Cid Gomes se sentiu à vontade com As Cunhãs, o podcast das competentes jornalistas Inês Aparecida, Hébely Rebouças e Kamila Fernandes. Expressou coisas que, sim, tem falado muito, mas à boca miúda e sem o máximo filtro que uma entrevista pode impor a um político.
Provocado pelas perguntas, o senador soltou um pouco a língua sobre o prefeito José Sarto, seu colega de PDT. A seu respeito, disse coisas como “ele tem que trabalhar e parecer que está trabalhando. Ele tem que ser flagrado cinco horas da manhã no cruzamento da José Bastos”.
Para bom entendedor, a frase é uma pesada artilharia áerea sobre o Paço Municipal. Na prática, Cid disse que o pefeito não é afeito ao trabalho. De uma forma mais amena, digamos que Cid quis dizer que o veterano político com mais de três décadas como parlamentar não tem vocação para o Executivo.
Na verdade, este é um pensamento muito comum aos mais atentos. Nem tanto à boca miúda.
O que talvez caiba a Cid, para completar a lingua que se soltou um pouco, é ir mais atrás no tempo. Lá pelos idos de 2020, tempos pandêmicos, quando o então presidente da Assembleia foi imposto candidato a prefeito por Ciro Gomes, no âmbito do PDT. Sim, ouviu-se ponderações, mas apenas discretos e silenciosos muxoxos diante de uma ordem.
Todos que conheciam a trajetória do prefeito entendiam que havia ali pouca vocação para o cargo de gestor. As chances de dar certo eram muito pequenas. A pergunta que muitos faziam à época era a seguinte: Em tanto tempo como parlamentar, incluindo o mandato de vereador e a presidência da Câmara, alguém se lembra de alguma ideia marcante e prsistente que tenha defendido para Fortaleza?
Nada a não ser os lugares comuns. Quase sempre em apoio ao prefeito de plantão.
Aliás, para ser justo com o prefeito Sarto, não proferia nem ideias e nem a expressão do desejo de comandar os destinos administrativos da Capital. O que se sabia na fase anterior à sua escolha como candidato do PDT era que carregava o desejo de apenas aposentar-se ao final do mandato como presidente da Assembleia.
Por óbvio, o ensaio de Cid é uma tendência. Funciona como uma abertura de porteiras. Atentem para a fala permanente do senador: refazer a aliança do PDT com o PT. Pelo menos em Fortaleza, algo que, a preço de hoje, parece improvável. Se Cid já não apoiou o candidato do PDT ao Governo do Ceará nada o impediria de apoiar o de outro partido na disputa de Fortaleza.
(Focus)