O papa
Bento 16 usou o Evangelho segundo Mateus para, ao que tudo indica, apontar as
verdadeiras razões pelas quais decidiu renunciar ao papado:
"Jesus
denunciou a hipocrisia religiosa, o comportamento que quer aparecer, a atitude
que busca aplauso e aprovação", leu, em tom de voz monocórdico, na sua
última homilia e também última celebração na Basílica de São Pedro, durante a
Missa das Cinzas, que dá início à Quaresma -- os 40 dias que antecedem a
Páscoa, durante os quais os cristãos realizam penitência para recordar o
período bíblico em que Jesus esteve no deserto.
Não
escondeu também que "o rosto da igreja é, às vezes, deturpado pela divisão
no corpo eclesial".
A palavra
"escândalo" tampouco esteve ausente da homilia: "Mesmo nos
nossos dias, muitos estão prontos para rasgar-se as vestes diante de escândalos
e injustiças, naturalmente cometidas por outros, mas poucos parecem disponíveis
para agir sobre seu próprio coração, sua própria consciência e suas próprias
intenções".
Por mais que, para renunciar, tenha alegado o
esgotamento de suas forças, a versão de que, na verdade, Bento 16 foi derrotado
pelas lutas de poder internas acabou prevalecendo na mídia italiana e
internacional. As palavras do Papa só reforçam essa interpretação.(Folha de
S.Paulo - Clóvis Rossi)