quarta-feira, 4 de setembro de 2013

CHICO PRADO ENTREVISTA CARLOS DIAS

Chico Prado- Após chegar de Brasília e também depois de ter ouvidas as declarações do Professor Luiz Vieira sobre a dissertação de mestrado do Professor Carlos Dias, fiz questão de marcar uma entrevista com o professor Carlos para falarmos um pouco sobre esse trabalho que teve como foco um novo olhar sobre a cidade de Sobral durante as duas primeiras décadas do século XX.  

Chico Prado - Professor Carlos, em resumo, do que trata esse seu novo trabalho?
Carlos Dias - Na realidade Dr. Chico, essa dissertação procurou investigar a cidade de Sobral, durante as duas primeiras décadas do século XX, por meio do olhar do Livro Cassacos de Cordeiro de Andrade. Procurei enquadrar essa obra como uma narrativa histórica. Para isso, investiguei jornais de época, inclusive os raros exemplares do jornal O Debate, editado por Cordeiro de Andrade e que circulou em Sobral por cerca de dois anos, até Cordeiro ser expulso da cidade, O Correio da Semana, as outras obras de Cordeiro de Andrade, como Tônio Borja, Brejo, Anjo Negro, dentre outras, vários autores sobralenses e autores das áreas de antropologia, educação, história que deram subsídios aos argumentos que foram apresentados.  

Chico Prado - O que diferencia seu trabalho da tradicional história contada sobre nossa cidade durante essa época em questão?
Carlos Dias - Em nenhum instante vislumbrei e nem vislumbro ineditismo nessa pesquisa. A questão do novo olhar colado pelo Professor Luiz. Em primeiro pelo formato do trabalho, uma pesquisa que tem como base a narrativa histórica, em segundo, por trabalhar Cordeiro de Andrade, é uma dívida histórica que temos com esse escritor sobralense e terceiro por apresentar a cidade durante aquela época a partir da periferia e do sertão para o centro e não do centro para o centro ou do centro para a periferia, como é comumente apresentada. Por meio dessa vertente fomos capazes de tratarmos de determinadas memórias, estruturas e mazelas sociais que nos deu um olhar mais reflexivo sobre a nossa essência, nossa antropologia, penso eu.       
Chico Prado - Durante quanto tempo você passou pesquisando esse trabalho?
Carlos Dias - Cerca de quatro anos. Foram dezenas de madrugadas. O trabalho tem quase 200 páginas. É ser muito desculpado... (risos). Mas falando sério, penso que a maior importância dessa pesquisa é podermos tratar da história local, levantando novos questionamentos, provocando a dúvida sobre essa temática, e antes de tudo, de tratarmos sobre memória social de forma reflexiva.  Sobral durante a época em que o prefeito Veveu era Secretário de Cultura, o Cid era prefeito, o então Secretário desenvolveu um trabalho de tombamento do nosso patrimônio histórico, que se tornou um marco para outras cidades do país. A memória de um povo, sua literatura, também é um patrimônio histórico. Então, se esse trabalho for pelo menos uma célula a mais na agregação desses valores, já estou satisfeito.

Chico Prado - O que o motivou a pesquisar sobre Cordeiro de Andrade?
Carlos Dias - Sinceramente, durante três décadas da minha vida, não sabia quem era Cordeiro de Andrade. Assumo meu analfabetismo. Quem me apresentou Cordeiro foi o Padre Osvaldo Carneiro Chaves. Fiquei encantado pelo regionalismo da sua literatura e pelo pioneirismo da época. E ao mesmo tempo triste, pelo descaso que a literatura brasileira, cearense e sobralense tem tido com sua obra. Consegui parte das obras com o Dr. Damasceno que é sobrinho do Cordeiro e os jornais coletei no Rio de Janeiro. Temos muito ainda o que estudar sobre as obras e sobre Cordeiro de Andrade é um tema aberto para a garotada. Cassacos é apenas um dos seus livros, uma obra em que a ficção e o realismo permeiam o cenário sobralense nas primeiras décadas do século XX, especificamente durante o ano de 1919.

Chico Prado- Quando teremos o prazer de ver essa obra publicada?
Carlos Dias- Sinceramente, não sei se será publicada. Primeiro, o objetivo inicial do trabalho foi ser a conclusão do meu mestrado. Segundo, pela quantidade de páginas se torna economicamente mais oneroso. Se for o caso, já pensei em postar em algum site, no da UBE, União Brasileira dos Escritores, por exemplo, em que tive a oportunidade de me tornar um dos membros, aí quem tiver algum interesse pode pesquisar por lá.        

Chico Prado- Muito obrigado pela entrevista.
Carlos Dias- Eu que agradeço pela oportunidade. Em breve, quando estiver menos desocupado (risos), tomaremos um café no Becco.



*FONTE: Jornal Correio da Semana, de 01/09/2013