domingo, 14 de abril de 2013

O FORRÓ PROMOVIDO POR SENADOR COM DINHEIRO PÚBLICO


Eu tenho dinheiro e faço tudo que quiser/eu gosto da bagaceira, forró, cachaça e mulher. A letra é cantada em ritmo de forró pelo sanfoneiro Leo, de chapéu e botas de vaqueiro. Leo lidera a banda Xenhenhém, uma máquina de produzir shows e vender produtos. Bebe pra dormir/acorda pra beber/o futuro desses caras/é ver a galha crescer. Enquanto Leo canta, Pônei toca triângulo e dança fantasiado de boneca. Seu Madruga toca zabumba com uma cesta de palha na cabeça. No fundo do palco, mais discretos, o baixista Shrek balança as orelhas de ogro, e o baterista “3 em 1” veste um elmo viking. Com letras que falam de bebida, mulheres, dinheiro e – acredite – exames proctológicos, as apresentações da Xenhenhém fazem sucesso no interior do Piauí. Um de seus ofícios é tocar em festivais bancados por prefeituras. O público adora. Os políticos também. O senador Ciro Nogueira, do PP do Piauí, eleito na semana passada presidente nacional do partido, é um dos mais entusiasmados fãs da Xenhenhém. Recentemente, a Controladoria-Geral da União descobriu que políticos como ele se acabam no xote antes mesmo de sair a primeira nota da sanfona de Leo. Dançam agarradinhos ao dinheiro público. A festa começa, como a plateia sempre espera, no Congresso. Em 2010, quando ainda era deputado, Ciro e alguns de seus colegas de bancada do Piauí destinaram suas emendas parlamentares a promover no Estado as festas da Xenhenhém e assemelhadas. Emendas são um instrumento de que os parlamentares dispõem para atender às mais urgentes necessidades de seus constituintes – normalmente por meio de obras, como construção de escolas e hospitais. Ciro e sua turma resolveram gastar esse dinheiro de outro modo. Apresentaram suas emendas ao Ministério do Turismo. A Pasta repassou o dinheiro das emendas a prefeituras piauienses. No papel, o repasse foi feito para “promoção de eventos para divulgação do turismo interno”. O que o “turismo interno” tem a ver com o batuque de Seu Madruga é um mistério que nem Pônei consegue explicar. A CGU detectou todo tipo de irregularidade nas festanças: ausência de licitação, conluio entre empresas, superfaturamento na contratação das bandas – e, por fim, ausência de comprovação de que alguns dos “eventos” de fato existiram. (Revista Epoca)