quinta-feira, 4 de abril de 2019

SAIBA COMO A PREVIDÊNCIA PODE IMPACTAR NA RELAÇÃO DE PAULO GUEDES COM MAIA


O alinhamento na articulação política entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pode entrar em conflito. Declarações do parlamentar nos últimos dois dias vêm ecoando dentro da equipe econômica, que ainda faz a leitura dos impactos disso para o relacionamento entre os dois. Na quarta-feira, o demista disse que, do jeito que a proposta de capitalização está colocada, “não vai passar”. Ontem, sinalizou a aliados e a interlocutores que a reforma tributária a ser conduzida no Parlamento é a do economista Bernard Appy, e não a que vem sendo elaborada pelo secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, homem de confiança de Guedes.

A relação entre Guedes e Maia é bem afinada. Líderes partidários brincam que é um casamento em lua de mel. A dúvida é até quando esse relacionamento se manterá sustentável. Fontes do corpo técnico da equipe econômica dizem que os dois são amigos de longa data, mas admitem que um possível conflito entre ambos não está descartado. Quem acompanha o ministro nas reuniões sobre a reforma da Previdência sabe que a capitalização é um ponto inegociável. Guedes disse em diversas ocasiões e, mais recentemente ontem, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, que o regime de repartição está falido e que não terá condições de sustentar os benefícios previdenciários.

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Tanto é que já afirmou, em pelo menos duas chances, que pode sair do cargo, caso o Congresso Nacional não aceite a capitalização. “Se não passar, eu vou falar: ‘Esse pessoal não é confiável’. Não ajudam nem os filhos, então, o que será que vão fazer comigo?”, afirmou, durante cerimônia de posse do presidente do Banco Central. Na última semana, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, disse que não tem apego ao cargo.

A observação de Maia sobre a capitalização foi dita ao próprio Guedes e é encarada com mais tranquilidade na equipe econômica. O grupo diz que, em momento algum o presidente da Câmara descartou a mudança de regime previdenciário. A dúvida é sobre como o ministro vai reagir na queda de braço entre a reforma de Appy, que diz propor uma simplificação tributária “radical” de forma ampla, e a de Cintra, que defende um imposto único.

Por ora, auxiliares de Guedes avaliam que é preciso aguardar o desenrolar das negociações. A expectativa na Esplanada dos Ministérios é de que tudo seja resolvido com diálogo e que o “casamento” seja duradouro. Afinal, uma quebra de confiança e o término do relacionamento podem comprometer a articulação política pela reforma. Ainda que informalmente, o ministro vem sendo o responsável pela interlocução com o Congresso no governo.
 

Orquestra 

Ciente de que Guedes não pode se sobrecarregar e acumular a articulação política e o comando da equipe econômica, lideranças no Congresso iniciaram movimentações para procurar outros canais de diálogo no Palácio do Planalto além do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para fazer a articulação política, ele é considerado ‘persona non grata’ entre as principais bancadas dispostas a votar a favor da reforma da Previdência. Avaliam que a interlocução feita na pasta é voltada para interesses próprios.

O vice-presidente, Hamilton Mourão, e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Santos Cruz, são dois representantes do núcleo político do governo escolhidos para fazer a interlocução. Líderes vinham mantendo diálogo com ambos, mas, agora, a tendência é intensificar o processo. Dessa forma, esperam desafogar Guedes na articulação política e evitar impactos na interlocução em possíveis embates com Maia.

A analogia feita na Câmara é de que Maia é o maestro, e Guedes, o spalla (primeiro-violino) da articulação política. “Mas uma orquestra não toca sozinha. É preciso ter também os solistas e outros percussores”, alertou um líder. Ontem, Mourão recebeu os líderes do PRB na Câmara, Jhonatan de Jesus (RR), e no Senado, Mecias de Jesus (RR), mas se esquiva da suposição de estar articulando. “Parlamentares têm vindo aqui em visitas de cortesia. Obviamente tocamos nesses temas (de formação da base), mas não tenho nenhuma autorização ou delegação do presidente para realizar esse tipo de atividade (interlocução)”, ponderou.

O chefe da Secretaria de Governo, por sua vez, participou do lançamento da Frente Parlamentar do Congresso Nacional Brasil-China. Líderes partidários vêm se surpreendendo positivamente com Santos Cruz, um general de carreira. Avaliam que é um homem de confiança e atencioso. Qualificações que, segundo dizem, falta a Lorenzoni desde quando era deputado.
(Correio Braziliense)