
“Meus amigos,
Hoje vou fugir ao hábito! Vou me
permitir algo mais direto, com emoção intensa, e sem a força da racionalidade.
Não se trata de apelo ou mesmo de pedido de apoio. É apenas uma reflexão que,
humildemente permito-me expor a vocês. Não se trata de um ato público ou
político. Não exerço, nesse instante que escrevo, a função de médico
ou de secretário. Assim como varios de vocês exerço a função de amigo, pai e
esposo. Assim que gostaria de esclarecer.
O Covid vai deixar marcas indeléveis a
nossa sociedade! Vai expor as feridas como outrora aconteceu em outras
tragédias. Permitam me, a cada palavra que escrevo sinto a marca dos
que se foram, dos meus pais e avós. É como se a saudade apertasse de novo, a
dor e a solidariedade com a nossa história se confundem.
Vai expor a transição de uma era que já
nos obrigava a mudanças no status quo. Na saúde obrigará mudanças na economia,
na distribuição dos recursos públicos e privados. Seremos, finalmente,
obrigados a restabelecer valores ao trabalho humano e a hierarquia de
prioridades, que inequivocamente protege aos mais frágeis. Seremos mais
conscientes do meu, do seu, e daremos possibilidade ao nosso, de forma objetiva
na escolha da aplicação dos recursos e na análise dos modelos econômicos
vigentes e suas contradições. Aproveitaremos a ciência para entender o passado
e guiar o futuro, para nos desprover de preconceitos e falsos testemunhos.
Entenderemos o ato de cuidar e suas relações com a história do sofrimento
humano. Pois, se assim não for, seremos somente expectadores do passar e não
compreender, não entenderemos essa transição, que crise após crise nos é
exposta. Acho que repensaremos o modelo das cidades, não somente por entender,
mas por perceber que essa exclusão geográfica e social terá um preço alto!
Entenderemos que a crise não se deve somente ao Covid. Pois, algumas de nossas
empresas, grandes e pequenas já sofriam com a transição de modelos econômicos e
de desenvolvimento do mundo atual. É bem verdade que o dinheiro muda de mão.
Difícil mesmo é entender que a Amazon sozinha tem mais valor de mercado que
quatro das maiores indústrias automobilísticas. E mais, como usar democracia e
as relações diplomáticas para reduzir as feridas. Vivemos uma guerra, sem
duvida, mas não é só do Covid. A guerra sempre representa a exaustão dos
sistemas e suas adaptações. O sofrimento é óbvio, arrasta-se nas disparidades,
expõe se pelo medo, pelo bloqueio das fronteiras, pela forma como tratamos a
imigração. Não temos outra opção que não seja ceder, quedar ao sacrifício para restabelecer
as vidas, ou até mesmo reduzir essa passagem. Não sei quanto durará. Será maior
que a quarentena e menor que a eternidade. A escolha tem parte nossa, o preço
está posto.
Desculpem me a franqueza. Trata-se
somente de uma forma bem pessoal, que agora me permito.
Não é um desabafo, e a percepção da
angústia do passado e a possibilidade de transformar o futuro .
Muito obrigado
Carlos Roberto Martins Rodrigues
Sobrinho
(Cabeto ou Carroberto, para
os amigos )”