Estamos completando um ano da morte do Professor
Luiz Gomes Vieira, nosso amigo, leitor e cronista do Jornal Correio da Semana.
Para falar sobre a memória do nosso querido
Professor, procuramos o seu grande amigo, Professor Carlos Dias, que nos
recebeu na biblioteca da sua residência com a educação que lhe é peculiar.
Correio da
Semana: O que Luiz Vieira representou para Sobral?
Carlos Dias:
Sua importância vai além de Sobral. Primeiro como militante político na época
da ditadura, depois como professor de literatura no Maranhão, Fortaleza,
Crateús, Sobral e como escritor, poeta e profundo pesquisador da nossa cultura
popular.
CS: Dos
trabalhos que o Professor Luiz escreveu qual o que você mais gostou?
CD:
Gostava dos seus poemas, dos cordéis, mas a dissertação dele marcou muito meu
pensamento literário. Ele pesquisou sobre messianismo e cangaço a partir do
romance São Bernardo, de Graciliano Ramos. Era uma releitura bastante
interessante sobre a representação sociológica e antropológica do messianismo e
do cangaceiro na cultura nordestina.
CS: Qual a
maior qualidade do Professor Luiz Vieira?
CD:
Ouvir. Todos que eram mais próximos dele sabem disso. Muito mais do que suas
questões intelectuais, ouvir era sua virtude que eu mais admirava. O Luiz foi
psicanalista de muitos. Se fosse conceitua-lo, o chamaria de psicanalista das
ruas.
CS: Muitos
falam da sua simplicidade...
CD: Prefiro
o psicanalista das ruas. Penso que essa simplicidade foi confundida por muitos
como humildade subserviente, não gosto. Acho que isso não fez bem a ele. O Luiz
era uma espécie de irmão mais velho para mim, meio pai, sabe? Sinto sua falta
todos os dias. Sinto [falta] das suas análises, análises do Becco, na rua, do
mercado. Sinto falta do seu ‘ouvido’.
CS: Quantos
livros seu ele apresentou?
CD: Na
realidade ele prefaciou o [livro] “Dicotomia”. Mas sempre acompanhou todos os
meus trabalhos. Sempre foi meu primeiro leitor.
CS: Após sua
morte você não escreveu nenhum outro livro?
CD: Não
posso dizer que uma coisa tem relação com a outra. Quando o Luiz morreu, eu
estava empenhado na minha dissertação. Estava com pouco tempo que tinha lançado
o livro “Ele”. Tanto no romance como na dissertação ele acompanhou de perto o
processo de pesquisa. Pena que não chegou a ver a dissertação concluída. Mas
para eu voltar a escrever sem ele tem sido complicado. Hoje observo que em
determinado ponto eu escrevia para o Luiz ler. É meio louco, mas penso que é um
pouco disso.
CS: Mas você
tem pensado em um novo livro?
CD: Sim,
tenho. Estou com dois projetos pessoais para 2015. Primeiro um trabalho
áudio-visual. Um projeto que tenho com mais dois amigos. Estou meio encantado
com a ideia. Tem haver com as minhas pesquisas sobre educação e desenvolvimento
local. Questões sobre topofilia e terrafilia. E sobre o novo livro, penso que
sai até o final de 2015. O problema é tempo. Sempre trabalhei muito, mas o novo
trabalho tem feito que boa parte do meu dia seja dedicado a leituras técnicas.
Mas isso vai se adequando e dará tudo certo.
CS: Quero
fazer só mais uma pergunta, fora da pauta ‘Luiz Vieira’. O que você espera para
Sobral em 2016?
CD: O
mesmo que o Professor Luiz Vieira esperaria: chuva, muita chuva, em 2015 e
2016! [risos]