segunda-feira, 15 de maio de 2017

ACIDENTES DE TRÂNSITO: A MAIOR DE TODAS AS EPIDEMIAS

As estatísticas de acidentes de trânsito no Brasil revelam números similares aos de uma guerra. Neste cenário, as vítimas fatais representam problema socioeconômico com reflexos diretos no SUS. 
No Ceará, dados do DATASUS apontam que as internações hospitalares decorrentes de acidentes com motocicletas saltou de 1.855 em 2010 para 7.435 em 2016, o que representa aumento de 400%. Como consequência, cresceram também: o número de mortes no trânsito, a perda progressiva da mão de obra, a necessidade de recursos financeiros para a concessão de benefícios por parte do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e, principalmente, o trauma irreparável da perda de uma vida. Para ilustrar ainda mais essa realidade, os registros do Detran-Ce totalizaram 4.862 acidentes, com 469 com vítimas fatais, apenas no primeiro semestre de 2016.
Em Sobral, a frota de motocicletas saltou de 13.454 em 2006 para 54.451 em 2016. Neste último ano o Detran-Ce registrava em nossa cidade apenas 33.007 condutores habilitados (9.631 categoria A e 23.376 categoria AB), o que significa dizer que há, em Sobral, mais de 21.000 motocicletas sendo conduzidas por pessoas não habilitadas. Neste contexto os gastos com tratamento de vítimas de acidentes com motocicletas atendidas na Santa Casa de Misericórdia aumentaram assustadores 391% na última década. Na verdade, nos estados do Nordeste, os gastos com o tratamento destes pacientes chegaram a um patamar insustentável, comprometendo a aplicação dos repasses destinados à saúde, onde 30% do orçamento é aplicado no tratamento de pacientes relacionados a acidentes com motocicletas e quase 60% das UTIs são ocupadas com vítimas de acidentes trânsito.
Neste artigo gostaria de chamar a atenção de cada cidadão para a responsabilidade perante esta realidade preocupante. Entendo ser imprescindível abordar em nosso cotidiano questões que dizem respeito à nossa qualidade de vida, oportunidade em que devemos questionar o impacto de nossas ações e omissões sobre a saúde de nossa população. 

Artigo
Prof. Dr. Vicente de Paulo T. Pinto
Faculdade de Medicina/UFC-Campus de Sobral