As prisões do ex-presidente Michel Temer, do ex-ministro e
ex-governador do Rio de Janeiro, Moreira Franco, e do coronel João Batista Lima
Filho, apontado como "operador financeiro" de Temer, se deram um dia
após uma reunião da Executiva Nacional do MDB, que foi marcada por
constrangimento e na qual Moreira Franco estava presente. Ao convocar o
encontro, a intenção do presidente da sigla, Romero Jucá, era dar alguns
informes, segundo emedebistas, e falar da transição que pretende conduzir. Mas
partiu do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, a fala mais dura em
relação à conjuntura atual da legenda. Segundo correligionários que
testemunharam a cena, Ibaneis chegou a defender a expulsão de emedebistas presos,
disse que não tinha condição de estar num partido com um presidiário da
qualidade do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e nem de um dirigente
partidário, que tinha uma mala guardada com R$ 50 milhões. Referia-se ao
ex-ministro e ex-deputado Geddel Vieira Lima, preso preventivamente, em
setembro de 2018, três dias após R$ 51 milhões em espécie serem encontrados no
apartamento de um amigo dele em Salvador. Ibaneis fez os disparos diante do
irmão de Geddel, Lúcio Vieira Lima, que reagiu. Lúcio chegou a advertir que
Ibaneis, na condição de advogado, não deveria pré-julgar. Realçou que o
governador foi presidente da OAB-DF, que a Ordem não presta contas aos
tribunais de Contas e arrematou ainda que não sabia se quem afundou era mais
culpado do que quem conseguiu se salvar. Ibaneis também sublinhou que o partido
não tem mais quem fale por ele, não tem mais referência política. O nome de
Ibaneis vinha sendo empinado pelo próprio Jucá para assumir o comando nacional
da sigla e teria o apoio ainda de Temer e de José Sarney.
As críticas de
Ibaneis foram feitas diante de outros caciques, como Renan Calheiros, Eunício
Oliveira e de um ex-vice-governador do DF, Tadeu Filippelli, que era assessor
especial de Temer e também chegou a ser preso pela PF em operação contra o
desvio de recursos nas obras do estádio Mané Garrincha. Ontem, um dia depois do
duro debate interno, a sigla parece ter perdido mais dois porta-vozes, na
esteira das baixas já contabilizadas por Ibaneis.
(Por Renata Bezerra de Melo)