Em meio à relação bastante conflagrada com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o governo Lula está recorrendo a um interlocutor improvável na tentativa de ver os assuntos de seu interesse avançarem: o deputado Arthur Lira (PB-AL), ex-presidente da casa e relator da reforma do Imposto de Renda, proposta considerada prioritária para o Palácio do Planalto.
Enquanto digere os movimentos feitos por Motta que derrubaram o decreto que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e até a falta de retorno dos telefonemas feitos ao presidente da Câmara, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem se dedicado a elogios ao antigo ocupante da cadeira.
Haddad tem feito questão de afagar Lira. Ao falar do relatório do deputado, a ser apresentado em breve, o ministro procurou disse a jornalistas que já sabe do conteúdo, mas que não gostaria de tirar de Lira o brilho do anúncio. “Não quero adiantar, pois fica indelicado. Já conheço os termos, mas cabe a ele fazer o anúncio”, disse o ministro, enfatizando que a conversa com o ex-presidente da Câmara se dá em “altíssimo nível”.
Os elogios de Haddad a Arthur Lira contrastam com o estado atual da relação com Hugo Motta. Se Lira é famoso no meio político por ser “cumpridor de acordos”, sejam eles de qualquer natureza, Motta, no episódio do IOF, ganhou a pecha de traidor perante os aliados de Lula, que o acusaram de não ter respeitado o prazo para que o governo apresentasse alternativas de arrecadação diferentes do aumento nas alíquotas do imposto.