Chico Prado- Após chegar de Brasília
e também depois de ter ouvidas as declarações do Professor Luiz Vieira sobre a
dissertação de mestrado do Professor Carlos Dias, fiz questão de marcar uma
entrevista com o professor Carlos para falarmos um pouco sobre esse trabalho que
teve como foco um novo olhar sobre a cidade de Sobral durante as duas primeiras
décadas do século XX.
Chico Prado - Professor
Carlos, em resumo, do que trata esse seu novo trabalho?
Carlos Dias - Na
realidade Dr. Chico, essa dissertação procurou investigar a cidade de Sobral,
durante as duas primeiras décadas do século XX, por meio do olhar do Livro
Cassacos de Cordeiro de Andrade. Procurei enquadrar essa obra como uma
narrativa histórica. Para isso, investiguei jornais de época, inclusive os
raros exemplares do jornal O Debate, editado por Cordeiro de Andrade e que
circulou em Sobral por cerca de dois anos, até Cordeiro ser expulso da cidade,
O Correio da Semana, as outras obras de Cordeiro de Andrade, como Tônio Borja,
Brejo, Anjo Negro, dentre outras, vários autores sobralenses e autores das
áreas de antropologia, educação, história que deram subsídios aos argumentos
que foram apresentados.
Chico Prado - O que
diferencia seu trabalho da tradicional história contada sobre nossa cidade
durante essa época em questão?
Carlos Dias - Em
nenhum instante vislumbrei e nem vislumbro ineditismo nessa pesquisa. A questão
do novo olhar colado pelo Professor Luiz. Em primeiro pelo formato do trabalho,
uma pesquisa que tem como base a narrativa histórica, em segundo, por trabalhar
Cordeiro de Andrade, é uma dívida histórica que temos com esse escritor
sobralense e terceiro por apresentar a cidade durante aquela época a partir da
periferia e do sertão para o centro e não do centro para o centro ou do centro
para a periferia, como é comumente apresentada. Por meio dessa vertente fomos
capazes de tratarmos de determinadas memórias, estruturas e mazelas sociais que
nos deu um olhar mais reflexivo sobre a nossa essência, nossa antropologia,
penso eu.
Chico Prado - Durante quanto tempo você passou pesquisando esse trabalho?
Carlos Dias - Cerca de quatro anos. Foram dezenas de madrugadas. O trabalho tem
quase 200 páginas. É ser muito desculpado... (risos). Mas falando sério, penso
que a maior importância dessa pesquisa é podermos tratar da história local,
levantando novos questionamentos, provocando a dúvida sobre essa temática, e
antes de tudo, de tratarmos sobre memória social de forma reflexiva.
Sobral durante a época em que o prefeito Veveu era Secretário de Cultura, o Cid
era prefeito, o então Secretário desenvolveu um trabalho de tombamento do nosso
patrimônio histórico, que se tornou um marco para outras cidades do país. A
memória de um povo, sua literatura, também é um patrimônio histórico. Então, se
esse trabalho for pelo menos uma célula a mais na agregação desses valores, já
estou satisfeito.
Chico Prado - O que o
motivou a pesquisar sobre Cordeiro de Andrade?
Carlos Dias - Sinceramente,
durante três décadas da minha vida, não sabia quem era Cordeiro de Andrade.
Assumo meu analfabetismo. Quem me apresentou Cordeiro foi o Padre Osvaldo
Carneiro Chaves. Fiquei encantado pelo regionalismo da sua literatura e pelo
pioneirismo da época. E ao mesmo tempo triste, pelo descaso que a literatura
brasileira, cearense e sobralense tem tido com sua obra. Consegui parte das
obras com o Dr. Damasceno que é sobrinho do Cordeiro e os jornais coletei no
Rio de Janeiro. Temos muito ainda o que estudar sobre as obras e sobre Cordeiro
de Andrade é um tema aberto para a garotada. Cassacos é apenas um dos seus
livros, uma obra em que a ficção e o realismo permeiam o cenário sobralense nas
primeiras décadas do século XX, especificamente durante o ano de 1919.
Chico Prado- Quando
teremos o prazer de ver essa obra publicada?
Carlos Dias- Sinceramente,
não sei se será publicada. Primeiro, o objetivo inicial do trabalho foi ser a
conclusão do meu mestrado. Segundo, pela quantidade de páginas se torna
economicamente mais oneroso. Se for o caso, já pensei em postar em algum site,
no da UBE, União Brasileira dos Escritores, por exemplo, em que tive a
oportunidade de me tornar um dos membros, aí quem tiver algum interesse pode
pesquisar por lá.
Chico Prado- Muito
obrigado pela entrevista.
Carlos Dias- Eu
que agradeço pela oportunidade. Em breve, quando estiver menos desocupado
(risos), tomaremos um café no Becco.
*FONTE: Jornal Correio da Semana, de 01/09/2013