O
nariz é um pedaço perigoso do corpo. Coça, espirra e, de vez em quando,
se mete onde não é chamado. Ao farejar o risco de a delação da
Odebrecht ser homologada até a próxima terça-feira (31), Michel Temer e
seus auxiliares sentiram comichão nas narinas. Embora a decisão não lhes
diga respeito, manifestaram-se contra,
informam os repórteres Valdo Cruz e Gustavo Uribe. A cúpula do governo
prefere que a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia,
transfira a incumbência para o futuro relator da Lava Jato, a ser
sorteado.
A
eventual homologação será seguida da abertura de novos inquéritos e do
levantamento do sigilo dos depoimentos já prestados pelos 77 delatores
da maior empreiteira do país. De resto, a força-tarefa da Lava Jato
estará liberada para desbravar novas e fascinantes frentes de
investigação. Num instante em que o Planalto se prepara para empinar a
reforma da Previdência no Congresso, viriam à luz detalhes ainda
desconhecidos de uma promiscuidade pluripartidária.
Nesse
contexto, a contrariedade do governo não é senão uma razão adicional
para que Cármen Lúcia, valendo-se das prerrogativas de chefe do plantão
do Judiciário, homologue as delações em caráter de urgência. Como
requisitou, a propósito, o procurador-geral Rodrigo Janot.
O
time de auxiliares do ex-ministro Teori Zavascki ainda precisa ouvir os
77 delatores, para perguntar-lhes se é de livre e espontânea vontade
que suam o dedo. Talvez não consigam interrogar todos eles nos seis dias
que restam para o término do recesso. Neste caso, Cármen Lúcia deveria
promover uma homologação parcial, liberando os acordos cujos processos
estivessem prontos. Seria extraordinário se a ministra pudesse dar
prioridade às delações que mencionam Temer, seus auxiliares e aliados.
(Josias de Souza)