As
eleições de outubro serão um teste para reacomodação das forças políticas,
sejam elas ligadas à direita, à esquerda ou ao centro: todas de olho em 2022.
Partidos como PDT, PSB, Rede e PV articulam alianças regionais, principalmente
no Nordeste, para tentar se contrapor ao projeto do PT. O DEM, legenda de
centro, também está na mira do PDT para composição em capitais nordestinas. Em
Fortaleza, porém, a aliança com o Democratas segue indefinida.
As
articulações com legendas de centro-esquerda vêm sendo capitaneadas pelo PDT,
tendo à frente o ex-ministro Ciro Gomes e o presidente nacional do partido,
Carlos Lupi. No Ceará, o presidente interino da sigla pedetista, Cid Gomes, e o
deputado federal André Figueiredo tocam as negociações. Com o DEM, as
tratativas foram iniciadas no ano passado, envolvendo o prefeito de Salvador,
ACM Neto, que comanda a sigla em âmbito nacional, e o presidente da Câmara
Federal, Rodrigo Maia.
Nordeste
A
aproximação busca fechar acordos, especialmente no território nordestino,
reduto do PT. Por exemplo, em Salvador (BA), o PDT tenta costurar uma aliança
com o DEM, para indicar o candidato à sucessão de ACM Neto ou a vice na chapa
encabeçada por um candidato do Democratas. Nos bastidores, especula-se que o
fechamento dessa aliança visaria à eleição de 2022, quando ACM demonstra interesse
em disputar o Governo da Bahia.
Em
João Pessoa (PB), as conversas têm o objetivo de consolidar o apoio do PDT à
eventual candidatura à Prefeitura do ex-vereador do DEM, Raoni Mendes. Em
troca, o DEM poderia apoiar o secretário de Turismo da Paraíba, Renato
Feliciano, presidente do PDT no Estado, à Prefeitura de Campina Grande, outra
cidade estratégica na Paraíba.
Em
Recife (PE), uma aliança também seria vislumbrada, na tentativa de minar uma
provável candidatura do PT – da deputada federal Marília Arraes - ou
outra apoiada pela sigla petista, que pode ser a do deputado federal João
Campos (PSB), filho do ex-governador, morto em acidente aéreo, Eduardo Campos.
Neste caso, o PSB pode ser o fiel da balança na disputa, ao decidir sobre a
candidatura própria e suas alianças.
Na
disputa pela Prefeitura de São Luís (MA), PDT e DEM também dão gestos de que
não farão parte da coligação dos partidos, incluindo o PT, que apoiam o
governador Flávio Dino (PCdoB). Nomes já são cotados como pré-candidatos dos partidos:
pelo PDT, o presidente da Câmara Municipal de São Luís, Osmar Filho, e pelo
DEM, o deputado estadual, Neto Evangelista.
Fortaleza
As
negociações entre PDT e DEM também miram, claro, a eleição em Fortaleza,
administrada, hoje, pelo prefeito Roberto Cláudio, que é do PDT, e cujo vice,
Moroni Torgan, é do DEM. Todas as lideranças pedetistas frisam que é prioridade
nacional do partido eleger um sucessor na capital cearense. Acontece que, no
ano passado, o comando nacional do Democratas abriu diálogo com a oposição no
Estado.
O
presidente da legenda, ACM Neto, teve conversas com o deputado federal Capitão
Wagner, presidente do Pros no Ceará, e um dos pré-candidatos à Prefeitura de
Fortaleza. Nos bastidores, ACM sinalizou a possibilidade de lançar candidatura
própria na Capital, o que levou Wagner a cogitar se filiar ao DEM e, assim,
levar a sigla para a oposição.
Ao
mesmo tempo, ele correu para negociar o apoio do partido com o presidente
estadual do DEM, empresário Chiquinho Feitosa, principal liderança da sigla no
Estado. As tratativas, porém, não tiveram êxito. No entanto, Feitosa mantém,
reservadamente, conversas com outros partidos de oposição, como o PSL,
presidido pelo deputado federal, Heitor Freire, que ensaia pré-candidatura em
Fortaleza; e o PSDB, que também aponta a pré-candidatura do ex-deputado Carlos
Matos.
Apesar
desses movimentos, integrantes do núcleo duro do PDT no Ceará garantem, nos
bastidores, que o DEM seguirá na base governista. Pedetistas sustentam que o
Democratas não tem capilaridade política no Estado, nem um nome forte para a
disputa. Além do mais, fontes ligadas ao DEM afirmam que o vice-prefeito,
Moroni Torgan, tem a expectativa de ser indicado ao cargo na chapa pedetista.
O
deputado estadual, João Jaime, único representante do Democratas na Assembleia
Legislativa e muito ligado ao empresário Chiquinho Feitosa, diz que, apesar das
tratativas a nível nacional, um alinhamento no Ceará não é “automático”. Ele
cobra uma conversa com o PDT para rever “os termos do acordo”.
“A
nossa preferência (de aliança) é o PDT, mas isso depende de uma conversa. Não
pode chegar e meter goela abaixo. A relação que o PDT tem com o DEM hoje é da
eleição passada, em que o Moroni foi indicado a vice. Hoje o DEM tem outros
interesses: fazer uma bancada significativa de vereadores, bancada estadual e
federal”, elencou.
Bloco
Enquanto
as negociações com o DEM se (des)enrolam dentro e fora do Ceará, a estratégia
do PDT de se aliar com outros partidos do bloco de centro-esquerda avança mais
rápido. O presidente licenciado do PDT no Ceará, deputado federal André
Figueiredo, explica que as tentativas de parcerias com partidos como o PSB, Rede
e PV ocorrem porque eles têm um bom diálogo no Congresso Nacional “e isso faz
com que a gente tenha uma aliança eleitoral”.
Dentre
esses partidos, Figueiredo destaca o PSB como um aliado “preferencial no Ceará
e no Brasil”. E, de fato, o partido, presidido no Estado pelo deputado federal
Denis Bezerra, tem sido estratégico para o grupo governista. Na disputa para
vereador de Fortaleza, por exemplo, muitos ex-vereadores e suplentes aliados de
Roberto Cláudio, que pretendem concorrer, em outubro, estão sendo
“encaminhados” para o PSB, porque em outros partidos da base o nível de votos é
alto.
Na
eleição majoritária, Denis Bezerra diz que ainda está analisando o apoio à
futura candidatura do PDT, mas sinaliza para isto. “Tudo leva a crer que
estaremos dentro da coligação majoritária. O nosso foco agora é a vereança, mas
vamos trabalhar a majoritária”, limitou-se a dizer o deputado federal.
Estratégia
em capitais tem freio no Interior
Apesar
dos movimentos em busca de outros partidos do campo de centro-esquerda, mirando
a hegemonia do Partido dos Trabalhadores, o PDT deve fazer aliança com o PT nas
próximas eleições. No Ceará, por exemplo, as duas siglas têm uma aliança
estadual em vários municípios cearenses. Exceto em Fortaleza, alvo de disputa
dos partidos, PT e PDT devem marchar juntos. O presidente licenciado do PDT,
André Figueiredo, nega restrições ao Partido dos Trabalhadores nas articulações
tocadas pela legenda pedetista.
“Em
vários municípios, estaremos juntos. Agora, o PDT, desde 2018, que se apresenta
como alternativa diferenciada do PT, tanto que colocamos a candidatura do Ciro
(Gomes,ex-ministro) e ela representa o que nós queremos de diferente do Brasil,
então a nossa articulação pode desaguar não apenas nas eleições municipais, mas
em 2022”, afirma André Figueiredo.
Já
o deputado federal cearense José Guimarães, vice-presidente nacional do PT,
disse que fazer aliança com DEM está fora do “cardápio” do partido e vai
construir as alianças necessárias para se manter no páreo.
“Recuperar
as velhas oligarquias no Nordeste não faz parte do nosso cardápio. Vamos ter
candidato em Fortaleza, Natal, Aracaju, Maceió, Recife, Salvador, Teresina.
Agora vamos conversar e ver o que é possível. Como diz o Lula (ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva), até para negociar, a aliança tem que ter força”,
pontua.
Apoio
da rede
A
Rede priorizará alianças com o bloco de partidos de centro-esquerda, que vem
sendo articulado em âmbito nacional. Por isso, segundo o secretário de
organização política da legenda no Ceará, Aécio Holanda, a Rede deve apoiar o
PDT na disputa em Fortaleza.
Relação
com o PV
Já
o PV, no Ceará, não deve seguir o grupo governista nas eleições em Fortaleza. O
presidente municipal do partido em Fortaleza, deputado federal Célio Studart,
afirma que vai lançar sua pré-candidatura à Prefeitura.
(Diário do Nordeste)