quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

O ELEITOR DE FORTALEZA, NAS ÚLTIMAS 10 ELEIÇÕES, TEM VOTADO MAIS CONTRA OS CANDIDATOS DOS GOVERNADORES


Aconteceram 10 eleições para prefeito de Fortaleza, desde quando o Congresso Nacional aprovou uma emenda à Constituição da República restabelecendo as eleições para prefeitos das capitais brasileiras, extintas pelo golpe militar de 1964. Nestas, apenas quatro candidatos apoiados pelos governadores cearenses, ao longo dos últimos 35 anos, saíram vencedores das disputas, incluindo Ciro Gomes (PDT), indicado pelo governador Tasso Jereissati, em 1988, ambos filiados ao PMDB à época. De lá para cá, à exceção de Roberto Cláudio (duas vezes) e José Sarto, o último, ninguém mais foi eleito. Luizianne, em 2008, parcialmente foi ajudada pelo governador Cid Gomes.

O eleitorado de Fortaleza começou demonstrando interesse em não apoiar os candidatos governistas à Prefeitura da Capital, ainda em 1985, na primeira disputa depois de um longo período em que o seu prefeito era indicado pelo governador de plantão, também biônico, pois eram apontados pelos generais que ocuparam a Presidência da República. Maria Luíza Fontenele, filiada ao PT, derrotou o deputado federal Paes de Andrade (PMDB), um dos mais importantes políticos cearenses, adversário do regime militar, e candidato do governador Gonzaga Mota, até ali bem avaliado como governador, portanto, com uma significativa força política, chegando ao ponto de ser o responsável pela candidatura de Tasso Jereissati ao Governo do Estado, eleito em 1986.

O Governo de Gonzaga Mota só passou a ser avaliado negativamente depois da eleição de 1986 e até a posse de Tasso, em março de 1987. Tasso elegeu Ciro Gomes em 1988. Ele gozava de muito prestígio, segundo as avaliações do momento, por estar fazendo um Governo austero e moralizador. Por seu turno, Maria Luíza Fontenele deixava boa parte da população de Fortaleza em polvorosa, em razão da má gestão. Decepcionou muito. Mas, mesmo assim, não foi fácil a eleição de Ciro. Edson Silva, seu adversário pelo PDT, perdeu a eleição com uma diferença de apenas 5.317 votos. O principal apoiador de Edson foi o empresário Amarílio Macêdo, um dos que trabalharam em favor da eleição de Tasso, mas com ele divergiu pouco depois. O PDT não tinha o tamanho que tem hoje.

Tasso foi três vezes governador do Ceará e no curso de seus mandatos todos os seus candidatos a prefeito perderam as eleições em Fortaleza. Também perdeu Ciro Gomes quando foi governador. Ambos, aliados até a primeira eleição de Cid Gomes para a chefia do Executivo estadual cearense, em 2006, perderam as disputas municipais em Fortaleza com Assis Machado (1992), com Socorro França (1996), com Patrícia Saboya (2000), com Antônio Cambraia (2004), que depois de ter sido prefeito eleito por Juraci Magalhães em 1992, rompeu com o PMDB e filiou-se ao PSDB de Tasso, e em 2008, mesmo já não mais rezando pela mesma cartilha política, Tasso e Ciro foram novamente derrotados com Patrícia Saboya.

Naquela eleição, como governador, Cid Gomes votou em Luizianne Lins, divergindo do irmão Ciro. Este, por razões óbvias, resolveu apoiar sua ex-mulher, Patrícia, candidata de Tasso. Do segundo mandato de Cid em diante, todos os candidatos governistas em Fortaleza venceram as eleições. Uma exceção, de acordo com o histórico das disputas na Capital cearense. Este quadro, porém, não indica que o eleitorado fortalezense prefere sempre ter um prefeito aliado ao governador. Não. Mas com certeza, ao não continuar elegendo oposicionistas, os eleitores estão sinalizando para a necessidade de os partidos de oposição apresentarem melhores opções de nomes, pois para além de interessar ter um prefeito de agremiação diferente da do governador, o fortalezense quer a garantia de bons gestores.

(Blog Edison Silva)