Presenciar a durona presidente
Dilma Rousseff se curvar a um apelo “emocionado” para que não rompesse a
relação política foi apenas uma parte da noite em que o vice-presidente
Michel Temer, entre baforadas de charuto e um intenso beija-mão,
saboreou madrugada adentro os prazeres que a expectativa de poder pode
proporcionar. Logo depois da delicada conversa com Dilma, Temer chegou
para um jantar de confraternização de senadores da base e oposição na
casa do líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE).
Mas
o jantar não foi só de confraternização natalina. Em um momento que
deixou constrangidos os convidados, a ministra da Agricultura Kátia
Abreu e o senador José Serra (PSDB-SP) protagonizaram um verdadeiro
"barraco", que terminou com a peemedebista jogando seu copo de bebida no
tucano depois de um bate-boca acalorado provocado por uma brincadeira
mal recebida.
Nesta
quinta-feira no Twitter, a ministra Kátia Abreu confirmou a discussão
com Serra e protestou contra a conduta do senador paulista. "Reagi a
altura de uma mulher que preza sua honra. Todas as mulheres conhecem bem
o eufemismo da expressão "namoradeira". Foi infeliz, desrespeitoso,
arrogante e machista. A reclamação de vários colegas senadores sobre
suas piadas ofensivas são recorrentes", escreveu Katia Abreu.
A
um canto da piscina uma fila de senadores e ministros assediaram o vice
que hoje assume a Presidência interinamente em virtude da posse do novo
presidente da Argentina, Mauricio Macri, por enquanto, e o assunto era
um só: como tinha sido a conversa com Dilma e sua avaliação sobre o
desfecho do impeachment. Temer teve duas conversas particularmente
demoradas: com a ministra da Agricultura Kátia Abreu, um das mais
ferrenhas defensoras da presidente Dilma; e com o senador e
ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL), que passou a noite falando sobre
o processo de impeachment que o apeou da Presidência em 1992.
—
Temer ficou surpreso com o apelo dramático que a presidente Dilma fez a
ele. Logo ela que é durona e não mostra fraqueza, se emocionou muito —
comentou Kátia Abreu numa roda de senadores, sem explicar se a
presidente Dilma chegou a chorar, durante a conversa.
—
O vice está deslumbrado e muito embevecido achando que já é o
presidente, mas disse que não vai fazer nenhum comentário a respeito. Na
conversa ele disse para a presidente Dilma que sua preocupação agora é
com o partido que está dividido ao meio. Há em curso um processo
paulista, do empresariado e da mídia impulsionando esse seu
comportamento de distanciamento da presidente — comentou a ministra
Kátia Abreu.
EMOÇÃO, COLLOR E ‘BARRACO’
Outros
convidados contaram que a presidente Dilma, antes da conversa com
Temer, fez um mídia training com o ministro da Casa Civil, Jaques
Wagner, que almoçara na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), e outros senadores do partido. Na sabatina, ela tinha sido
instruída a ser “emotiva” e não tocar nos temas reclamados por Temer na
carta desabafo que motivara a conversa, a pedido da presidente para
tentar recompor a relação com o vice.
Presente
na festa, o ex-ministro e atual presidente da Fundação Ulysses
Guimarães, Moreira Franco, ponderava, nas conversas, sobre a necessidade
de o PMDB do Senado, que tem dado sustentação a presidente Dilma, se
articulasse mais no entorno do partido.
A conversa de mais ou menos 15 minutos de Collor com Temer também chamou a atenção.
— É a vítima dando lições para algoz — comentou o senador Paulo Bauer (PSDB-SC).
Ao
voltar para a mesa em que estavam vários senadores, inclusive o
presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), Garibaldi Alves Filho
(PMDB-RN), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e outros, Collor passou a discorrer
sobre sua própria experiência de impeachment. Os senadores quiseram
saber em que momento ele percebeu que não tinha mais volta, que a
cassação será irreversível.
—
O momento mais dramático foi quando eu tive que demitir os ministros
Bernardo Cabral (Justiça) e Zélia Cardoso de Melo (Economia) . Naquele
momento eu perdi o comando do governo. Depois, quando o povo se vestiu
de negro, eu senti que perdera a presidência da República — contou
Collor, dizendo que na conversa com Temer não tinha abordado como tinha
sofrido, o que poderia ser interpretado como um gesto em defesa da
presidente Dilma nesse momento.
Por
fim, as conversas políticas tiveram uma pausa por causa do bafafá de
Kátia Abreu com José Serra. Numa roda, o senador Ronaldo Caiado, que é
médico, contava de um episódio em que teve de aplicar uma injeção na
ministra. O tucano quis brincar, mas a brincadeira descambou para um
entrevero que deixou os senadores surpresos.
— O que tenho ouvido é que você tem fama de ser muito namoradeira — brincou Serra.
—
Me respeite que sou uma mulher casada e mesmo quando solteira, ao
contrário de você, nunca traí — reagiu a ministra, segundo as
testemunhas presentes, arremessando um copo na direção do senador
tucano.
Mas Serra não se fez
de rogado e, como Temer, foi um dos últimos a deixar a festa. Temer
chegou pouco depois das 23h e por volta de 2h da madrugada ainda
permanecia na casa de Eunício.
—
Temer hoje não dá para quem quer. Está todo mundo encostando nele para
perguntar de Dilma e das outras coisas — disse o ministro da Saúde,
Marcelo Castro.
Aécio deixou a festa carregando tortinhas de morango e chocolate, enroladas num guardanapo, para levar para a esposa, Letícia.
(Msn / Notícias - Agência o Globo)