A citação refere-se a uma regra da prudência política de grande e
venerável tradição. Ela faz parte do que se chamava, sobretudo nos
séculos 16, 17 e 18, de "a educação do príncipe". Essas obras
formavam um corpo de conhecimentos voltado ao aconselhamento e à
advertência aos governantes, escrito por sábios de imensa cultura
histórica e especial sensibilidade para o lado prático e real da
política. Os jesuítas - e, de maneira geral, os religiosos - talvez
tenham sido os principais responsáveis por essa literatura política,
embora não exclusivamente.
O conselho contido na citação, alerta
para o fato de que, não sendo possível governar sozinho, o governante
deve procurar cercar-se de auxiliares qualificados. A advertência fazia
sentido na época, porque havia o risco, sempre presente, de o monarca
pretender exercer seu poder absoluto de forma individual e arbitrária. A
tradição do pensamento político ocidental sempre execrou a tirania e o
despotismo.
Qual a lição que podemos extrair desta expressão para o nosso tempo? Em primeiro lugar, devemos entender o conceito de inteligência
mais amplamente. Os atributos pessoais que hoje em dia correspondem ao
termo, à época de Gracián eram outros. Não se restringem também à mera
qualificação técnica. Não se contesta hoje que as diferentes áreas de
conhecimento, usadas numa campanha eleitoral ou no governo, sejam
ocupadas por indivíduos que possuem muito mais informação e experiência
do que aquele que os escolhem para assessorá-lo.
(Por Francisco Ferraz)