ex-presidente da Transpetro, que está no Supremo Tribunal de Justiça (STF), para a Vara Criminal, em Curitiba, onde atua o juiz Sergio Moro.  
Parte do conteúdo dos diálogos clandestinos, segundo Sérgio Machado e seus advogados à PGR, revelaria uma articulação escusa de Sarney-Renan-Romero para salvá-lo das mãos de Moro. Machado, em várias ocasiões das conversas com os três, repete que se o processo seguisse para Curitiba a delação (dele) seria inevitável. E pegaria todos. “Aí, fodeu. Vai foder pra todo mundo (...) Como montar uma estrutura para evitar que eu desça?”, pergunta o ex-senador cearense.  
Depois de muitos diálogos, os caciques do PMDB sugerem os nomes de César Asfor, ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e do advogado Eduardo Antônio Lucho Ferrão para tentar convencer Teori Zavascki a não desmembrar o processo de Sergio Machado. Asfor e Ferrão, segundo Sarney-Renan-Romero, teriam acesso ao ministro do STF por causa de relações antigas de trabalho ou amizade. 
Mas a delegada Graziela Costa e Silva não se convenceu que as conversas entre os investigados pela Lava Jato incriminariam mais ainda o trio peemedebista. Além confrontar os depoimentos de Sarney-Renan-Romero com o de Sergio Machado, ela ouviu César Asfor e Eduardo Ferrão. Também esquadrinhou a possibilidade de um suposto encontro de Asfor e de Ferrão com Teori Zavaski. Por meio de registros de entradas dos dois no prédio do STF. Ali, o encontro não teria acontecido. 
“As conversas entre Sergio Machado e seus interlocutores não passaram de meras cogitações (...) É preciso mais. Concluo que, no que concerne ao objeto deste inquérito, a colaboração que embasou o presente pedido de instrução mostrou-se ineficaz”, afirma a delegada Graziela Costa e Silva para, depois, sugerir a anulação do acordo de colaboração premiada do ex-presidente da Transpetro. 

Segundo investigações da Operação Lava Jato/ Petrobras, Sergio Machado e os filhos Sérgio Firmeza, Expedito Neto e Daniel Machado teriam desviado, pelo menos, R$ 192 milhões. Sergio Machado confessou ter escondido R$ 70 milhões no HSBC/Suíça. Durante 11 anos à frente da Transpetro, ele teria embolsado R$ 22 milhões. Outros R$ 100 milhões teriam sido distribuídos na forma de propina para alguns políticos de partidos como PT, PMDB, DEM e PSDB. Em 13 depoimentos, durante as sessões de delação, Sergio Machado revelou aos procuradores da República como conseguia o dinheiro ilícito junto às empresas que tinham contrato com a Transpetro, estatal dirigida por ele de 2003 a 2014. R$ 75 milhões é a multa compensatória que Sergio Machado e os filhos terão de pagar à Petrobras pela corrupção na Transpetro. No mês passado, eles devolveram R$ 56 milhões aos cofres da companhia. Foram feitos pagamentos em três parcelas até a última sexta-feira. Esses recursos foram repatriados pelo Ministério Público Federal (MPF). 
(Demitri Tulio - Opovo)