Todo cuidado é pouco em um mundo onde até objetos domésticos de aparência inocente são capazes de espionar seu comportamento e desejos, e informar a respeito aos interessados ocultos. De fato, todo cuidado é pouco e, na maioria das vezes, inútil.
Comprada no final do governo Michel Temer, a ferramenta “FirstMile”, desenvolvida pela empresa israelense Cognyte, custou a bagatela de 5, 7 milhões de reais, um terço do valor das joias dadas de presente a Michelle pela ditadura da Arábia Saudita.
Não se sabe se ela entrou em ação de imediato; sabe-se, porém, que dela se valeu o governo Bolsonaro entre 2019 e 2021, via Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), órgão subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Trata-se, segundo apurou O Globo, de um sistema secreto de monitoramento que permite acompanhar em qualquer ponto do país os passos de até 10 mil donos de celulares a cada 12 meses, naturalmente à revelia deles, senão não faria sentido.
Para isso bastava digitar o número de um contato telefônico no programa e ver em um mapa a última localização conhecida do dono do aparelho. Moleza! A partir daí, o dono do aparelho só sairia de vista se a ABIN perdesse o apetite por ele.
A agência não tem autorização legal para acessar dados privados de ninguém; nem na época da ditadura militar de 64, o famigerado Serviço Nacional de Informações (SNI) tinha. Mas, e daí? Em um Estado policial, tudo é permitido; num semi, quase tudo.
O SNI grampeava telefones, o que dava trabalho e exigia agentes para ouvir os diálogos e transcrever o que parecesse importante. Exigia gente também para seguir ao vivo a movimentação dos espionados. Um software, hoje, cuida de tudo sem deixar rastros.
(NOBLAT)