quinta-feira, 11 de abril de 2013

DESFECHO DA MP DOS PORTOS AFETA CHANCES DE LEÔNIDAS CRISTINO NO CEARÁ


A queda de braço entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o ministro da Secretaria dos Portos (SEP), Leônidas Cristino - ambos do PSB - vai além do impasse relativo ao futuro do Porto de Suape, no litoral sul pernambucano, depois da aprovação de nova legislação para o setor. É parte de uma celeuma partidária que envolve a possível candidatura de Campos à Presidência da República em 2014 e cuja definição será decisiva na sucessão do governador Cid Gomes (PSB) no Ceará.
O grupo político dos irmãos Ciro e Cid Gomes, avalistas da indicação de Cristino para a SEP, está indignado com a movimentação de Campos contra a Medida Provisória 595, que trata das novas regras de concessão portuária no país. Pelas novas regras estabelecidas na MP, Estados e municípios hoje gestores de terminais portuários perderão parte de sua autonomia.
Em que pese compreenderem que o governador pernambucano briga pelos interesses de seu Estado ao pedir que Suape fique fora do novo marco regulatório, os cearenses avaliam que Campos "esticou a corda" publicamente para contemplar suas aspirações políticas.
A discussão deu a Campos, argumentam, uma vitrine nacional para se contrapor à presidente Dilma Rousseff, sem no entanto precisar romper com o governo agora. Desde que o Executivo enviou ao Congresso a MP dos Portos, em dezembro, o governador de Pernambuco é presença constante no noticiário e tem buscado aproximação com políticos ligados à pauta trabalhista, como o deputado Paulinho da Força (PDT-SP), contrários a vários pontos da medida.
O problema é que Cristino, correligionário de Campos, é um dos principais formuladores da MP, cuja aprovação é vista como fundamental para que ele se coloque como candidato viável à sucessão de Cid no Ceará.
Além disso, uma candidatura de Campos ao Planalto por si só embola o xadrez da sucessão cearense. Como o PSB local teria de apoiá-lo, o PT buscaria outro palanque para a presidente Dilma, que deve se lançar à reeleição. Nesse cenário, o senador Eunício Oliveira (PMDB), hoje aliado do PSB do Ceará, poderia romper para ser candidato ao governo e angariar o apoio petista, em uma chapa forte o bastante para atrapalhar os planos do bem avaliado Cid de fazer seu sucessor.
"Leônidas Cristino precisa decidir: ele é Eduardo ou Dilma?", indaga sem rodeios o deputado federal Gonzaga Patriota (PSB-PE), defensor de primeira hora da candidatura de Eduardo Campos. Ele nega que o governador de Pernambuco alimente a discussão com vistas a lucrar politicamente, mas garante que ele e a bancada pernambucana irão às últimas consequências tirar Suape da MP. "A questão do porto está acima de qualquer candidatura, inclusive de Cristino. Querem privatizar os portos de maneira criminosa e vamos lutar no Congresso até o fim", diz o deputado.
A mudança nas regras de concessão não afetam o Ceará de Cristino e Cid, já que o terminal portuário do Pecém está fora do alcance da MP. Em dezembro de 1995, por meio de decreto da Assembleia Legislativa do Ceará sancionada pelo então governador Tasso Jereissati (PSDB), foi criada uma empresa de economia mista que recebeu a concessão para a exploração portuária, funcionando como um porto privativo.
(Valor Econômico/Vandson Lima | De São Paulo)