terça-feira, 25 de outubro de 2022

SETE ERROS NO CASO JEFFERSON REVELAM BOLSONARO VACILANTE

Por José Roberto de Toledo*


Bolsonaro cometeu uma sucessão de erros após o ataque armado de seu fiel escudeiro Roberto Jefferson aos policiais federais que foram prendê-lo no domingo. Os erros revelam os buracos no plano de jogo de Bolsonaro a uma semana do segundo turno.

O presidente está mais despreparado e vacilante do que tenta fazer parecer. Os 20 tiros de fuzil e as duas granadas atiradas por Jefferson pegaram tanto os policiais quanto Bolsonaro de surpresa. Feriram ambos. Os policiais foram parar no hospital; Bolsonaro, na berlinda.

Acuado, Bolsonaro cometeu erros em série:

1) O atentado violento contra a Justiça, a polícia e a ordem foi improvisado. Se a pretensão era usá-lo como isca para atrair outros militantes violentos a imitarem Roberto Jefferson, foi um fracasso. Não houve revolta muito menos desordem que justificasse intervenção militar. O bando de arruaceiros que se aglomerou perto da casa do dono do PTB aplaudiu-o, agrediu um cinegrafista e ficou nisso.

  • E daí? Não se dá golpe de improviso. Bolsonaro sempre negou essa sua intenção, mas ameaçava de quando em vez sair das quatro linhas da Constituição para coagir o Supremo Tribunal Federal e a oposição. Ficou claro que era blefe.

2) Sem saber como reagir ao atentado, Bolsonaro tentou ganhar tempo. Mandou seu ministro da Justiça negociar com o aliado, o que retardou em cinco horas a reação óbvia da Polícia Federal de prender o bandido que, por pouco, não assassinara um delegado e uma agente.

  • E daí? Com uma ordem, Bolsonaro desmoralizou o ministro e a Polícia Federal. Constrangido, o ministro cumpriu a ordem pela metade. Não deu as caras na cena do crime e negociou por telefone. A federação que representa os policiais reagiu indignada à demora. Envolver o ministro colocou o governo no centro do atentado.

3) Bolsonaro não soube coordenar sua matilha digital. A primeira manifestação do presidente sobre o caso foi tão dúbia que aliados próximos como o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) tuitaram que Bolsonaro convocaria as Forças Armadas para ajudar Jefferson. Em seguida, Bolsonaro negou que houvesse foto dele com Jefferson. As fotos apareceram imediatamente, com o bandido dando tapinhas em sua barriga. Cada bolsonarista atirou para um lado. Acertaram os pés uns dos outros.

  • E daí? Bolsonaro e Jefferson perderam a batalha nas redes. No Twitter, 60% das manifestações no domingo sobre o caso foram contra a dupla, segundo a Arquimedes. Nos 15 mil grupos públicos de WhatsApp monitorados pela Palver, o atentado teve grande repercussão negativa. As palavras mais associadas a Roberto Jefferson foram “Bolsonaro” e “polícia”.

4) Após cinco horas de procrastinação, sem saber direito o que fazer, Bolsonaro gravou vídeo chamando Jefferson de bandido. A vacilação demonstrou a falta de liderança de Bolsonaro para comandar um golpe. O presidente agiu a reboque e apenas quando percebeu que a batalha para tentar transformar Jefferson em vítima estava perdida.

  • E daí? Outros aliados que simpatizam com a ideia de quebra da ordem democrática sabem agora que não podem contar com o presidente se a coisa apertar. Bolsonaro pode se voltar contra eles ao primeiro sinal de dificuldade. Não é confiável. O silêncio dos militares da ativa também foi eloquente.

5) O atentado cometido por um “bandido de bem” contra policiais que cumpriam ordem da Justiça para capturá-lo deixou evidente que a liberação de armas para a população é uma ameaça aos policiais.

  • E daí? O fuzil com mira laser e as granadas guardados por um criminoso em prisão domiciliar mostram o total descontrole da circulação de armas supostamente legais. Os tiros e explosões abriram 22 buracos no principal discurso bolsonarista sobre segurança pública.

6) O vídeo do sorridente policial federal que estava lá para prendê-lo dizendo a Roberto Jefferson “o que senhor precisar, a gente faz” projetou a imagem de que o governo Bolsonaro é mole com bandido.

  • E daí? Não importa que o policial estivesse bancando o negociador e tentando desarmar Roberto Jefferson em todos os sentidos. Não importa que essa é a melhor técnica para evitar mortes. A percepção de quem assiste ao vídeo é de tibieza. Divulgar o vídeo foi outro tiro no pé do governo e da polícia.

7) A onda bolsonarista perdeu ímpeto. Aliados cruciais como o presidente da Câmara, Arthur Lira, foram obrigados a condenar o atentado e as ameaças à democracia.

  • E daí? A avaliação do governo vinha melhorando por causa dos bilhões de reais despejados no consumo na reta final da eleição e, por isso, Bolsonaro vinha crescendo nas pesquisas. A onda criava uma impressão de virada importante para conquistar eleitores volúveis. O atentado e o envolvimento do governo criaram um constrangimento para quem cogitava mudar de voto.

Síntese. Por sua reação vacilante, Bolsonaro enfraqueceu o blefe do golpe. Sobra-lhe a urna. Ele pode não perder eleitores por causa do atentado, mas ficou mais caro para Bolsonaro conquistar novos votos.