quinta-feira, 9 de novembro de 2023

BASTIDORES DA REUNIÃO NO PDT CEARÁ: CID ASSINA CARTA DE ANUÊNCIA, LAMENTA ATITUDES DE CIRO E FALA DO PRÓXIMO PASSO


Seria 2023 uma prévia do que está por vir em 2024 ou os ânimos se acalmarão a tempo da disputa por Fortaleza? Para muitos partidos, a segunda opção. Para o PDT Ceará, entretanto, ao mesmo tempo que a jornada se aproxima do fim, os personagens principais surgem nitidamente exaustos nessa batalha.

Na manhã de hoje, 8 de novembro, por exemplo, o senador Cid Gomes, na reunião que antecipou de última hora na sede da legenda, chegou 40 minutos atrasado, aparentemente porque não conseguiu encontrar uma vaga para estacionar. Todos que chegaram na hora, inclusive, reclamaram da mesma coisa: “Que trânsito é esse?”. Curioso falarem do trânsito, uma das prioridades do prefeito Sarto, colega (ou ex-colega) de partido. 

Cid estacionou na esquina e foi conduzido pela assessoria, que saiu correndo do prédio para buscá-lo, quase como se ele precisasse ser guiado para chegar naquele ambiente que, ao entender dos que o acompanham, deixou de ser um lugar de discussão e democracia. “Eu estou sendo perseguido, estou humilhado”, disse, quando chegou, aos poucos jornalistas no local. 

Depois, um fato curioso: a assessoria expulsou os profissionais, que ficaram na rua de 07h30 da manhã até 11h esperando um sinal de vida daqueles que estavam lá dentro no ar condicionado. Qual o sentido mantê-los do lado de fora do prédio, correndo o risco de um assalto, se em poucas horas os políticos vão anunciar o que ocorreu lá dentro? Um parêntese: para quem não sabe, lembra a velha prática do Cid governador, que à época deixava os profissionais de imprensa plantados numa espécie de “cercadinho”, na Residência Oficial. Sem tomar água ou um local para sentar enquanto todos aguardavam a reunião de apresentação de resultados, o MAPP. 

Voltando: passaram-se as horas e o líder do Governo Elmano de Freitas (PT), o deputado Romeu Aldigueri (PDT), saiu da sede. “Transformando o PDT do Ceará realmente num fusca de motor quebrado e batido, num partido pequeno, menor, de uma minoria odienta, de uma minoria que não conversa, que não dialoga, que não respeita a maioria democrática do diretório”, lamentou o líder na frente do prédio. “Fica aqui meu respeito ao senador Cid Gomes”.

“Respeito ao Cid, pois ele que reconstruiu o partido. Mas o ódio e a vingança dessa minoria não permitiu isso. Estamos sendo desrespeitados. Descumpriram prazo em cima de prazo. Não há diálogo e o diálogo não está sendo respeitado”, completou antes de, enfim, anunciar que 50 prefeitos buscam sair do PDT. “O diretório, por unanimidade aprovou a carta de anuência. Tendo em vista todas as percepções, ações judiciais, atos administrativos e morais e legais, a inativação do diretório, prazos não sendo cumpridos”, desenvolveu o deputado. Ao que tudo indica, a iniciativa partiu do secretário estadual do Desenvolvimento Econômico (SDE), Salmito Filho.

Poucos minutos depois, Cid saia da sala. Curioso: estavam todos de camisa social de botão, alguns até de blazer. Nenhuma gota de suor. Cid, em contrapartida, surgiu vermelho, pingando, e com a assessoria lhe dando copos de plástico com água gelada. Fazia dois minutos que ele tinha saído do ar condicionado. Análises exigentes à parte, Fortaleza fazia naquele momento 31º graus.

“Foi deliberado que vamos apresentar nossa defesa. Não há razão plausível e razoável para realizar uma intervenção. O processo está eivado de vícios. Estamos tranquilo e lutaremos no plano administrativo e entraremos na justiça pedindo a nulidade desse processo”, disse.

“Eu acho que o que a (Executiva) nacional tem feito com o diretório regional do Ceará é um absurdo. É algo que atenta contra todos os princípios da democracia, do reconhecimento da maioria e do respeito”, continuou a sua fala ao justificar a existência da carta (de auforia). “Eu não queria sair, mas estou sendo colocado para fora”.

Em relação a Ciro Gomes, seu irmão e que segue aliado aos opositores de Cid, deu uma rápida risadinha e disparou: “Só lamento… Lamento o que o Ciro e a nacional têm feito conosco”, foi direto. Ciro completou 66 anos na última segunda-feira, 6. Curiosa a sequência de números.

Em outro lugar, o presidente nacional do PDT de forma interina, o deputado federal André Figueiredo, que antagoniza o confronto com Cid, logo se manifestou e afirmou que o partido vai disputar na Justiça os mandatos dos parlamentares eleitos em 2022 e que estão pedindo para sair da sigla através das cartas de anuência.

“Vamos recorrer da forma como recorremos com a carta de anuência que foi expedida para o Evandro. Não existe justificativa para emissão das cartas de anuência. Foi muito feio. Você chamar uma reunião da noite para o dia, eivado de ilegalidades. Se isso não for apenas uma joga política, esvaziando o PDT”, seguiu. A fala foi dada ao jornal Diário do Nordeste.

“Algumas delas podem ter sido solicitadas pela pressão do momento. Já conversei com alguns federais e estaduais que disseram que não iriam formalizar perante à Justiça. Caso (as anuências) se materializem, as pessoas já não podem mais se considerar do PDT. Lógico, não terão mais espaços na Assembleia, Câmara dos deputados”, finalizou.

Para onde vão os pedetistas?

Romeu Aldigueri já confirmou: “não sabemos ainda o próximo partido, tudo depende de Cid”.

Considerando, então, que muitos são aliados do governador Elmano de Freitas e do ministro da Educação, Camilo Santana, ambos do PT, é natural que busquem filiação em siglas que os apoiam.

Além do próprio PT, liderado por Elmano, tem também o PSB, comandado por Eudoro Santana, pai de Camilo, e o Podemos, sob a liderança de Bismarck Maia, aliado de Cid. 

Se a carta for aprovada na Justiça, o primeiro ponto a ser explorado é a estratégia eleitoral para 2024 e também para 2026.

Os eventuais ex-pedetistas precisam entender que caso o PT se torne o destino dos 10 deputados estaduais atualmente no PDT, a legenda passaria a ter 19 parlamentares. Isso é quase metade da composição da Assembleia Legislativa. Uma avalanche petista, em resumo.

Para isso, PSB e Podemos se tornaram alvos fáceis, legendas que procuram voz própria nas eleições municipais, vale lembrar.

(Focus.jor)