terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

UM ANO SEM LUIZ VIEIRA NO OLHAR DE CARLOS DIAS



Estamos completando um ano da morte do Professor Luiz Gomes Vieira, nosso amigo, leitor e cronista do Jornal Correio da Semana.

Para falar sobre a memória do nosso querido Professor, procuramos o seu grande amigo, Professor Carlos Dias, que nos recebeu na biblioteca da sua residência com a educação que lhe é peculiar.



Correio da Semana: O que Luiz Vieira representou para Sobral?

Carlos Dias: Sua importância vai além de Sobral. Primeiro como militante político na época da ditadura, depois como professor de literatura no Maranhão, Fortaleza, Crateús, Sobral e como escritor, poeta e profundo pesquisador da nossa cultura popular.



CS: Dos trabalhos que o Professor Luiz escreveu qual o que você mais gostou?

CD: Gostava dos seus poemas, dos cordéis, mas a dissertação dele marcou muito meu pensamento literário. Ele pesquisou sobre messianismo e cangaço a partir do romance São Bernardo, de Graciliano Ramos. Era uma releitura bastante interessante sobre a representação sociológica e antropológica do messianismo e do cangaceiro na cultura nordestina.



CS: Qual a maior qualidade do Professor Luiz Vieira?

CD: Ouvir. Todos que eram mais próximos dele sabem disso. Muito mais do que suas questões intelectuais, ouvir era sua virtude que eu mais admirava. O Luiz foi psicanalista de muitos. Se fosse conceitua-lo, o chamaria de psicanalista das ruas.



CS: Muitos falam da sua simplicidade...

CD: Prefiro o psicanalista das ruas. Penso que essa simplicidade foi confundida por muitos como humildade subserviente, não gosto. Acho que isso não fez bem a ele. O Luiz era uma espécie de irmão mais velho para mim, meio pai, sabe? Sinto sua falta todos os dias. Sinto [falta] das suas análises, análises do Becco, na rua, do mercado. Sinto falta do seu ‘ouvido’.



CS: Quantos livros seu ele apresentou?

CD: Na realidade ele prefaciou o [livro] “Dicotomia”. Mas sempre acompanhou todos os meus trabalhos. Sempre foi meu primeiro leitor.



CS: Após sua morte você não escreveu nenhum outro livro?

CD: Não posso dizer que uma coisa tem relação com a outra. Quando o Luiz morreu, eu estava empenhado na minha dissertação. Estava com pouco tempo que tinha lançado o livro “Ele”. Tanto no romance como na dissertação ele acompanhou de perto o processo de pesquisa. Pena que não chegou a ver a dissertação concluída. Mas para eu voltar a escrever sem ele tem sido complicado. Hoje observo que em determinado ponto eu escrevia para o Luiz ler. É meio louco, mas penso que é um pouco disso.



CS: Mas você tem pensado em um novo livro?

CD: Sim, tenho. Estou com dois projetos pessoais para 2015. Primeiro um trabalho áudio-visual. Um projeto que tenho com mais dois amigos. Estou meio encantado com a ideia. Tem haver com as minhas pesquisas sobre educação e desenvolvimento local. Questões sobre topofilia e terrafilia. E sobre o novo livro, penso que sai até o final de 2015. O problema é tempo. Sempre trabalhei muito, mas o novo trabalho tem feito que boa parte do meu dia seja dedicado a leituras técnicas. Mas isso vai se adequando e dará tudo certo.



CS: Quero fazer só mais uma pergunta, fora da pauta ‘Luiz Vieira’. O que você espera para Sobral em 2016?

CD: O mesmo que o Professor Luiz Vieira esperaria: chuva, muita chuva, em 2015 e 2016! [risos]


Entrevista publicada no Jornal Correio da Semana no dia 31/01/2015