O presidente do Supremo Tribunal Federal,
Carlos Ayres Britto, já demonstrou que tem pressa em julgar a Ação Penal 470,
popularmente conhecida como mensalão. Em novembro, ele se aposenta, mas a sorte
lhe sorriu. Quis o destino que ele fosse o presidente da mais alta corte do
País durante o “julgamento do século”, que começou na semana passada e deverá
ser concluído em setembro.
No dia 18
de novembro, quando completar 70 anos, o sergipano Ayres Britto, que é vaidoso
a ponto de declamar seus poemas nos salões do STF, poderá estar no ponto mais
alto de sua popularidade, depois de conduzir um julgamento acompanhado por
milhões de brasileiros.
O que ele
fará com todo esse capital político? Vestirá o pijama e irá passear pela orla
de Aracaju? Certamente, não. Interlocutores do ministro garantem que ele
prepara, em segredo, uma candidatura ao Senado Federal por Sergipe – o que não
seria novidade, uma vez que Ayres Britto já tentou ser deputado federal,
imaginem vocês, pelo PT.
Assim
como ele, outro ministro da corte também flerta com o poder. É Joaquim Barbosa,
que pode vir a ser o primeiro negro a disputar a presidência da República – e já
há até comunidades nas redes sociais, como o Orkut, que defendem que isso
aconteça.
Pouco
antes de ser internado para a retirada de um tumor, Roberto Jefferson disse que
Barbosa age como político e não como juiz, jogando para a torcida. E até
ironizou sua conduta, sugerindo que se filiasse ao PTB, onde seria recebido “de
braços abertos” para concorrer à presidência.
Joaquim
Barbosa não se sente bem no STF. Criticado pelos colegas pela suposta falta de
“urbanidade”, ele já brigou em público com Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski,
Cesar Peluso e, mais recentemente, com Marco Aurélio Mello. Em Brasília e no
Rio de Janeiro, as duas cidades que mais frequenta, ele gosta de ser aplaudido
em restaurantes.
Se dois
dos ministros mais importantes do STF, o presidente da corte e o relator da
Ação Penal 470 podem vir a ser candidatos, fica a dúvida: o julgamento é
técnico ou político?
Não há
dúvida. Vivemos num mundo político, habitado por animais políticos.
(Ricardo Cascais, especial para o Brasil 247)