O fim das
alianças entre partidos nas eleições proporcionais está exigindo das lideranças
partidárias um esforço matemático na hora de montar a chapa de candidatos a
vereador, principalmente, em Fortaleza, onde a disputa é mais acirrada. Como as
siglas vão ter que contar somente com a votação obtida por elas, muitas estão
estabelecendo perspectivas máximas e mínimas de voto para quem quiser
concorrer.
Essas
exigências não são à toa. Elas ocorrem, porque os partidos terão que concorrer
às eleições para vereador sem a ajuda de outros partidos, e esse será um
desafio maior ainda para os nanicos. Antes, com as coligações, os partidos
pequenos tinham mais chances de eleger seus candidatos, porque eram
"puxados" por outros de partidos maiores. A regra é novidade em 2020.
Estratégias
A partir
de agora, além de atingir o quociente eleitoral (ver infográfico), os
candidatos terão que alcançar, individualmente, pelo menos, 10% desse quociente
para poder ocupar a vaga de vereador.
As novas
regras fazem com que os partidos, em geral, busquem candidatos competitivos.
Nesse jogo matemático, as legendas de pequeno, médio e grande porte estão
estabelecendo um "teto" ou um "piso" de votos para os seus
quadros. A articulação busca principalmente um equilíbrio entre aqueles que têm
mandato e, naturalmente, largam em vantagem, e os que não têm.
Por isso,
muitos vereadores de Fortaleza que devem tentar a reeleição estão conversando
com diferentes partidos, dos pequenos aos grandes, para saber onde eles têm
mais chances de obter sucesso. No Avante, um partido nanico, que não tem
representante na Câmara Municipal, por exemplo, o presidente estadual, Cabo
Sabino, disse que não aceita ninguém com mais de 3.500 votos.
"O
partido que não tem vereador de mandato estabelece um teto para chamar
candidatos. Senão ele só vai servir de 'bucha' para quem tem mandato. Nossa
estratégia é colocar 65 candidatos e chegar a três vereadores sem precisar de
sobra", afirma.
Cálculos
Os
partidos fazem esses cálculos baseados na estimativa de votos dos seus
pré-candidatos e nos votos conquistados pelos que concorreram na última
eleição. Para isso, eles precisam ter uma ideia de quanto será o quociente
eleitoral deste ano, que eles calculam também baseado na Eleição de 2016. Para
2020, os partidos preveem um quociente entre 25 e 30 mil votos.
O PP, que
tem um vereador em Fortaleza, ainda avalia as condições nas quais o partido
deve disputar a eleição. A legenda, segundo o presidente estadual, deputado
federal Antônio José Albuquerque, está sendo procurada por vereadores com
mandato e ele ainda não sabe se pretende formar uma chapa com candidatos de
alto potencial de votos.
"A
gente tem vários pré-candidatos que não têm mandato e estamos conversando com
alguns que têm. Estamos analisando se vamos ter candidato de muito voto ou de
médio voto, que não tenham votação expressiva; se devemos ter três vereadores
de mandato ou se vamos fazer chapa com vereadores que não têm", diz
Albuquerque.
Já no
PSB, a estratégia é lançar a candidatura de ex-vereadores e suplentes, que não
conseguiram ser reeleitos. O presidente do partido no Estado, deputado federal
Denis Bezerra, diz que já filiou quase 20 pré-candidatos, entre
ex-parlamentares e suplentes, e espera atrair outros na janela partidária -
período em que os vereadores poderão trocar de sigla sem o risco de perder o
mandato - a partir de março.
"O
teto com que estamos trabalhando é entre 5 mil e 5.500 votos. Toda semana, a
gente tem novas conversas e adesões. Agora, estabelecemos alguns critérios. Foi
formada uma comissão para avaliar cada uma das filiações que podem vir ao
PSB", pondera.
O PSDB
tem apenas um vereador na Câmara Municipal de Fortaleza e já desenha um perfil.
"É um exercício de muita paciência e cautela. A gente está trabalhando no
sentido de (atrair) pessoas que tenham uma capilaridade em algum bairro e que
possam ter 4.500 votos (em média), diz.
Pontes
frisa ainda que a sigla analisa o perfil dos pré-candidatos que "se
encaixam nas ideias" do PSDB. Ele calcula que o partido pode eleger até
três vereadores em Fortaleza. Já em partidos maiores como o PDT, os candidatos
deverão ter uma média alta de votos.
Com o
objetivo de fazer uma bancada entre 11 e 14 vereadores, o presidente licenciado
da legenda, André Figueiredo, explica que os vereadores devem ter um
"piso" de votos. "Hoje, a gente trabalha em torno de 8 mil e
7.500 votos para o vereador conseguir ser eleito pelo PDT", afirma.
Apesar de
o número ser alto, principalmente para aqueles que não estão no exercício do
mandato, ele pontua o que considera "atrativos". "Como vamos ter
um grande número de eleitos, a expectativa é que isso seja um atrativo porque
nós teremos, talvez, vereadores que sejam candidatos a deputados em 2022 ou que
vão assumir secretarias, caso a gente eleja o sucessor de Roberto
Cláudio", projeta.
Sem
quantidades
Enquanto
isso, no Pros, que conta com três vereadores em Fortaleza, o deputado federal
Capitão Wagner, presidente da legenda, afirma que não está trabalhando com
quantidade mínima nem máxima de votos, mas com a avaliação do "potencial
de votos". "Têm pré-candidatos que nunca foram candidatos, mas têm
potencial bacana (de votos), por conta da atuação dele na área da saúde, da
educação". Wagner quer aumentar para seis o número de vereadores na bancada
em Fortaleza.
O
presidente do PT no Ceará, Antônio Conin, também diz que o partido não faz
exigências de votos para a chapa de vereadores na Capital. Ele aposta que, além
dos votos dados para os candidatos, o partido vai se fortalecer com os votos dados
para a legenda.
"A
gente não fez cálculo de piso, de teto. O nosso perfil é mais político do que
mesmo de critérios eleitorais, o que não significa dizer que (os
pré-candidatos) não tenham densidade eleitoral. A chapa do PT tem candidatos de
vários movimentos sociais, que têm relação com a luta popular na cidade",
afirma Conin.
(Diário do Nordeste)